Rui Vieira de Castro, a caminho de terminar o seu mandato de reitor, falou da Universidade do Minho, na cerimónia de celebração do 51º aniversário. O seu discurso é um balanço seu mandato qual retrato actual da instituição que já ultrapassou o meio século de vida. E de tudo o que foi acrescentado em 2024 que “permitiu capacitar globalmente a instituição, nos seus recursos e nas dimensões da sua actividade, para enfrentar os grandes desafios que tem pela frente”.
Não deixou dúvidas sobre o que é a UMinho, enquanto “instituição enraizada na cultura europeia, na sua história que sedimentou características que foram moldando e moldam ainda hoje a sua identidade”.
Considerou, por isso, que:
- A universidade, instituição de “educação superior”, tem como base a aventura intelectual de alargamento das fronteiras do conhecimento humano;
- Constitui-se como centro de produção de conhecimento, criando e expandindo novos campos de estudo e incorporando as mudanças tecnológicas;
- Através da educação integral das pessoas, da disseminação do conhecimento produzido e da resposta aos desafios societais, a universidade tem efectivo impacto na sociedade.
Também sublinhou que a UMinho:
- Tem uma natureza cosmopolita e internacional, que radica na mobilidade e na diversidade de origem das pessoas que compõem as comunidades académicas;
- Adopta valores éticos e culturais como elementos estruturantes da sua actividade, tornando-os factor de modelação de tendências intelectuais e valores sociais;
- Procura em contínuo a autonomia institucional, o auto-governo e defende a liberdade académica;
- Tem sentido de comunidade, estruturada que é sobre práticas colegiais de colaboração e debate.
Caracterizada, assim, pelo seu reitor, por “estes elementos essenciais do nosso património, que explicam o papel das universidades como centro da vida intelectual das nossas sociedades, assim como o reconhecimento de que são objecto”, Rui Vieira de Castro comparou a UMinho com “a universidade europeia, com todas as suas contradições e tensões, com os seus momentos de luz e de sombra, de farol do conhecimento, por vezes também de subserviência a poderes perversos, conseguiu, no seu conjunto, permanecer como factor de progresso e guardiã de um património cultural inestimável”.
“É este património comum que hoje nos responsabiliza e que devemos assumir como referência quando definimos os nossos projectos educativos, de investigação e inovação, quando projectamos e concretizamos as nossas formas de interacção com a sociedade ou quando procuramos caminhos de desenvolvimento institucional” – acentuou.
E descreveu que “em contínua osmose com o seu contexto, as universidades são efeito do tempo e do espaço em que se inscrevem e, em simultâneo, actuam moldando o seu entorno. Assim, é inevitável que sempre que pensamos a universidade se nos imponha a necessidade de pensar as suas circunstâncias”.
Perante uma plateia notável de entidades – desde o Ministro da Educação, aos presidentes das Câmaras, onde a universidade se localiza, o reitor olhou para o presente e para “a paisagem geo-política contemporânea, cujos elementos definidores são o conflito armado em curso no centro da Europa, a ascensão do populismo e o aumento da polarização política, com a consolidação da extrema-direita em vários países europeus, as mudanças nas relações entre os principais blocos à escala global”.
Lembrou “o problema da segurança que a guerra na Ucrânia e a instabilidade geopolítica global”, trouxeram para “o centro das preocupações dos governos europeus, com a mais que provável deslocação de recursos financeiros de outros sectores para fazer face às necessidades da defesa”.
Por outro lado, identificou a falta de competitividade da economia europeia “como factor primordial do declínio da Europa, presente nos relatórios Letta, Draghi e Heitor”, e como inspiram “a formulação de políticas que elegem a revitalização da economia como objectivo central da União”.
E traçou “o perfil sociológico das nossas sociedades, afectadas pela crise demográfica, cada vez mais complexo, em resultado da coexistência de pessoas com origens nacionais, línguas, culturas, religiões e visões do mundo diferentes, que vivem numa contínua tensão entre a inclusão e o reforço de sentidos identitários”.
“Potenciando desenvolvimentos não antecipados, abrindo possibilidades até há pouco desconhecidas.”
Identificou os avanços rapidíssimos da inteligência artificial que “estão a ter impactos profundos na sociedade, na economia, na educação e na investigação, potenciando desenvolvimentos não antecipados, abrindo possibilidades até há pouco desconhecidas, e gerando novos e grandes desafios nos planos ético e da coesão social”.
