Desfile sempre espontâneo
Texto de: José Eduardo Guimarães
A arruada ou o desfile do Pinheiro, continua como o número das Nicolinas mais arrebatador. Já ninguém foge da chuva, do frio ou se importa com o mau tempo, porque a vontade de participar no Pinheiro vence todos os obstáculos.
São dezenas e dezenas de bombos e caixas, de velhos e novos nicolinos, e de muitos que o gostavam de o ser, que desfilam desde o Cano até ao largo do Campo da Feira, engrossando a “malta” que vai com a mesma fé e devoção nicolinas, até ao limite das suas forças, para ver o Pinheiro erguer-se altaneiro, dando o mote inicial às festas dos estudantes.
Para muitos, a noite do Pinheiro tornou-se numa devoção, na qual querem participar. Há pressa em rever amigos, sobretudo quando – os da escola e da juventude – se dispersam pelo país ou pelo estrangeiro – já mais velhos e com modos de vida e profissões que os tirou do seu cantinho natal. Nesse caso, a noite do Pinheiro é uma noite de saudade e de recordação, que os faz recuar no tempo, ano a após ano, mesmo sabendo que o infortúnio da vida, vai levando os amigos para a eternidade. É um regresso ao passado, que desejam repetir para todo o sempre.
A noite, para muitos desses “românticos” das Nicolinas, a noite começa já de tarde, quando se vestem a preceito e antecipam encontros de amigos, antes de se agruparem para o tradicional jantar. Na noite do Pinheiro, nos restaurantes mais tradicionais, quase se não serve, nem mais do que batatas rugidas, com rojões de porco, grelos, farinheira, iscas de fígado e sangue, no que se identifica e conhece por um bom prato de rojões, quiçá, quem sabe, à moda do Minho.
Ali, no restaurante, ouvem-se os primeiros acordes do hino da amizade, da passada e mantida ao longo do tempo, da mais recente e até da construída nessa noite, porque é na noite do Pinheiro que se fazem amizades que ficam para todo o sempre.
Neste, que bem podia ser o maior jantar de rojões do universo – apesar de se realizar em restaurantes dispersos – nota-se a mesma euforia de vir para a rua rufar a caixa e o tambor e bater no bombo.
© Município de Guimarães
Quase sempre, os velhos nicolinos dão o mote, organizam-se e comem juntos, distribuem-se por dois ou três grupos, tomam a cidade e o caminho até ao Cano, num desfile sem pressas mas com o mesmo fervor e o toque sincronizado, a mostrar aos jovens como ainda há arte e melodia neste simbólico toque que abana as peles do bombo e dos tambores. Como sempre, o desfile do Pinheiro tem mais de espontaneidade do que de organização, é um movimento sem nexo, desregulado, no qual os participantes se vão juntando por impulso.
Vem a hora do desfile… o carro de bois, com o Pinheiro deitado, dá os primeiros sinais de que vai avançar, notando-se o alinhar dos bois para a partida, sempre acidentes. O início, mesmo com chuva, é dado por uma girândola de foguetes. Os estudantes, da comissão, alinham-se nas suas posições; há quem fique a ver, de cada lado da estrada, e o desfile começa sem protocolo algum. Mesmo que se note que há grupos que se perfilam, para se colocarem num lugar sem ordem porque não se sabe nunca, quem vai à frente ou quem vai atrás.
Como o desfile do Pinheiro não é uma procissão, todos se rendem a sua majestade o Pinheiro, o herói daquele ajuntamento de pessoas, e que todos respeitam, mesmo que vá aparecendo deitado, até se erguer, duas, três ou mais horas depois, lá ao lado da igreja de S. Gualter e com o monumento ao Nicolino, concebido por José de Guimarães, à sua direita.
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