Na reta final do seu mandato, Domingos Bragança decidiu escrever – ou melhor, tentar reescrever – a história dos últimos 12 anos de governação em Guimarães.
Na passada terça-feira, dia 21 de outubro, apresentou no Salão Nobre da Câmara Municipal o livro “Guimarães, Uma História Feita Futuro”. No dia 24, no mesmo palco, lançou “O Plano de Guimarães”, a sua visão para o concelho condensada num PDM… um plano que, ironicamente nunca será aplicado.
Dois livros. Dois atos públicos. Dois gestos políticos calculados.
Não foram gestos inocentes – foram tentativas muito claras de eternizar um legado e de controlar a narrativa do que foram 12 anos no poder. Mas a verdade é que o povo respondeu a essa narrativa no dia 12 de outubro. Não com aplausos. Mas com votos.
Domingos Bragança quer ser recordado como o presidente que “deixou obra”. Mas a história não se escreve só com cerimónias em salões nobres – escreve-se com resultados concretos. Foram anos de estagnação. Foram 12 anos de oportunidades perdidas.
A cidade perdeu dinamismo, perdeu investimento privado e, sobretudo, perdeu pessoas. Enquanto Braga e Famalicão cresceram, Guimarães perdeu influência, atratividade e competitividade. Não foi apenas uma questão de estratégia urbanística ou de mobilidade – foi uma questão de visão. E essa visão nunca passou do papel.
“Não basta dizer que se vai mudar: é preciso fazê-lo, com coragem, com decisões difíceis e com resultados claros.”
O PDM que apresentou como “legado” é, na verdade, o espelho dos problemas que marcaram a sua governação; falta de ambição, excesso de controlo político e incapacidade de preparar Guimarães para os desafios do futuro. Um plano que olhava pelo retrovisor, quando Guimarães precisava de olhar para a frente. Agora, esse plano precisa de ser rasgado e substituído por uma visão verdadeiramente transformadora. O novo executivo tem de provar que a mudança não foi apenas eleitoral – foi estrutural. Não basta dizer que se vai mudar: é preciso fazê-lo, com coragem, com decisões difíceis e com resultados claros.
E há também uma questão ética que não pode ser ignorada: o uso político de recursos públicos para autopromoção e a tentativa de branquear uma governação que os vimaranenses já avaliaram nas urnas. O Salão Nobre não é uma sede de partido. A autarquia não é uma editora pessoal. E os cidadãos não são figurantes num espetáculo de despedida encenada.
Domingos Bragança decidiu lançar dois livros. Mas falta-lhe um: o livro onde estariam explicados os atrasos gritantes nas soluções de mobilidade, a ausência de resposta na habitação acessível, a falta de incentivo ao investimento privado, a degradação dos transportes públicos, a perda de população, a partidarização das empresas municipais e a incapacidade de colocar Guimarães no mapa do século XXI. Um livro onde não haveria narrativas públicas polidas – apenas responsabilidades assumidas.
Esse é o livro que falta.
O livro onde não há fotografias bonitas nem palavras cuidadosamente escolhidas – apenas factos. Factos que pesaram no dia 12 de Outubro.
No dia 25, tomou posse um novo executivo. E é bom que Ricardo Araújo perceba que esta vitória não foi um cheque em branco – foi um ultimato. Os vimaranenses não votaram para manter tudo igual com novas caras: votaram para virar a página. Ou esta oportunidade é agarrada com ambição e coragem, ou será desperdiçada tão depressa quanto foi conquistada. A mudança não se proclama. A mudança faz-se!
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