Uma exposição inédita na Faculdade de Letras do Porto
Dinis Ribeiro foi à Faculdade de Letras expôr o seu último trabalho, a sua criação artística que envolve pedra e ferro, junta formas distintas de superfícies, materiais e conceitos.
A Faculdade de Letras, da Universidade do Porto, viveu um dia diferente, em 17 de Maio, onde Dinis Ribeiro mostrou a sua arte pública, numa exposição que “ilustrou” as comemorações do centenário daquela escola.
Perto do fim de tarde – a exposição estava marcada para as 17 horas – notou-se uma agitação na Faculdade. Várias esculturas de Dinis Ribeiro, espalhavam-se pelo campus, dentro e fora. Na Biblioteca, e após o curador da exposição, Delfim Sousa, justificar o evento, já Ana Maria Pinto, fazia entoar a sua voz, envolvendo os presentes num encontro imaginário com um deus qualquer, empurrados e envolvidos pelos sons que a soprano, acompanhada por um fundo musical de um instrumento inusitado, mas cuja combinação foi perfeita, fazendo lembrar, em parte, os cantos de meditação dos índios aos seus deuses. Foi essa sensação de paz, de silêncio, meditação e evocação do espiritual que Ana Maria Pinto provocou com os seus cânticos e rumores, dentro e fora da Faculdade.
Aliás, esta exposição não seria a mesma coisa se não tivesse esta componente de canto espiritual, bem interpretado, que envolveu os que ali estavam a ver os desenhos de pedra e ferro de Dinis Ribeiro numa combinação perfeita mas improvável e as palavras explicativas de Delfim Sousa, numa harmonia perfeita e num conceito de exposição pouco habitual na nossa terra. Mas ainda assim inovador, desafiador e apelativo porque levou os assistentes a seguirem com prazer cada um dos seis módulos de exposição que foram espalhados em volta do campus universitário, num percurso pedestre, apenas silvado pelo vento.
Delfim Sousa explicou a “Religare” de Dinis Ribeiro, de uma forma absolutamente interessante, não deixando ninguém perder o interesse pelo que ia explicando e conjugando com a arte do escultor de Rendufe. Até a “performance”, de novo, de Ana Maria Pinto, com as suas parceiras, deu um enfoque especial, em cada um dos seis núcleos expositivos, numa trilogia perfeita – a obra, as palavras do curador e o efeito sonoro que tão bem lhe soube imprimir a soprano portuguesa.
Com esta ambiência, foi fácil aos presentes entenderem tudo quanto Dinis Ribeiro quis expressar, exprimir e transmitir nesta exposição de arte pública, e as palavras de Delfim Sousa – o habitual curador das exposições do escultor de Guimarães- foram o complemento eficaz que colou cada módulo da exposição às seis áreas e unidades de conhecimento da história da FLUP: ciência da informação e da comunicação, geografia, línguas, literatura e linguística, história, sociologia e filosofia.
Este fim de tarde, de cultura, de arte e escultura, com música e palavras não podiam ter melhor e maior epílogo com o mini-concerto feito por António Victorino d’Almeida e Ana Maria Pinto, artistas da música, mestres da improviso, que levou ao delírio a plateia de presentes composta por convidados, alunos e professores da faculdade.
Depois, desta exposição Dinis Ribeiro estuda hipóteses de tornar itinerante, noutros locais, incluindo no próprio concelho, ou fazendo com que os seus módulos possam ser admirados se houver algum comprador interessado nestas esculturas.
“Foi um momento diferente” – Fernanda Ribeiro, directora da FLUP
A directora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto não esconde a sua satisfação por 17 de Maio ter sido um dia especial na sua escola.
Como viu a exposição em si e a inauguração em particular?
A exposição é muito original e adapta-se particularmente bem ao nosso espaço exterior. A inauguração correu muito bem, foi muito participada e constituiu um momento diferente no quotidiano da Faculdade de Letras.
