No início do presente ano, na generalidade dos nossos pensamentos avizinhava-se um ano promissor em termos das expectativas geradas por cada um de nós, relativamente a projetos profissionais, momentos familiares planeados à muito, férias tranquilas algures, convívios entre amigos e muitas outras situações normais da vida.
O contexto atual que vivemos é tudo menos habitual ou sequer próximo do que alguma vez podíamos imaginar, possivelmente porque só o idealizaríamos em contexto cinematográfico (filme de terror).
Mais do que uma transformação catabólica nas nossas rotinas, fomos confrontados com uma realidade atroz ao sermos limitados a regras (confinamento, utilização de máscara, entre outras), de certa maneira impostas, para minimizar um impacto agressivo consequência de um tal Covid-19.
Mas se observarmos bem a envolvência em torno da nossa existência, verificamos que desde os primórdios da vida, nos encontramos circunscritos a um globo algures no sistema planetário. Ou seja, a nossa liberdade é um pouco subjetiva, porém necessária para sermos emocionalmente estáveis e nos sentirmos realizados.
Discute-se origens do vírus, lançam-se teorias sobre as formas de propagação, especula-se curas miraculosas, mas não se concentram as atenções na verdadeira condição humana por esse mundo fora. Não quero com isto pôr sequer em causa esta pandemia (pois esta é verdadeiramente grave e preocupante a vários níveis e isso é indiscutível), no entanto, as guerras não dão tréguas, a pobreza mundial é crescente, diversas patologias tomam conta da carne humana e a tirania do poder consome a massa cinzenta do homem.
Não deveríamos com tudo isto potenciarmos as nossas relações enquanto seres vivos capazes de se relacionarem na base da entre ajuda? Não deveríamos usar estas adversidades para crescermos enquanto comunidade?
A realidade é uma, por muito que queiramos negar, ninguém consegue algo sozinho e como tal, todos precisamos uns dos outros para coexistir.
Todos nós ansiamos por uma solução imediata deste conflito que não nos dá descanso, mas o primeiro passo devemos ser nós a dá-lo, respeitando-nos mutuamente… Como? Milhares de vezes nos dizem para seguir e respeitar as recomendações das nossas organizações de saúde, todavia quantos continuam no seu egocentrismo de betão?
Estou certo que se agirmos a pensar nas nossas famílias, nos nossos amigos, nos nossos vizinhos, naqueles que não conhecemos, seguramente isto irá melhorar e as nossas vidas seguirão um novo rumo.
Afinal “vivemos todos numa casa comum” e esse espaço único e magnífico que herdamos outrora está a precisar de ser rapidamente modificado, renovado para que amanhã não nos lamentemos mais das nossas ações individuais.
Saibamos atuar em liberdade, mas com um olhar abrangente.
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