Uma equipa do Centro de Biologia Molecular e Ambiental (CBMA) da Universidade do Minho descobriu como um fungo se alimenta quando o intestino está fragilizado, o que pode abrir portas para o bloquear e reduzir as infecções.
O estudo foi publicado, na revista ‘mBio’, da Sociedade Americana de Microbiologia, e tem a co-autoria de cientistas das universidades Católica de Lovaina (Bélgica) e de Exeter (Inglaterra). O trabalho foi coordenado por Sandra Paiva e financiado pelo projecto MetaFungal (Fundação para a Ciência e a Tecnologia).
Após o tratamento com antibióticos, muitas bactérias presentes no intestino são eliminadas ou significativamente reduzidas. Mas o fungo Candida albicans, que vive no nosso corpo, possui 10 genes ATO que lhe dão vantagem para a sobrevivência e expansão nesse ambiente desafiante. Ou seja, estes genes ATO permitem ao fungo utilizar um nutriente chamado acetato, muito abundante no intestino, conferindo-lhe vantagem para se multiplicar, colonizar este ambiente e, em alguns casos, causar infecções graves.
“Ao bloquearmos os seus genes ATO, ele já não consegue instalar-se de forma estável no trato gastrointestinal.”
“Mostramos pela primeira vez esta capacidade de adaptação do fungo e, ao bloquearmos os seus genes ATO, ele já não consegue instalar-se de forma estável no trato gastrointestinal, após a perturbação da flora bacteriana”, explica Sandra Paiva, que é também vice-reitora para a Investigação e Inovação e professora do Departamento de Biologia da Escola de Ciências da UMinho. “Ao identificarmos transportadores essenciais à sobrevivência do Candida, abrimos a porta a novas terapias que poderão impedir a colonização fúngica e reduzir o risco de infecções invasivas”, realça.
“É difícil desenvolver medicamentos que sejam eficazes sem causar efeitos tóxicos.”
A pesquisa analisou o trato gastrointestinal (intestino delgado, ceco, cólon) e as fezes de ratinhos tratados com antibióticos. Porém, os investigadores admitem que controlar o Candida no intestino possa vir a ajudar pessoas que ingerem muitos antibióticos, mas também que têm doenças inflamatórias, têm cancro, são imuno-deprimidas ou possuem idade avançada, por exemplo. “As opções de antifúngicos disponíveis são muito limitadas e, como estes fungos são bastante semelhantes às nossas próprias células, é difícil desenvolver medicamentos que sejam eficazes sem causar efeitos tóxicos”, acrescenta Rosana Alves, primeira autora do estudo e investigadora no CBMA.
O artigo publicado, ‘The ATO gene family governs Candida albicans colonization in the dysbiotic gastrointestinal tract’, envolveu ainda da parte da UMinho os investigadores Faezeh Ghasemi, Cláudia Barata Antunes, Vítor Fernandes, Patrícia Ataíde, Alexandra Gomes Gonçalves, Ricardo Duarte, Isabel Soares Silva e Margarida Casal.
As infecções por Candida mais frequentes surgem no sistema digestivo, no sistema respiratório, nos genitais e nas dobras da pele. Em pacientes com imunidade baixa, este fungo pode entrar na corrente sanguínea, infectando órgãos internos e provocando candidíase invasiva, que afecta cerca de 1.5 milhões de doentes por ano, sendo que perto de um milhão (63%) acaba por morrer.
© 2025 Guimarães, agora!
Partilhe a sua opinião nos comentários em baixo!
Siga-nos no Facebook, Twitter e Instagram!
Quer falar connosco? Envie um email para geral@guimaraesagora.pt.