São mudanças que “acabam por se reflectir nos quadros legislativos: novas directivas europeias estão a emergir no âmbito da propriedade intelectual, da protecção de dados, das tecnologias ‘dual-use’, da segurança de conhecimento”, e de políticas de emigração que vão-se tornando mais rígidas.
Reconhece que este diagnóstico, trará “um conjunto de efeitos sobre os sistemas de ensino superior, ciência e tecnologia que é possível, com razoável certeza, antecipar, ou que já podemos verificar nos países europeus”.
Entre eles, estão:
- O decréscimo do número de estudantes “regulares” e uma maior procura do ensino superior por novos públicos;
- A ênfase nos campos e orientações de investigação com maior impacto potencial na economia;
- As restrições à cooperação internacional;
- As ameaças à autonomia institucional e à liberdade académica, em resultado de cenários da instabilidade económica e política;
- Riscos de disrupção institucional provocados pelas novas tecnologias;
- A redução do financiamento à investigação e ao ensino superior.
Apesar deste contexto (internacional) adverso, o reitor da UMinho acredita que uma resposta adequada deverá implicar:
- O reforço do papel das universidades nos eco-sistemas regionais;
- O alargamento da colaboração com entidades do sector público e privado, para o desenvolvimento de projectos de investigação e inovação social, económica e cultural;
- A participação no desenho e monitorização das políticas públicas;
- A exploração de novos quadros de internacionalização no contexto europeu, designadamente das alianças europeias de universidades;
- A aposta sistemática na oferta de programas de educação ao longo da vida;
- A preservação do papel dos campi universitários como lugares essenciais de socialização;
- A diversificação das fontes de financiamento;
- A assunção de um papel de consciência crítica das direcções de desenvolvimento das nossas sociedades, a que a universidade não pode ser indiferente.
Naquele que foi o seu último discurso, na cerimónia que marca mais um aniversário da universidade, Rui Vieira de Castro, classificou “o nosso tempo como caracterizado por uma valorização da espuma das coisas mais do que da sua substância, pelo fascínio pelo efémero, pela busca da recompensa imediata, pela valorização da imagem e da auto-representação. Um tempo em que tudo é equivalente, indiferenciado, não hierarquizável” – reconheceu.
Descreveu o etnocentrismo e o individualismo, porventura características permanentes do humano, agora elevados a um patamar diferente, colocando em crise códigos éticos e de conduta que julgámos estabilizados, sistemas de regras que fundam a convivência entre as pessoas, que possibilitam a conversação entre os humanos. Esta representação do contemporâneo que Cristopher Lasch propôs num texto premonitório de 1979, incluía uma referência à perda de perspectiva histórica, do sentido da continuidade histórica, que teria contaminado as sociedades ocidentais, tornando problemática a leitura crítica do passado e o planeamento do futuro.
Na superação deste cenário de profunda crise cultural, as universidades têm um papel indeclinável.
Assim, neste bulício civilizacional e planetário e de enquadramento geo-político, o reitor interroga-se: “está preparada a UMinho para enfrentar os desafios que hoje se colocam ao ensino superior? Como se apresenta hoje a universidade?”
Vai rebuscar a resposta mais detalhada a esta pergunta no texto ‘O ano dos 50 anos da Universidade do Minho’, publicado na revista distribuída neste aniversário, e do qual recupera algumas linhas estruturantes.
Por exemplo, confia seriamente que:
- A UMinho tem um projecto educativo que é claro nas linhas que o balizam e nos modos que o concretizam;
- Há uma oferta educativa diversificada no primeiro ciclo de formação superior;
- Foi feita uma aposta forte na formação pós-graduada – 45% dos nossos estudantes têm cursos de mestrado e doutoramento;
- E há uma oferta estruturada e ampla e adequada de cursos não conferentes de grau;
- As iniciativas orientadas para a inovação pedagógica, estão enquadradas em projectos de âmbito nacional e internacional;
- Há programas institucionais de apoio ao desenvolvimento dos percursos académicos dos estudantes; programas de acolhimento dos novos estudantes; de promoção do sucesso académico e de prevenção do abandono; de apoio aos estudantes com necessidades educativas específicas; de promoção da saúde mental; de capacitação dos estudantes em competências transversais; de promoção da prática desportiva e cultural, em articulação com a AAUMinho; de apoio aos estudantes de doutoramento, através da actividade do Colégio Doutoral da UMinho.
