O Guimarães Jazz começa, hoje, quando completa três décadas de edições, num percurso que se foi afirmando pelas suas propostas. E escolhas do seu director artístico, Ivo Martins.
Na estreia actuará trio do pianista de ascendência indiana Vijay Iyer, acompanhado por dois excelentes músicos da cena jazzística nova-iorquina: a baixista malaia Linda May Han Oh e o baterista norte-americano Tyshawn Sorey.
“Num programa em que a tónica dominante é, ao contrário do que tem sido a tendência dos últimos quinze anos do festival, a preponderância de músicos com origem fora dos Estados Unidos da América, o contingente norte-americano será representado também pela banda de jazz idiossincrático de Chris Lightcap SuperBigmouth (acompanhado por um grupo de nomes notáveis da música actual como Tony Malaby ou Chris Cheek) e pelo Black Art Jazz Collective, um grupo constituído por instrumentistas de renome, entre eles o saxofonista Wayne Escoffery e o trompetista Jeremy Pelt”– escreve Ivo Martins, no site de A Oficina.
Ivo Martins, tem resistido como director artístico do festival. Há 26 anos que assume a função com reconhecida competência e com a humildade que o distingue. E a quem se deve, também, uma parte importante do sucesso do Guimarães Jazz.
Reconhece que “no âmbito dos concertos de grande perfil apresentar-se-ão também concertos do quarteto do saxofonista porto-riquenho Miguel Zenón, um músico que acompanhou de perto a história do Guimarães Jazz, e dois dos projectos colaborativos do festival: o já tradicional concerto da Big Band da ESMAE, este ano dirigida pelo compositor e arranjador Ryan Cohan, e a nova edição da parceria com a Orquestra de Guimarães, desta vez em conjunto com Niels Klein Trio, dirigido por este talentoso saxofonista da nova geração do jazz alemão”.
“O Guimarães Jazz vive uma era diferente, determinada por uma alteração profunda, embora silenciosa, de paradigma.”
O director artístico do festival lembra que “hoje, passados 30 anos desde a sua fundação, o Guimarães Jazz vive uma era diferente, determinada por uma alteração profunda, embora silenciosa, de paradigma”.
E salienta que “com o passar do tempo, o festival alterou-se, acompanhando o movimento das suas circunstâncias envolventes, e foi sempre enfrentando sem receio o inevitável desfasamento entre realidade e ficção”.
Sublinha ainda que “nestas três décadas de existência fizemos de tudo: pusemos em prática visões utópicas e disruptivas, tendo fracassado e acertado, recuperado e aperfeiçoado algumas delas, sempre guiados por uma ideia de reavivamento do espaço público visto como esfera social e cultural integrada”.
Sobre o posicionamento que o GJazz assumiu no firmamento cultural português, sustenta que “afirmámo-nos essencialmente como uma experiência alargada de divulgação do jazz que se manifesta por opções polivalentes, transgeracionais, complexas e pluridisciplinares, susceptíveis de transpor todas as fronteiras deste género musical”.
O Guimarães Jazz consolida, assim, “a vertente que se tem vindo a acentuar na programação nos últimos anos, relacionada com uma maior atenção a projectos internacionais de menor perfil mediático mas que acrescentam uma dimensão de risco musical e intimidade emocional por vezes difícil de atingir nos concertos que têm lugar no grande auditório”.
📸 Direitos Reservados
“Esse espaço – diz Ivo Martins – será ocupado num primeiro momento pelo WHO Trio, uma formação helvético-americana de avant-jazz que inclui o histórico baterista Gerry Hemingway, e pelo duo do trombonista suíço Samuel Blaser em colaboração o guitarrista francês Marc Ducret, reconhecido pela crítica jazzística como um dos músicos mais influentes do jazz europeu dos últimos trinta anos”.
Nesta linha de irreverência, o Guimarães Jazz de 2021 volta a transformar a sua matriz orientadora. “Este ano, que mais do que nunca se pode qualificar como de transição, o festival volta a apresentar um programa onde se repudiam as uniformidades de grupo, tendo por base um princípio simples de diversidade das expressões artísticas” – esclarece o director artístico.
Destaca a equidade qualitativa e mediática das propostas musicais apresentadas. “A ausência de aquilo que se costuma designar por “grandes figuras” ou “cabeças-de-cartaz” é, no entanto, contrabalançada pela apresentação de um grupo coeso de projectos em que pontificam alguns dos nomes essenciais do jazz global contemporâneo, independentemente do seu estatuto mediático, tais como o pianista Vijay Iyer, o compositor e arranjador Jim McNeely, o guitarrista Marc Ducret, o contrabaixista Chris Lightcap ou o baterista Gerry Hemingway” – justifica.
Sobre as complementaridades que o festival produziu e as parcerias colaborativos que foi capaz de tecer voltam a repetir-se as parcerias com a associação Porta-Jazz (assumida este ano por um quinteto liderado pela performer Inês Malheiro, em colaboração com a artista Carolina Fangueiro) e com o colectivo Sonoscopia (que propõe o duo de improvisação não convencional formado por Henrique Fernandes e Joana Sá).
📸 Direitos Reservados
Uma orquestra volta a encerrar o festival neste caso, caberá à prestigiada Frankfurt Radio Big Band, que regressa a Guimarães para um concerto dirigido pelo reputado director musical e arranjador Jim McNeely e em colaboração com a saxofonista chilena Melissa Aldana, “uma das figuras emergentes do jazz actual”, que terá a responsabilidade de colocar um ponto final num ciclo de trinta anos deste festival, celebrados com “o ecletismo e a diversidade estilística, geracional e geográfica que são, ou pelo menos assim o acreditamos nós, o presente e o futuro desta música”.
O Black Art Jazz Collective, cofundado em 2012 pelo saxofonista Wayne Escoffery, pelo trompetista Jeremy Pelt e pelo baterista Jonathan Blake, credenciados instrumentistas do circuito jazzístico nova-iorquino das últimas duas décadas e cúmplices em colaborações com grandes nomes do jazz como Ron Carter ou Wayne Shorter, enquadra-se no grupo restrito de músicos competentes que trabalham ideias musicais com pertinência e integridade. “Esta banda destaca-se sobretudo pela sobreposição de narrativas musicais e políticas, homenageando através do poder evocativo do jazz não apenas a herança artística mas também o lastro de resistência política inscrito no património genético da música de raiz afro-americana” – sublinha Ivo Martins.
📸 Dirk Ostermeier
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