Os defeitos nas eleições para a AF Braga

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Há uma névoa política – e partidária – em torno da eleição dos órgãos sociais da AF Braga, com várias dimensões. A primeira dá a entender de que houve a convocação de pessoal da política activa para funções meramente administrativas e de gestão do futebol regional. O facto de uma das listas propor para presidente da associação um deputado do PS em funções já é um mau sinal. Depois as práticas da campanha e de angariação de votantes dão a entender hábitos e tácticas do vale tudo, de promessas mirabolantes, quando está apenas em causa a defesa da força do futebol regional e o papel de uma associação no futebol nacional como teve em tempos, com dirigentes de qualidade como Gil Mesquita, Fernando Roriz, Renato Feio e outros em que os clubes estavam sempre primeiro e à frente de todos os interesses.

Com a pessoalização e personalização do presidente como órgão e como a figura da AF Braga, a sua profissionalização (pode ganhar pelo exercício da função até quatro salários mínimos nacionais), os clubes parece outorgarem a sua força a uma pessoa, desperdiçando o poder da associação.

O Vitória – que em tempos esteve na ribalta da liderança da AF Braga em termos nacionais – desde há alguns anos que desvalorizou a representação neste organismo. E abdicou de ter dirigentes que poderia formar para os novos desafios. Veja-se que Miguel Azevedo – um dos candidatos – foi “empurrado” para dirigente pela influência do então presidente Júlio Mendes. E por aí se manteve zelando mais o seu posicionamento pessoal do que o do clube.

Os presidentes do Vitória seguintes fizeram o mesmo, não reconhecendo que a AF Braga, a nível nacional, sempre teve um papel relevante na definição do futebol português, a par do Porto, Benfica e Sporting, com alianças quase sempre acertadas na defesa dos seus interesses. E nunca hesitaram em entrar em polémicas se fosse necessário.

Essa visão – da importância da AF Braga – foi sendo perdida porque os presidentes do Vitória nunca gostaram de sombras, mesmo vindas da Avenida João Paulo II, o que deixou órfão o dirigismo local e vimaranense.

Esta descontinuidade da valorização do papel do principal clube de Guimarães na AF Braga tem sido fatal para os interesses do Vitória – clube e SAD – bastas vezes prejudicado por decisões dos órgãos nacionais da Federação – onde Porto, Benfica, Sporting e agora o Braga (recuperou a influência que antes tinha o Vitória) que têm lá sempre quem querem.

“Recorde-se que foi graças a esta influência que o então estádio municipal foi remodelado para o Mundial de Juniores, o complexo desportivo teve apoios da FPF.”

Basta ver de onde e quem são os dirigentes da FPF e da Liga para perceber como o Vitória e a AF Braga foram perdendo poder em relação a outros clubes. Uma realidade assumida por um presidencialismo nefasto à defesa do Vitória no futebol nacional que nem Pimenta Machado dispensou – apesar dos amuos com Gil Mesquita e Fernando Roriz, mais de espectáculo do que reais. Recorde-se que foi graças a esta influência que o então estádio municipal foi remodelado para o Mundial de Juniores, o complexo desportivo teve apoios da FPF – os que na altura estavam regulamentados. E haveria mais exemplos para falar.

É claro que então, o Vitória e os dirigentes que iam para a AF Braga nunca desvalorizaram o voto dos clubes distritais. E com os quais ensaiaram algumas estratégias de cooperação.

Agora, o Vitória – ao que parece padrinho da inclusão de Amadeu Portilha na lista mais “política” que vai, hoje, a votos, tenta recuperar essa tradição, consciente de que terá de fazer uma travessia do deserto para tentar angariar uma quota mínima no poder do futebol nacional. 

O director da Tempo Livre já fez a mesma experiência na Liga quando António Miguel Cardoso o indicou para um mandato que é curto – sem qualquer resultado visível. Ora não é com este “embaixador” especial, temporário ou tarefeiro que o Vitória e a AF Braga emergirão como “influencers” no futebol doméstico.

O Vitória, também, não foi activo nesta escolha, esperando pela decisão de ocupantes de lugares que não emergem directamente dos clubes. Daí, o desfile de vaidades a que se foi assistindo. A submissão a Braga – nas duas listas – é evidente e os destinos do futebol distrital continuarão a ser alimento de “presidentes” com megalomanias e egos enormes que pouco ou nada dão aos clubes com as suas propostas eleitorais. Alguns continuarão a enriquecer os seus currículos podendo gabar-se de terem ocupado mais um lugar nos órgãos do desporto nacional, outros continuarão a exibir MBA’s e outras competências que ultrapassam o senso comum com que deve ser encarado o dirigismo desportivo.

E os clubes até gostam e promovem este exibicionismo cínico de gente que foi parar ao futebol por acaso, aceitando desunir-se quando poderiam fomentar a união de uma associação cuja história fala por si.

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