Considera, por fim, que “este projecto educativo traduz-se em benefícios tangíveis para a sociedade: no ano passado graduámos 2.778 licenciados, 2.143 mestres e 257 doutores; tivemos mais de 800 formando envolvidos em cursos não conferentes de grau”.
Neste dicionário de números, o actual reitor justifica que “a geração de conhecimento novo e a sua aplicação constituem uma componente essencial da missão da universidade. A UMinho encontra-se activamente envolvida na profissionalização dos seus investigadores; ao longo de 2024 lançámos 50 concursos de recrutamento, o que duplicará, em 2025, o número de investigadores de carreira” – garante.
A UMinho tinha em execução 494 projectos de investigação, com um volume de financiamento de 183 milhões de euros, no final de 2024; o número de publicações científicas indexadas, de autores afiliados era de 3466.
“Continuámos a consolidar e a alargar o nosso programa de iniciativas no âmbito da ciência aberta” – sustenta com natural orgulho.
Os investigadores da UMinho, desenvolvem uma actividade que se alarga a outras entidades do sistema científico e tecnológico nacional, participando em nove Laboratórios Associados, 13 Laboratórios Colaborativos e nove Centros de Tecnologia e Inovação.
Sobre a recente criação da rede UMinho Innovation Alliance explica que ela “surge como um catalisador estratégico para potenciar a colaboração entre os diferentes actores do eco-sistema de inovação”.
A colaboração com a indústria e o Governo, também mereceu uma referência do reitor, por seu uma prioridade assumida e que fez a UMinho envolver-se em 18 agendas mobilizadoras no âmbito do PRR ao mesmo tempo que continua a sua parceria com a Bosch, “exemplo maior do impacto efectivo que a articulação entre a UMinho e a indústria tem na economia e no emprego qualificado”.
Identificou, também, os sinais de expansão da universidade na região, ao consolidar o seu pólo de investigação e inovação em Vila Nova de Famalicão e os passos dados para a instalação, em Esposende, do Instituto Multidisciplinar de Ciência e Tecnologia Marinha.
“Temos um sistema científico e de inovação qualificado em recursos humanos, responsável por uma muito importante produção científica, organizado em estruturas especializadas e comprometido com a transferência de conhecimento e a valorização económica dos resultados da investigação” – sintetizou.
Sobre a internacionalização da instituição, afirmou que foi seguida uma estratégia consistente, ampliando o seu alcance global que assume o legado da universidade europeia. Lembrou a participação na Arqus – Aliança de Universidades Europeias – hoje “um dos mais importantes eixos de desenvolvimento da estratégia de internacionalização”, motivando um importante número de iniciativas ao nível da mobilidade académica, do desenvolvimento conjunto de graus, da inovação pedagógica e da investigação transnacional.
A outro nível, a participação em redes internacionais, na Associação Europeia de Universidades, no Grupo Tordesilhas, no Compostela Group of Universities e ainda no SG Group of Universities, a UMinho tem incrementado a sua participação. “Um sucesso”, salientou, explicitando a “organização de eventos no âmbito das redes de universidades e números como os que se referem à importância da nossa população de estudantes estrangeiros (11%), bem como às mobilidades realizadas ao longo de 2024, in e out, de estudantes (cerca de 1.000), de docentes e investigadores (cerca de 170), de trabalhadores (cerca de 120)”.
A actividade de promoção e divulgação cultural representa um conjunto de recursos muito relevantes da instituição, em domínios diferenciados, das bibliotecas (Biblioteca Pública de Braga e Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva) aos arquivos (Arquivo Distrital de Braga), dos museus (Museu Nogueira da Silva, Casa-Museu de Monção e Museu Virtual de Lusofonia) ao património (Unidade de Arqueologia e Casa de Sarmento), da promoção da língua portuguesa (Centro de Estudos Lusíadas) e da língua e cultura chinesas (Instituto Confúcio) à literacia digital (Casa do Conhecimento).
A UMinho Editora intensificou a sua política de edições e de alojamento de revistas científicas; a Galeria do Paço consolidou a sua actividade expositiva; a Orquestra da UMinho realizou regularmente concertos. A Rede Casas do Conhecimento teve um papel relevante na valorização e disseminação da cultura e do conhecimento, em articulação com as comunidades locais.
Ou seja, “estão criadas as condições para uma ampla, coerente e regular intervenção no plano cultural”.
