A história de Guimarães, registará a influência e participação de Fernando Alberto Matos Ribeiro da Silva, na vida política, cívica e desportiva, dos últimos 50 anos.
O homem que mais impulsionou a fundação do PPD/PSD em Guimarães, faleceu, Quinta-feira, de manhã.
Fernando Alberto, assim denominado e conhecido, advogado de profissão, era um dos expoentes máximos do “vimaranensismo” – um cognome de bairrismo convicto, que surgiu ao longo da história da cidade e que nos anos 70 ganhou expressão, após a constituição da Unidade Vimaranense em 10 de Dezembro de 1970.
Foi nesse movimento aglutinador de homens que davam maior expressão ao bairrismo que distinguia a sociedade vimaranense que Fernando Alberto emergiu, de modo a defender causas, muito ligadas ao desenvolvimento da cidade e das suas instituições.
O conhecido advogado desfraldava a alma do sentir vimaranense, naquele tempo sem qualquer conotação partidária, e interpretava-o com muitos ilustres cidadãos de Guimarães ainda vivos e alguns já falecidos, de um modo notório.
Este movimento, em torno da Unidade Vimaranense, erguia a bandeira de algumas causas, ligadas à defesa de um desenvolvimento de Guimarães, para além do Município, interpretado por homens que amavam a sua terra, alinhados num movimento cívico, que se veio a perder, quando a vida política democrática passou a ser desempenhada por partidos políticos.
Nesse tempo, o Vitória era uma causa nobre, servido por vimaranenses desinteressados, tal como a defesa da Universidade do Minho, em Guimarães, a construção do Parque Industrial de Guimarães (em Ponte). E até as festas Gualterianas.
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Da vida cívica activa, Fernando Alberto fez a sua incursão na vida política democrática, pós-25 de Abril, tornando-se figura de proa do PPD – que ajudou a fundar em Guimarães – e depois PPD/PSD, admirador de Francisco Sá Carneiro e inconfessável apoiante de Cavaco Silva, tendo sido deputado à Assembleia Constituinte, o único cargo que o fez deixar Guimarães para ir até Lisboa. Depois, Guimarães e Braga, foram locais e palcos da sua acção política sempre no PPD/PSD, tendo sido eleito vereador da Câmara em 1977/78, deputado na Assembleia Municipal de Guimarães e já nos anos 80, por duas vezes, foi Governador Civil.
Nesta função, Fernando Alberto, mostrou a sua influência na construção de equipamentos, importantes, no desenvolvimento de Guimarães, desde a instalação da Universidade do Minho em Azurém, à construção do novo hospital. No seu partido foi presidente da comissão política distrital durante uma década.
No Vitória Sport Clube, exerceu funções, no Conselho Fiscal – ao tempo da presidência de Pimenta Machado – e como presidente da Assembleia Geral – no mandato de Vítor Magalhães.
No Complexo Desportivo do Vitória deixou a sua enorme marca de influência ao defender a cedência ao clube de uma área enorme de terrenos onde se construiu o Complexo Desportivo da Unidade, num protocolo que envolveu o governo e o Ministério da Educação, de então, com a parceria da Universidade do Minho e da Câmara Municipal – na presidência de António Xavier. E que garantiu o financiamento da sua operação urbanística.
Tornou-se, por isso, uma figura inquestionável e incontornável em Guimarães, mesmo nas instituições locais de que fez parte. E uma figura de relevo na história de Guimarães das últimas sete décadas.
Fernando Alberto, escreveu vários opúsculos, sempre sobre causas de Guimarães. E num deles, referia que “entre os valores de Guimarães que concorreram para a formação da minha cidadania vimaranense, o Vitória Sport Clube ocupou sempre um lugar de especial afecto e importância”. Foi no seu “testemunho de consciência” sobre a regeneração do Vitória de Guimarães, em 2009. Um livro em que vincava a sua oposição a “um sinuoso desvio do seu espírito associativo e popular” e contra o qual “senti-me obrigado a lutar mesmo correndo o risco da impopularidade e incompreensão”.
Este grito de alerta, em que a defesa do Vitória visava as intenções e a gestão de Pimenta Machado, Fernando Alberto entendia que “um clube como este é mais do que um emblema desportivo”. “Vale verdadeiramente como bandeira de uma cidade num processo de osmose porventura ímpar, que passa de Guimarães para o Vitória e do Vitória para Guimarães a força indomável de ambições exultantes e um vigor de carácter que não cede a nenhuma adversidade” – escrevia então o homem que agora nos deixa.
A morte de Fernando Alberto suscitou reacções diversas. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, esteve ontem à noite no velório apresentando condolências à família, num gesto que marca a amizade e respeito por um vimaranense que agora partiu.
“Guimarães perde um dos seus melhores, um cidadão que terá sempre lugar destacado na nossa História de comunidade…”
O presidente da Câmara expressou em nome do Município de Guimarães, a reacção à morte de Fernando Alberto. “Neste momento em que Guimarães perde um dos seus melhores, um cidadão que terá sempre lugar destacado na nossa História de comunidade” – realça o presidente da Câmara, Domingos Bragança – que em comunicado salienta que “o Município presta-lhe as suas maiores homenagens”.
Para a concelhia de Guimarães, do PSD, Fernando Alberto “marcou uma geração de vimaranenses que abraçaram projectos fundamentais para a afirmação da nossa terra”. Considera ainda que “partiu um homem bom, um grande vimaranense, um cidadão de causas. E o seu legado marcou igualmente as gerações mais novas pelo seu exemplo de cidadania e de envolvimento com as causas comuns”.
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