É uma festa popular, ancestral, minhota e à procura da melhor estratégia para a sua afirmação, no contexto actual.
Por isso, a Irmandade de São Torcato que a organiza tende a casar e misturar o que é a sua raíz tradicional e a modernidade que atrai multidões, o que não é fácil, também por razões financeiras.
Este ano, a Romaria não tem a concorrência do São Pedro (das Taipas), o que pode aumentar a afluência de mais público e já não romeiros.
O culto a São Torcato, que era forte, noutros tempos, suscitando por isso uma atracção pela Romaria Grande, ainda pode ser factor de captação de interesse da comunidade católica que o exprime melhor marcando presença na procissão, de Domingo, quando o centro da vila tende a ficar cheio, de carros e pessoas.
Pode dizer-se que a Romaria Grande de São Torcato, decorre num equilíbrio instável entre a contemporaneidade em que o entretenimento ganha à sua essência religiosa – de que a procissão com carros alegóricos ainda teima em resistir – e a tradição e os usos e costumes associados são apenas revividos e retratados como memórias de um cenário de pobreza que não se repetem.
Olhar para o passado – como as imagens de 1910 demonstram – é mesmo para alimentar o seu passado nostálgico, de um Portugal diferente, que todos rejeitamos.
Por isso, a Romaria Grande de São Torcato tem de afirmar-se nos tempos actuais, enquanto festa, divertimento e recriar alguns momentos do seu passado, mais como tradição, sem lembrar a realidade social de então.
Nos últimos anos, a mesa da Irmandade tem seguido no caminho de uma afirmação, nas festas concelhias, que tem ido além do que é possível, apostando mais na animação como se vê nos programas.
O programa de 2024 segue nessa linha de manter o espírito do culto a São Torcato que outrora vingava e arrebatava um mar de gente, e de outra forma sendo condizente com o modo de vida de antanho; e uma procura de público que se pretende ganhar através da música. Aliás, os Musiminho alargam o leque de opções de música ligeira que se dividem pelos três dias da Romaria, cabendo o encerramento deste cartaz musical a Ezequiel Sousa e às suas bailarinas.
Depois de Zé Amaro é agora a vez dos Santamaria (de Famalicão), serem a atracção da Romaria, mantendo o estilo musical que procura preencher o Sábado, à noite, como o cartaz da festa.
Quanto ao resto do programa, as propostas vestem bem com a tradição e a raíz da Romaria: uma banda de música da Póvoa de Lanhoso (para evitar gastos maiores), a utilização dos dois grupos folclóricos da freguesia, ligando o folclore à maior festa da Vila, as sessões de fogo de artifício, a animação colaborativa das associações locais – ADCL e CRCA – com os bombos do Mestre Zé.
E claro, o cartaz religioso com um conjunto de actos que mantém viva a chama da religiosidade da população, em devoção ao Santo do Povo, sobre cuja história, hoje, se conhece mais com duas edições de livros que dão nota dessa ancestralidade.
O festival de bolo (de pão) com sardinhas e de carne, com caldo verde, pode lembrar uma tradição mas não tem força para captar mais público enquanto produto gastronómico, que noutras terras é revivido e recriado doutra forma.
Foto © Carlos Pereira Cardoso
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