O Modelo de desenvolvimento e crescimento económico de Portugal está no meu entender errado. O erro deste modelo assenta na focalização no crescimento económico por via da promoção do consumo. É um modelo virado para o curto-médio prazo, em que, teoricamente, o aumento do consumo levará ao crescimento das vendas das empresas, e por esta via a investimento e criação de emprego.
A lógica da economia dinamizada pela procura interna, vulnerável a alterações negativas da conjuntura, como foi o caso da pandemia por Covid-19, e que despreza as exportações, conduz ao desperdício de recursos, limita o potencial de crescimento económico e aumenta a dependência externa. A experiência dos últimos 20 anos não deixa dúvidas a este respeito. Este modelo acentua ainda o desequilíbrio da balança comercial (exportações/ importações), produzindo uma maior dependência externa de divisas (maior endividamento).
Neste modelo, os efeitos no crescimento podem ser imediatos, pois o consumo privado representa grande fatia do PIB, mas a sua sustentabilidade é no mínimo duvidosa.
O modelo de desenvolvimento terá de assentar num processo misto, relevando a base existente de consumo interno, mas priorizando as exportações e o investimento, sobretudo privado. É um processo mais lento, que assenta na ideia de que o desenvolvimento requer o maior aproveitamento de oportunidades de consumo e do mercado no exterior, pelas famílias e pelas empresas.
Este modelo tem uma perspetiva de médio e longo prazo porque baseia o crescimento naqueles dois eixos (exportações e investimento) e não quase de forma exclusiva na procura interna.
Assim é fundamental, que o PRR dê prioridade à indústria exportadora (sobretudo produtos transacionáveis), por forma a melhorar também a nossa balança comercial e desta forma reduzir a dependência externa. Só assim a nossa economia poderá se diversificar, poderá gerar riqueza suficiente para uma redistribuição efetiva e sustentável e desta forma gerar melhores salários e melhores condições sociais.
Portugal tem por isso um enorme desafio e oportunidade pela frente, aproveitando os fundos que iremos receber para implementar, uma efetiva desburocratização do estado, fazer chegar os fundos à economia real e implementar um modelo de desenvolvimento que nos permita convergir com os nossos parceiros europeus.
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