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Guimarães
Sexta-feira, Novembro 22, 2024
Filipe Fontes
Filipe Fontes
Nasceu numa cidade pequena (S. João da Madeira, 1971), forma-se na cidade grande (FAUP, Porto, 1989-1995), exerce fugazmente a prática profissional liberal na cidade explodida (área metropolitana do Porto, Matosinhos, 1995-1996) e há muito trabalha sobre uma cidade média e o urbano sem limites (Guimarães e Vale do Ave, 1996-2018). Concilia a sua prática profissional no departamento de urbanismo do Município de Guimarães (atravessando todas as suas áreas – gestão urbanística, projecto e planeamento urbano) com formação académica complementar (pós graduação em cidades e desenvolvimento regional), voluntariado (pastoral prisional da diocese de Braga), escrita regular sobre questões da cidade e do território (nomeadamente em meios de comunicação social, Público e Correio do Minho) ou outras formas literárias (autor dos livros Sr. Jota e Filicidade, escritos sobre a cidade), coleccionismo e participação pública na convicção de que tudo conta, e o beneficia, enquanto homem de cidade que trabalha sobre a cidade.

O tempo…

Para quem escreve, o tempo é amigo e motivador. Seja tempo lento ou rápido, sôfrego ou turbulento, o tempo é propulsor do desenho das palavras feito por mão comandada pelo nosso pensamento e emoção. Por vezes, parece em falta, outras vezes em excesso, nunca indiferente. Há quem diga que é o grande amigo da “folha branca” na angústia que invade quem escreve. Acredito que seja parte do seu antídoto.

Para quem lê, o tempo é, tantas vezes, um drama. Ora reduzido para ler tanto de bom que há para ler; ora culpabilizante quando o desperdiçamos com palavras articuladas de forma inconsequente ou inútil; ora maturado quando nos põe a pensar “noite fora”. Há quem chame “motor do conhecimento”. Há quem não passe sem ele no lazer. Nunca é indiferente.

Para quem desenha, o tempo é indispensável em função da velocidade do traço, da ambição da imagem final, da natureza do seu rigor e geometria.

Para quem fala, o tempo ganha dimensão em função do que se deseja transmitir, do tamanho e da extensão do discurso. E da disponibilidade de quem ouve.

Existe ainda o tempo calculado para quem prevarica, o tempo infeliz para quem erra, o tempo emotivo para quem festeja. Mas nunca, “sempre” nunca, indiferente.

Para a cidade, o tempo é essencial e intrínseco à sua natureza, vida e história. Não há cidade sem tempo. Há sempre um tempo próprio para cada cidade.

Intervir na cidade nunca é inócuo e não pode ser indiferente, à sua história e dia anterior, como também não deverá ser limitado no seu futuro e deverá alumiar e conduzir em direcção ao dia seguinte.

Intervir na cidade deixa rasto, nunca sendo independente do que se construiu e decidiu, marca e transforma para o tempo que virá.

Intervir na cidade é variável na sua visibilidade, podendo significar projectar e construir, decidir e estudar…

Intervir na cidade é variável na sua visibilidade, podendo significar projectar e construir, decidir e estudar, negociar e concertar. Intervir na cidade é uma surpresa, sendo sempre insuficiente a previsão, a antecipação e o planeamento. E também é esperança, descobrindo novas formas de abordagem e de relação, de ver e sentir.

Intervir na cidade significa tempo. Tempo que nos qualifica ou prejudica, nos projecta ou condiciona. Tempo que nunca é indiferente.

Reflectir sobre este tempo, a que podemos chamar urbano, sobre este modo de “ser e estar” que deixa rasto e diferença, que (tantas vezes e tanto) desvalorizamos e relativizamos o seu poder de persuasão e consolidação, procuraremos “falar e reflectir” neste espaço de escrita que agora se inicia e se preenche.

Como tal, temas feitos de mobilidade e habitação, gestão urbanística e licenciamento, planeamento e estratégia, construção e cultura, demografia e ambiente, e tantos outros, serão presença neste mesmo espaço de escrita. Assim haja tempo para o preencher com palavras certas. Sobretudo, assim haja tempo interessado para o ler, criticar, aceitar e, no fim, ficar melhor. Afinal, o que sempre esperamos de uma cidade, recordando (por analogia) que “a cidade tem muitos defeitos mas ainda não se descobriu e construiu nada melhor!”

(texto escrito ao abrigo do anterior acordo ortográfico)

© 2020 Guimarães, agora!

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