Não necessitamos explorar as leis da proxémia, e das bolhas pessoais ou sociais, de Edward T. Hall, para tomar consciência da difícil convivência das pessoas, entre si, e delas com as máquinas circulantes no meio urbano; a eminente falta de espaço, de ar, de água e demais recursos nas hiperconcentrações urbanas, não perspectiva nada de positivo quando cerca de 7 mil milhões de pessoas viverem em cidades em 2050…
Consciente desta problemática, em Abril de 2003 em Bruxelas (e posteriormente em Bruges, Estocolmo e Oslo), 75 Urbanistas e Arquitectos da Europa, e Estados Unidos, criaram um movimento urbano pan-europeu, com repercussões similares nos EUA : o C.E.U., Council for European Urbanism, cujo fundamento essencial é o bem-estar da população pela promoção de cidades, vilas e aldeias em territórios mais humanizados, face a uma desequilibrada ocupação/exploração do espaço com os óbvios prejuízos ambientais, económicos, sociais e culturais decorrentes. A Europa parece olhar com igual preocupação a resolução dos problemas na cidade, na periferia limítrofe, em aglomerados mais ou menos históricos, mais ou menos imediatos; hoje, com os constantes movimentos pendulares casa/escola/trabalho, clama-se por uma visão holística do território e das conjunções possíveis para a despressurização da vida citadina; o subúrbio e as vilas, mais que meros dormitórios, surgem como elemento de equilíbrio intermédio, obrigatoriamente qualificado e qualificador, entre cidade e campo, ajudando à manutenção e progresso de vida dos cidadãos num território simultaneamente concentrado e disperso.
Nesta zona geográfica em que nos movimentamos – de sistemas urbanos, periurbanos, vilas ou campo mesclado agro-industrial – torna-se difícil perceber um contorno, uma forma definida, nas concentrações humanas; muita tinta já correu sobre estes assuntos findando quase sempre a discussão sobre algo fundamental para a consolidação do espaço vital – a necessidade de consolidação de todo um território pela valorização do Património Natural, Arquitectónico e Humano intrínsecos; pela preservação dos aquíferos, florestas, arquitecturas, colectividades, tradições, estórias e vocações locais até há pouco subvalorizadas. Este parece ser o segredo para uma maior coesão social reconhecendo definitivamente o papel valioso da paisagem, das diferentes escalas e das personalidades, mais ou menos anónimas, que nos legaram vilas e lugares, termas, igrejas, fábricas, casas simples e senhoriais, conjuntos rurais, caminhos e veredas que tanto irrigaram o imaginário de Camilo, Namora ou Agustina. Este mundo, onde ainda há espaço, pode e deve ser reavivado para o século XXI. É nele que queremos habitar, trabalhar, estudar…e respirar! Há todo uma infinidade de lugares e modos de vida a (re)descobrir antes da colonização de Marte, antes de ser irrevogável a certidão de óbito das cidades, dos territórios e, sobretudo deste planeta que devemos acarinhar com os pés em terra firme.
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