Preencheu os objectivos da Faculdade de Letras ao disponibilizar o seu campus para tal?
A exposição integra-se nas comemorações do centenário da Faculdade de Letras, no âmbito das quais estamos a realizar diversas atividades científicas e culturais. Esta exposição tem pleno sentido neste contexto comemorativo.
Tem alguma opinião sobre Dinis Ribeiro e a sua obra?
Não conhecia o escultor Dinis Ribeiro e é a primeira vez que contacto com a sua obra, mas estamos particularmente felizes por poder ter as suas esculturas na Faculdade de Letras, pois são interessantes exemplares de arte urbana.
O que significa esta exposição para a Faculdade de Letras?
Para a Faculdade de Letras é muito importante acolher este tipo de exposições, é uma oportunidade para divulgar a obra dos artistas e estabelece uma relação entre arte e letras, que é algo que consideramos fundamental.
“É um orgulho ver o Dinis na FLUP”
Adelina Pinto
Vereadora da Cultura da CMG
“Gostei muito. Dinis Ribeiro faz sempre exposições sui generis, muito particulares, muito contextualizadas nos espaços, utilizou os jardins da Faculdade de Letras, para fazer uma simbiose com várias disciplinas, conseguindo coser algum pensamento disciplinar.
O curador fez uma apresentação muito interessante, muito reinterpretativa das próprias peças do Dinis. E, por tudo isto a Faculdade de Letras ficou mais enriquecida. Senti que a sua directora e outros responsáveis estavam satisfeitos por terem aberto as suas portas para esta exposição. E para nós é um orgulho que o Dinis – um vimaranense – tenha exposto numa escola com o prestígio da FLUP.
A parte multidisciplinar da exposição com a vertente artística do Dinis e depois com o maestro, com a cantora lírica, e com um coro, a ligação à terra, tudo isso foi muito engrandecedor da própria exposição. E um momento único vivido por todos nós. O modelo de apresentação é o que temos vindo a seguir em Guimarães no CIAJ”.
Já temos cruzado as artes plásticas com a dança e música, é uma outra forma de ver e cruzar as várias artes. Vamos replicar esta exposição em Guimarães?
“Tem de ser bem equacionado tanto mais que as peças foram criadas para um contexto que não o da nossa cidade. E o próprio Dinis não nos questionou sobre essa possibilidade. Se a ela se realizar em Guimarães, temos de a pensar e reorganizar por que sendo muito temática foi concebida numa lógica que não faz sentido em Guimarães. Não há dúvidas de que tem peças magnificas que podiam ser expostas em qualquer sítio, e podem ser reinterpretadas num espaço adequado, porventura público, como o jardim do Palácio Vila Flor”.
“Sou um admirador do Dinis” – Presidente da Junta de Atães/Rendufe
“Pessoalmente sou um admirador do Dinis Ribeiro, enquanto presidente da Junta é um orgulho para a freguesia ter um artista tão especial” – sustenta Patrício Araújo, presidente da união de freguesias Atães/Rendufe.
O autarca também foi convidado a estar na Faculdade de Letras da UP por considerar que Dinis Ribeiro “engrandece o nome da terra e de Guimarães, tem já um valor artístico reconhecimento por muitos, como o provam as várias exposições que tem feito, na Assembleia da República, no Parlamento Europeu e mesmo em Guimarães”.
Sobre o tipo de trabalhos que expõe, Patrício Ribeiro considera que “sou admirador das suas obras e criações de escultura urbana, que se adaptam ao espaço público”, regozijando-se por Dinis Ribeiro estar a ser bem acompanhado, mesmo pelo curador das suas exposições Delfim Sousa.
Já quanto ao facto de Dinis Ribeiro em cada exposição ter a companhia do maestro e pianista Vitorino D’Almeida, justifica que “é uma mais valia que torna as exposições, um momento cultural mais vivo e mais apetecível. Esta exposição vai ficar na minha memória”.
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