(…) O homem do futuro, que está a nascer por todo o lado, é um homem que vai juntar a cidade e o campo (…)
Gonçalo Ribeiro Telles, Em Nome da Terra, documentário de Rita Saldanha, 2009
A relação de harmonia entre cidade e campo faz parte de uma visão integrada do território, que tem vindo a ser defendida por muitos profissionais – pensadores, arquitectos, urbanistas – que vêm neste modelo a solução mais natural e sustentável para a manutenção e valorização plena do território na sua riqueza, diversidade e complementaridades. A expansão das cidades, e o desprezo a que por muitos anos foi remetido o espaço rural à sua volta, foi paulatinamente criando uniformização de paisagens e degradação dos solos, em benefício de especulações imobiliárias. Por esse motivo, a importância da construção da paisagem e do ordenamento do território que tem em conta a interacção sistémica das suas várias componentes – naturais e construídas – nas suas múltiplas interacções e complementaridades – entre si e connosco – é hoje inquestionável e urgente, pela sua capacidade de gerar locais saudáveis e sustentáveis para viver, trabalhar e recrear. O concelho de Guimarães, é composto por 69 freguesias (agrupadas em 48, após a reorganização administrativa) – num território com cerca de 241,3 km², do qual apenas uma pequena parte diz respeito ao núcleo ao qual chamamos cidade (centro).
Apesar de corresponder a uma pequena parcela, é nela que se tem investido mais recursos económicos e humanos, sendo a restante área, ruralizada ou industrializada, remetida para segundo plano – condição que hoje se reflecte na descaracterização de muitas zonas do concelho, algumas de forma irremediável. Em 2010, a Câmara Municipal de Guimarães criou um inovador departamento municipal, o MAPa 2012 que tinha como objectivo “detectar oportunidades de potenciação de recursos patrimoniais, paisagísticos e naturais do concelho de Guimarães”. Nesse sentido, este departamento desenvolveu estudos e projectos no sentido da inclusão e do reforço de redes e interligações do concelho, quer pela reabilitação de percursos pedonais antigos, quer por diversas e por vezes, pontuais acções que visavam a valorização patrimonial, paisagística e cultural das freguesias – desenvolvendo um plano de trabalhos que poderia muito bem (já desde 2010!) ter percorrido caminho firme em direcção ao desejado galardão de Capital Verde, se não tivesse encerrado precocemente… Com o panorama que hoje se apresenta e, sabendo que todas as grandes cidades tendem para o colapso – social e económico – sendo também insustentáveis ao nível da saúde pública, a ordem do dia já não é o crescimento, mas o decrescimento sustentável. Nesta perspectiva, a implementação de um conceito mais campo na cidade/mais cidade no campo poderia, ao descentralizar e distribuir recursos por todo o território responder a urgentes questões de ordem social e económica que hoje se impõem, entre os quais, o problema da habitação: Hoje, de uma forma geral, mas principalmente na camada jovem, há uma apetência crescente por novas formas de viver, que integrem simultaneamente o sonho de habitar, trabalhar e recrear, mas a escassa oferta de habitação e os preços inflaccionados tornam este sonho cada vez mais inatingível. A implementação descentralizada, (ou seja fora do núcleo central da cidade) de projectos integrados, onde a habitação, faria parte de um sistema constituído por hortas biológicas (uma prática muito comum no Vale do Ave que, numa escala de micro economia, permite a subsistência de muitas famílias), pomar, jardim e floresta, com espaços privados e comuns/colectivos (ex. lavandarias, salas comuns e espaços para actividades artísticas) permitiria economizar recursos e rentabilizar esforços, num espírito de partilha, sustentada pelos vários sectores etários que a integrassem. Este modelo, estaria equipado com sistemas de auto suficiência e sustentabilidade energética, gerando menos poluição e resíduos e, por resultar de um sistema integrado e auto regulado, teria fácil manutenção. Estes núcleos habitacionais/laborais/recreativos seriam servidos por uma rede de transportes não poluentes promovendo a facilidade de mobilidade, evitando a habitual dificuldade de mobilidade que ainda hoje subsiste entre o campo e a cidade. Todo o projecto, construído e implementado tendo por base premissas de organicidade, salubridade e sustentabilidade, com aplicação de materiais saudáveis e, a preços compatíveis com o público em questão, contribuiria para a promoção de um ambiente saudável, em sintonia com o ambiente natural – resultando também, numa enorme poupança com despesas de saúde. Este modelo não só responderia às necessidades reais de habitação, como constituiria um primeiro passo para a revitalização criativa do tecido urbano e social, com o esbatimento da dicotomia campo – cidade. Este avanço no sentido da integração e da inclusão assente em ideias universais como saúde, ecologia, natureza, sustentabilidade, criatividade, qualidade e cultura, colocaria Guimarães a caminhar em pleno na verdadeira direcção para a Capital Verde…
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