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Sábado, Outubro 12, 2024

Rui Silva: fenómeno de Guimarães que pôs Portugal em Tóquio

No que considera ter sido uma convergência de forças terrestres e divinas, Rui Silva, o fenómeno do andebol, natural de Guimarães, apurou a Selecção Nacional para os Jogos Olímpicos de Tóquio.


Nos segundos derradeiros, sem saber bem como a bola lhe surge nas mãos, o atleta, usa o braço direito, o mesmo onde tem tatuada a figura, imponente, de Quintana, e remata. O golo, mais um do que a Selecção francesa, permite a Portugal uma conquista inédita. Não fora já feito que baste, o falecimento, há cerca de um mês, do guardião da baliza do Porto e de todos os portugueses, deu um toque de divino à conquista lusa.

Num jogo em que Portugal chegou a estar a perder por uma diferença de seis bolas, a vitória, histórica, e até mágica, ficará guardada na gaveta da memória, algures entre a alegria, o orgulho e os pós de perlimpimpim.

“Foi uma força lá de cima, um trabalho de equipa, sinto como se o Quintana tivesse rematado comigo…”

Rui Silva, de Guimarães, nem consegue, com clareza, descrever o momento. Faltam palavras ao fenómeno para contar o próprio fenómeno que protagonizou, “nem sei como a bola me veio ter às mãos. É tão pouco tempo que nem conseguimos discernir, foi uma força lá de cima, um trabalho de equipa, sinto como se o Quintana tivesse rematado comigo”, admite.

© Federação de Andebol de Portugal

O pai do atleta faleceu há seis anos. É tendência do Homem, quando posto à prova, questionar a fé. Rui não foi excepção, mas “em momentos como o que vivi, parece que a própria fé se nos coloca como uma resposta, a provar que existe qualquer coisa”, acrescenta.

Alfredo Quintana, luso cubano, de 32 anos faleceu há um mês, depois de uma paragem cardiorrespiratória no Dragão Arena quando se preparava para iniciar um treino. Estabilizado, mas com um prognóstico muito reservado, não resistiu ao fim de quatro dias de internamento no hospital de S. João. “Foi o pior momento da minha carreira”, reconhece o vimaranense. “No início não tivemos noção da gravidade, fomos apanhados desprevenidos e nos dias que se seguiram, apesar do medo, também houve sempre esperança”.

Kingtana, o monstro das redes do Porto, a representar a Selecção das Quinas desde 2014 e por quem cumpriu 74 jogos, era próximo de Rui Silva. Era, aliás, próximo de quem se cruzava porque emanava luz e boa disposição, “o tipo de pessoa que conheces e queres levar pela vida fora”.

Rui e Alfredo Quintana conheceram-se no tempo em que o atleta, natural de Guimarães, representava o Sporting. Reforçaram a amizade ao serviço do Porto e a relação de ambos ia para além do rectângulo de jogo, “conheci-a o homem, para lá do atleta, ele esteve no meu casamento e tínhamos uma relação familiar. Era uma pessoa que queria levar comigo para o resto da vida”, lamenta. Os dias seguintes foram duros. Ainda são. O vazio do gigante é pungente. “Vai ser sempre doloroso, mas habituámo-nos a tudo e vamos aprender a lidar com esta ausência”, refere Rui Silva.

A caminho do Japão

“Vamos continuar a sonhar que podemos ser grandes”

© Federação de Andebol de Portugal

A Selecção Nacional de Andebol vai estar, pela primeira vez, nos Jogos Olímpicos. Quintana vai com eles, como de resto, menciona o slogan, “Por Portugal e por Ti”, usado pela equipa das quinas após a sua morte.

“Se estivermos unidos no mesmo espírito e com a mesma vontade podemos vencer qualquer adversário…”

Rui garante que não se limitarão a marcar presença, “vamos continuar a sonhar que podemos ser grandes e se estivermos unidos no mesmo espírito e com a mesma vontade podemos vencer qualquer adversário”.

Rui Silva que só queria jogar no Desportivo Francisco de Holanda com o irmão mais velho, Nuno, chegou à equipa sénior do clube de Guimarães com 15 anos. O Xico Andebol haveria de alcançar a 1ª divisão e ganhar uma Taça de Portugal. Rui, o homem de quem se fala, saiu da cidade-berço com 17 anos para representar o Sporting.

Actualmente, joga no Porto, mas tem residência em Guimarães, “cheguei a viver lá, mas é aqui que me sinto confortável, sou agarrado à terra e prefiro estar perto da família”, justifica o central que há dois anos retomou a licenciatura em Gestão de Marketing para quando o andebol faltar ter um plano B.

© 2021 Guimarães, agora!


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