O empate do Vitória com o Rio Ave é um resultado positivo mesmo que não satisfaça os adeptos mais exigentes do Vitória, e foi um sinal de evolução da equipa.
O Vitória como obra (futebolística) de Tiago Mendes, é recente e não concluída. Nos dois capítulos já apresentados, lidos por uma infinidade de vitorianos, nota-se que há interpretações muito diferentes, naturais, sustentadas e algumas que verberam esta narrativa, diferente da que entendem como sua, sem o enredo e os protagonistas escolhidos pelo treinador.
Com o Rio Ave, o treinador apresentou os argumentos de uma equipa robusta, mais igual ao adversário (com estatuto europeu), resguardando a sua zona defensiva. O Vitória como que jogou à defesa até à entrada da área vilacondense. E com as armas que dispunha, jogou ao ataque já no último reduto do Rio Ave, onde denotou mais fragilidades.
Se é certo que Tiago é credor de compreensão e do tempo que lhe falta para consumar as suas ideias – ele é o treinador e tem de saber o que quer – a verdade, também, é que tem de explicar, e justificar, melhor as suas opções, o seu sistema de jogo, para que não perca o apoio dos adeptos, nem a expectativa que gerou com a sua contratação, mesmo tratando-se de um treinador sem provas dadas, mas que entrou com um capital de simpatia muito grande, no Vitória.
Ficou claro que a ambição de não perder foi cumprida, que a equipa com outras peças não foi tão macia, nem tão ingénua. Afinal, o Rio Ave não é uma equipa qualquer, nem o Vitória é, ainda a equipa que todos os vitorianos desejam. Mas faltou-lhe a ambição de ser letal quando o podia ser, de aproveitar a magia dos cruzamentos de Quaresma, o que faz com que muitos adeptos reclamem a presença na área de Bruno Duarte – o único que eles vêm como capaz de concretizar a produtividade do jogador que completou perto do dia de jogo 37 anos. E que aguentou 81’ dentro do campo, em bom nível.
Mesmo não agradando a alguns adeptos insatisfeitos – que entendem que o Vitória deve ganhar sempre, seja qual for o adversário – Tiago satisfez os que gostam que a equipa jogue sempre ao ataque: escolheu o melhor onze possível, com os jogadores que dão nas vistas, que são os melhores nas suas posições. É claro que houve alguns equívocos, de jogar com uma dupla de alas, um mais aberto e junto à linha e um mais interior. Este sistema táctico povoou o meio-campo, onde não abundou criatividade e espontaneidade quanto baste e que se justificaria dada a qualidade dos jogadores. E mostrou que a entrada de Bruno Duarte, pode dar um outro enquadramento e soluções de concretização no ataque.
A “pressa” que os adeptos têm de ver o Vitória ganhar é inimiga do “tempo” que o treinador reclama para que os jogadores se compreendam melhor e encaixem no seu sistema táctico e possa emergir com um colectivo mais eficaz, mais produtivo, mais organizado e mais atacante. É isso que o treinador tem de definir e não os adeptos que julgando ser treinadores insistem em dar ordens para dentro do campo, querendo impor, no futebol, a velha relação entre patrão e empregado.
Curiosidades:
- Com o Rio Ave a equipa teve menos remates de meia-distância do que com o Belenenses, o que poderia ser um factor diferenciador. Agu, aos 15’, deu o exemplo que não foi mais seguido.
- Não utilizou os passes em profundidade que também podiam criar novas oportunidades de jogo perigoso, dado o povoamento do meio campo pelas duas equipas.
- Varela continua a ser um guarda-redes seguro e com intervenções de risco.
- Sílvio deu vida à ala esquerda da equipa quer em termos ofensivos quer defensivos.
- A dupla Jorge Fernandes/Suliman teve um bom teste para se afirmar no futuro.
- Tiago “pôs toda a carne no assador”, na terminologia de Quinito, no onze que escolheu: Manteve Varela na baliza, apostou num quarteto defensivo mais consistente com Sacko, na direita, Sílvio na esquerda, e com os centrais Jorge Fernandes e Suliman; o meio campo juntou André André, Mikel Agu no centro com a ajuda de Poha e Janvier mais à frente; e Edwards e Quaresma nas alas. Foi uma opção de muitas outras.
- No único contra-ataque de jeito, Quaresma foi à frente obrigar a um penálti não assinalado porque se encontrava em fora de jogo no início da jogada.
- Palmas para o desempenho da equipa nos últimos minutos da partida, mesmo com a entrada de Rochinha e Bruno Duarte – que os adeptos desejam ver jogar com Quaresma, de início.
- O Vitória foi uma equipa mais guerreira mas foi impotente no ataque.
© Vitória SC
Tiago: “Empate é penalizador”
O treinador do Vitória, defendeu que “o empate é penalizador”, face ao desempenho da equipa. Na defesa da sua verdade, justificou que “criamos mais situações de perigo e fizemos mais remates dentro da área do Rio Ave”.
Sobre o “onze” selecionado para começar a partida, explicou que “as mexidas, são proporcionadas por ter um plantel grande”, o que dá sempre para escolher os melhores. Justificou a ausência de um ponta de lança na equipa, como “a melhor maneira de poder surpreender e controlar o Rio Ave”, terminando: “estou orgulhoso dos meus jogadores, este é o caminho”.
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