Há momentos que conduzem o pensamento para temas concretos e que nos ajudam a resolver o drama da “folha branca”.
No presente, emerge o tempo de novo processo eleitoral autárquico, tempo de uma multiplicidade de eventos, escolhas, promessas e afins que geram em nós diferentes e variadas reacções, umas apaixonadas e indefectíveis de uma escolha, outras sem qualquer chama e de fácil rejeição, sempre reflexo de uma atenção própria a um processo que nos deve habilitar a melhor exercer os nossos direitos e dever de votar… e votar em consciência!
Porque este tempo emerge e o mesmo é incontornável, importa prestar atenção ao que ele representa, transporta de significado para o nosso futuro e resulta da nossa escolha e opção, ou seja, do exercício dos nossos direitos e do dever de votar quatro anos antes.
Mesmo reconhecendo que o tempo será, progressivamente, tomado e centralizado nos candidatos – na constatação de que, porventura, as eleições autárquicas, talvez, sejam aquelas mais personalizadas e de maior proximidade entre os eleitores e os candidatos a eleitos – é convicção de que há matéria que se revela atender e valorizar de modo a que possamos compreender quem se apresenta a eleições, analisar criticamente o seu discurso e programa eleitoral para que, sempre que o processo eleitoral ganhe novo ciclo, possamos discernir, avaliar e exercer nova ou renovada opção.
Uma das matérias que se julga importar focar e reflectir, trata-se daquela que circunda a palavra “promessa” (ou “promessas”) que mais não é do que, supostamente, medidas, opções, projectos que os candidatos apresentam como vontades e compromissos de concretização e disponibilização no exercício do poder.
De diferentes âmbitos e níveis de profundidade, muitas, tantas vezes, estas “promessas” representam simples intenções ou projectos mais estruturados, opções firmes ou soluções a estudar, dependendo do grau de maturidade que revelam. Da experiência que os candidatos guardam, da capacidade e realidade de suporte ao exercício político de governo da cidade.
Como tal, entende-se definir cinco momentos chave de afirmação de um projecto autárquico: as intenções, o anúncio, o projecto, a obra e o legado. Cinco fases de um só processo e que reflectem diferentes níveis de consolidação do pensamento e acção, diversas formas de actuação e valorização e que dependem não só do desenvolvimento que o tempo registar da nossa acção, como sobretudo da nossa capacidade e ética no mesmo exercício político do poder.
Intenções correspondem ao primeiro nível deste processo e são espelho de uma ideia emergente e de possíveis formas e caminhos para lá chegar. Poderão ser ainda difusas ou não muito definidas, mas são fundamentais no germinar do interesse e do impulso para o desenvolvimento da “nossa ideia”.
Anúncio é momento importante porque exposição da maturidade das nossas intenções e convite para que todos tomem conhecimento e consciência do aprofundamento temático feito e possam participar, exprimindo concordância ou oposição, criticando ou acrescentando, num momento fundamental para alimentar a ideia e sua (tão justa quanto possível) concretização.
Projecto que é o desenho maturado da nossa antecipação, ou aproximação, tão mais fiel quanto possível, a uma realidade imaginada e planeada que desejamos materializar. Não raras as vezes, ou melhor, quase sempre, engloba diferentes acções, não se esgotando no “projecto técnico”, mas sim nas suas várias dimensões e âmbitos que se agregam e relacionam para um mesmo objectivo. Obra como transformação do “papel em pedra e cal”, edificando e “perenizando” o projecto, nunca esquecendo que obra significa, tantas vezes, muito mais do que edifício, e apenas edifício. Aliás, raramente significa exclusivamente edifício.
Por fim, legado (ou seja, a nossa herança) para o futuro e aquilo que determinará como seremos lembrados, aquilo que conferirá mais ou menos conforto e qualidade à vida de todos nós no dia de amanhã.
Legado que é muito mais do que a avaliação a que nos sujeitamos nas eleições (quando as repetimos). É a forma como falarão de nós próprios, nos adjectivarão e recordarão em tempos futuros… Poderemos ter as melhores intenções, anunciar vezes sem conta, projectar sem parar e fazer sem medida, mas é de legado que falará a história e é o legado que nos perenizará ou arrumará para um canto em penumbra no nosso pensamento.
Por isso mesmo, neste processo autárquico que todos não olvidem de que, no fim, seja quem for, vencido ou vencedor, oposição ou governo, será o legado a medida justa de todos nós. E feliz será a cidade que, passados quatro anos, fique mais rica e eficaz. E que seja capaz de tal confirmar passados mais quatro e quatro anos sucessivos. E em todos eles possa homenagear quem foi capaz de juntar o seu amor e o seu labor à cidade (que, não se duvida, todos têm) à capacidade e saber de a transformar e melhorar (que, também não se duvida, nem todos revelam capacidade e mérito em tal).
Porque votar e eleger, não é só escolher e preferir, vale a pena maturar no que significam estes verbos e o que precisamos saber e entender para melhor exercer e concretizar este direito. Seguramente que todos nós ficaremos a ganhar. E a comunidade agradecerá!
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