O Vitória recebeu Tiago Mendes, de braços abertos, na sua primeira experiência como treinador principal. Miguel Pinto Lisboa, presidente do clube e da SAD, classificou-o como um “conquistador” e “um homem da elite do futebol português e mundial”.
Não é uma aposta de risco mas é uma aposta inesperada e arrojada do presidente vitoriano. Não é todos os dias que se contrata um treinador sem provas dadas, sem experiência de comando técnico e humano apesar de se apresentar com uma carreira, como jogador, invejável e rica porque feita em clubes de topo da Europa – Atlético de Madrid, Juventus, Lyon, Chelsea, Benfica e até o Braga. A que acresce uma passagem também rica pela selecção nacional.
Tiago Mendes tem, é claro, o palco ideal para poder mostrar o que vale. O Vitória é um clube aliciante mas exigente, onde o futebol se respira a rodos, dentro e fora do estádio D. Afonso Henriques.
E pode beneficiar da aposta que Miguel Pinto Lisboa quis fazer, no primeiro ano em que assume toda a autoria pela escolha do plantel – contratações e dispensas são da sua lavra e da sua única responsabilidade.
Nesta aposta de risco, juntam-se, pois, um presidente e um treinador, novos nas respectivas funções. Pinto Lisboa reconhece que com Tiago Mendes, o Vitória inicia “um novo ciclo”, algo com o qual nunca os adeptos do clube foram confrontados, em épocas anteriores.
Em todo o seu historial, nunca um treinador simultaneamente, jovem (na idade) e novato (nas funções) foi escolhido pelos dirigentes desde 1941/42 para treinador principal. Pinto Lisboa assumiu o risco, amparado na provável e possível qualidade do técnico, no conselho de José Carlos Freitas – a quem foi entregue a responsabilidade de gerir o futebol – e amparado na “força”, prestígio e experiência de Jorge Mendes – que se tornou no empresário do jovem técnico.
Neste cocktail, nem sempre fácil de fazer no futebol, reside a esperança do novo Vitória, onde os sócios esperam, com a sua exigência, pedir resultados e mais resultados, após sucessivos infortúnios e insucessos de dirigentes, treinadores e plantéis, incapazes que foram, ao longo de décadas, de irem além da “Taprobana” – o actual Sri Lanka (antigo Ceilão) que Luís de Camões descreveu na primeira estrofe de “Os Lusíadas”.
De facto, é desde “a praia vitoriana” que Miguel Pinto Lisboa quer sulcar os “caminhos” do futebol, nacional e europeu, em que Tiago Mendes e os seus também jovens jogadores – quais armas e barões assinalados – querem partir “por mares nunca de antes navegados” e ir mais além da Taça de Portugal que Rui Vitória ergueu, no consulado de Júlio Mendes, na já longínqua época de 2012/13 ou da Supertaça 1988/89 que Geninho conquistou no tempo de Pimenta Machado.
O presidente do Vitória SAD faz questão de sublinhar que o Vitória vive um tempo novo, qual início de ciclo que pretende não confundir-se com o que foram todos os inícios de ciclo – em cada início de temporada – porque o treinador comunga das escolhas feitas para a constituição do plantel: desde os que foram dispensados e partiram para outros clubes até aos que foram contratados, como novos jogadores. Logo aqui está a dar um sinal de que o Vitória pode estar a despedir-se de uma fórmula de ter jogadores de vários treinadores e de várias administrações, numa mistura que nunca deu bons resultados desportivos, porque para um novo projecto há que ter jogadores que se identifiquem com esse projecto desportivo, o que nem sempre acontece ou é fácil de acontecer no futebol.
Outra evidência, deste novo começar, está na certeza deixada pelo presidente de que “o Tiago foi sempre uma escolha firme e convicta do Vitória”, deitando para trás das costas, outras opções e até o currículo porventura necessário para um clube com a exigência do Vitória Sport Clube cujos sócios nem sempre são simpáticos com aqueles que envergam a camisola e os que se sentam no banco, na orientação da equipa.
“No seu percurso de jogador há características que casam na perfeição com a identidade do VSC…”
Pinto Lisboa sabe que a sua escolha e aposta assenta em bases objectivas: “Tiago Mendes é um homem da elite do futebol português e mundial” e “no seu percurso de jogador há características que casam na perfeição com a identidade do VSC”.
Para além disso, o presidente do VSC reconhece no seu treinador um perfil “alicerçado no seu carácter, na sua personalidade e vontade de vencer, na sua natureza de exigência que aliadas à sua experiência e ao facto de ter trabalhado nas melhores competições, com os melhores treinadores, fazem dele a aposta certa para o futuro do Vitória”. E até Junho de 2022, data de validade do contrato que assinou.
Outro sinal dado por Pinto Lisboa, de que há um novo ciclo no Vitória, está na sua afirmação singela de que a contratação de Tiago Mendes, e da sua equipa técnica, e do plantel, significam uma mudança de “mentalidade” e de um novo “paradigma”.
Deixando de lado, a exclusividade de protagonistas, Pinto Lisboa, foi claro ao afirmar, virado para o treinador de que “o teu sucesso, será o nosso sucesso”, que se “atinge com trabalho árduo e colectivo”, ou seja, de que “todos juntos e unidos, vamos gerar a força que transformará esta equipa numa grande equipa”, vaticinando “uma excelente época para o VSC”.
Ao seu jeito, Pinto Lisboa, terminou a apresentação pública de Tiago Mendes, como treinador do VSC, dizendo: “Tiago este é o teu castelo, juntos vamos torná-lo inexpugnável”.
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