Agora, a UMinho tem “continuamente adaptado a sua morfologia, visando reforçar os princípios fundamentais da autonomia e do auto-governo”, finalizando o processo de revisão estatutária lançado em Janeiro de 2023, que reforça os níveis de autonomia e de responsabilidade das unidades orgânicas e possibilita a criação de unidades inter-disciplinares, como modos novos de contribuir para uma mais bem-sucedida concretização da missão e dos objectivos da universidade.
Justifica “as opções tomadas ao nível da elaboração e execução do orçamento da universidade vão neste mesmo sentido; da sua justeza dão testemunho os bons resultados que a universidade obteve em 2024, que conferem à UMinho uma importante almofada financeira que lhe permite encarar com confiança os compromissos assumidos com importantes empreitadas no âmbito do PRR, bem como fazer face a eventuais dificuldades com que venhamos a ser confrontados, por alteração da conjuntura económico-financeira”.
Uma instituição que se constrói no reforço da sua situação financeira e na assumpção permanente da responsabilidade que lhe cabe enquanto instituição pública.
Na sua organização interna, o Portal da Transparência, é o espelho onde estão acessíveis, de forma integrada, instrumentos que promovem a transparência e a prestação de contas por parte da universidade e ajudam a prevenir inconformidades no seu funcionamento. Foi dada continuidade aos trabalhos de desenvolvimento do Portal de Aprendizagens da UMinho, que entrará em operação até ao final do corrente mês.
O Portal de Processos, vai permitir centralizar, gerir e monitorizar os processos administrativos da instituição, foi ainda adjudicado o desenvolvimento de uma Plataforma de Contratação Pública.
A Universidade realizou um forte investimento na modernização da arquitectura e infra-estrutura de segurança informática, com um investimento superior a um milhão de euros, evoluindo para uma versão mais robusta e complexa, ao mesmo tempo que se aumentou a a eficiência e a transparência dos processos administrativos, facilitando a tomada de decisões baseada em dados.
A outro nível, o reitor recorda os investimentos em curso, de cerca de 19 milhões de euros na conservação e melhoria dos edifícios e espaços e à construção de novas infra-estruturas físicas como a Residência de Estudantes de Santa Luzia, em Guimarães, bem como a requalificação do Complexo Pedagógico 1, em Gualtar, e das cantinas de Gualtar e de Azurém. A requalificação de espaços pedagógicos e a recuperação do Edifício do Castelo, em Braga, onde ficará sediado o projecto da Escola de Formação Executiva, da Escola de Economia, Gestão e Ciência Política, do Museu Nogueira da Silva e da Galeria do Paço.
As dimensões nucleares da actividade da universidade requerem a adopção pela comunidade académica de princípios e valores éticos que constarão da nova versão do Código de Ética e Conduta Académica.
“A UMinho tem o desígnio de ser um catalisador do progresso.”
Rui Vieira de Castro, defendeu que “a UMinho tem o desígnio de ser um catalisador do progresso, respondendo aos desafios das transformações sociais, económicas, tecnológicas e culturais do nosso tempo”. E face aos conflitos – nacionalistas, religiosos e ideológicos – que agitam o mundo, destacou a “missão das universidades, que têm na paz, no entendimento mútuo e do desenvolvimento global condições que potenciam aqueles que são os seus propósitos”.
Enfatizou a Estratégia Europeia para as universidades, da Comissão Europeia, que sublinha que “as universidades excelentes e inclusivas são uma condição e um alicerce para sociedades abertas, democráticas, justas e sustentáveis, bem como para o crescimento sustentado, o empreendedorismo e o emprego”.
Espera, por outro lado, que “cada vez mais as universidades actuem como instituições promotoras da cidadania, integrando o envolvimento da comunidade nas suas missões principais, através da colaboração com os governos, as empresas e as organizações do sector social”.
E regista que a UMinho está bem posicionada para alavancar esta estratégia. “Aquilo que nos caracteriza, permitir-nos-á contribuir significativamente para construir respostas aos desafios globais, nacionais e regionais” – assinalou.
Por fim, evidenciou “os objectivos que nos movem: podemos e queremos contribuir para um futuro melhor para todos, para uma sociedade mais justa, para um país mais desenvolvido e democrático, para uma cidadania mais livre e actuante, para uma vida colectiva mais decente, para percursos de vida mais felizes”.
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