A desunião no PS Guimarães pode ter sido esticada ao máximo, ontem (Sábado) na reunião – intensa e que durou cerca de 4h30 – da comissão política quando Vítor Oliveira anunciou a sua candidatura e Ricardo Costa a sua recandidatura.
São agora três – com Paulo Lopes Silva – os homens que querem dirigir o partido. E quiçá o Município de Guimarães.
Na manhã em que a divisão foi elevada à terceira potência, em nome de uma liberdade democrática, ouviu-se uma voz de um militante dizer que “o PS está partido – em quatro ou cinco sindicatos de voto – mas continua democrático”. Os socialistas parecem, assim, optar pela democracia da divisão, em vez da democracia da unidade, um estado de espírito perigoso… em que se defende já que “a democracia… é partir tudo…” isto é, acabar com o pouco que ainda une os aderentes ao PS.
Para já, o PS Guimarães ao proliferar-se e pulverizar-se com projectos pessoais de poder, acentua a divergência interna que era suposto já há muito estar resolvida e torna o caminho da unidade mais estreito. E que a eleição de Ricardo Costa não diluiu, atenuou ou susteve.
Como defendia, um conselheiro socialista, “o PS pode estar à beira de acabar em Guimarães, 30 anos depois”. Esta visão radical faz algum sentido porque os socialistas ainda não compreenderam que a sua força, no concelho, deriva de uma unidade implacável consubstanciada num projecto político que espalha a influência por todo o território. E não num homem providencial que já não há…
Com o aparecimento de um terceiro candidato que leva como contra-peso Adelina Pinto para hipotética candidata a presidente de Câmara, a divisão pode ainda não ficar estancada se houver mais aventureiros a evidenciarem a sua vontade de meter a mão no prato político socialista. E a candidatarem-se a mais um emprego público, por esta via.
Curiosamente, neste rol de candidatos – que lutam pela sua sobrevivência política – há mais uma afirmação de projectos pessoais – mais evidentes nuns do que noutros – do que meras divergências de filosofia política ou de ideias para o desenvolvimento de Guimarães – que também não são assim tantas porque não se conhecem, nem têm histórico de discussão no partido. Às duas alas que, no passado recente disputaram o poder – junta-se mais uma, de circunstância e pouco sólida, porque é a imagem de um homem só… e de um ajudante. E cujo teste de popularidade se medirá quando houver as eleições para a concelhia, a melhor forma para que cada grupo conte as suas espingardas.
Neste contexto, ainda ouviremos os militantes socialistas cantar o “Tá bonito, Este baile tá bonito”… da Ágata ou participar num requiem pela democracia em excesso – no que a disputas diz respeito – que está a viver a dita maior secção do país. E que coloca em causa a história política do partido. Ou ainda esperar pelo “moreninho” que anda por ai a bailar…
Não há nenhuma dúvida de que esta “deriva”, dita democrática de grupos minoritários que lutam pela hegemonia do poder interno, leva o PS para a sua maior crise existencial ao fim de 30 anos, muito maior e mais grave do que quando havia a chamada “minoria” que se foi integrando no grupo do poder. E quando havia líderes, de facto, e de direito, no PS Guimarães. E até mesmo quando houve cisões no executivo municipal com a saída de vereadores.
Quando a reunião terminou (14h30), “todos sairam a correr”, não deu tempo sequer para pequenos diálogos na sala ou na rua que pudessem esbater divergências. Por isso, não foi espaço de diálogo ou aproximação.
Um diálogo impossível porque até Vítor Oliveira, que faz parte do secretariado – embora sem ter participado em qualquer reunião – eleito na lista de Ricardo Costa, para a comissão política, assumiu com frontalidade a vontade de ser contra o “chefe” – anunciando a sua candidatura à frente dele e dizendo-lhe claramente que vai concorrer contra ele.
Com estes anúncios, cai a tese dos que criticavam Paulo Lopes Silva por ter anunciado a sua candidatura sem a data das eleições definidas, mas todos sabem que são em Julho.
Outra curiosidade desta reunião foi o jogo escondido – e de sombras – entre sindicatos de voto – que não se manifestam, contrariando a tese de Pedro Nuno Santos de que agora “acabaram-se as tácticas”.
Sem Domingos Bragança – cuja ausência foi notada – e José João Torrinha e outros vereadores, a reunião teve outro candidato: Luís Soares apresentou-se concorrente às eleições da Federação de Braga do PS.
Já se sabia que assim seria, uma vez que nos bastidores a candidatura era a mais falada, apesar de a comissão política de Ricardo Costa ser acusada de virar-se para outro candidato externo. E de agora ter de optar apoiar entre um candidato de Guimarães ou um de Vizela, como também se diz.
Os apoiantes de Luís Soares pediram apoio para a sua candidatura, evocando a necessidade de Guimarães ter mais peso-político a nível nacional. Gabriela Nunes não se conteve e disse mesmo que se Luís Soares tivesse apoiado Ricardo Costa já há muito que Guimarães teria tido um presidente na Federação de Braga.
Neste labirinto infinito de procura de hegemonia interna, o PS perde força e começam a surgir críticas para todo o lado: até para a Câmara que se esqueceu “dos candidatos socialistas derrotados” uma teoria de Elisabete Castro, do actual secretariado, a exigir mais comunicação entre a vereação e esses autarcas, perdoando o partido por esta falha; também isso explica que não tenha, no meio da discussão, quem tenha desfraldado a bandeira da paz, apelando à unidade – na diversidade.
José Bastos, levou uma lista de reparos para atingir Paulo Lopes Silva – pelas declarações que tem feito como candidato – outro sinal de que a luta interna, é horizontal e vertical, e de que a competitividade é feita à base de grupos de poder e não de filosofia política.
Com tanta fragmentação e fracionamento por interesses, a reunião da comissão política espelhou isso mesmo, sem que da discussão nasça a luz. Cada grupo (com exército de votantes mobilizado) radicalizou as suas posições e ninguém “mete a marcha-atrás” para dar novo rumo ao PS.
Os apoiantes de Luís Soares deixaram clara a sua estratégia: eleger o ex-deputado para a Federação de Braga, pouco se importando com a luta entre o trio de candidatos à liderança do partido; a JS parece seguir o mesmo caminho de neutralidade (aparente) furada apenas por Rui Almeida que disse apoiar Paulo Lopes Silva.
Sérgio Castro Rocha, sem lugar na estrutura do partido, e alguns dos seus ajudantes, esteve presente. Acompanhado de Vítor Pais, manteve-se em silêncio durante a reunião, apenas cochichando com o seu amigo.
Entre silêncios e olhares (pretensamente distantes) o certo é que, mesmo de manhã, o jogo de sombras, preferido de alguns dos mentores dos sindicatos de voto, vislumbraram-se nas declarações e na sua postura na reunião. E assim continua o PS…
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