Um Teatro Jordão reabilitado junta-se a uma panóplia de equipamentos culturais que Guimarães possui para dar força à actividade cultural da região e do país.
São imensos, comparativamente com outras cidades médias da sua dimensão; são de qualidade e com conforto, multidisciplinares e recentes; permitem os mais variados tipos de espectáculos em que a cultura é central; serão cruciais na produção cultural que se quer alcançar para gaúdio da população local e afirmação de Guimarães.
É isso, sem dúvida, depois de 2012 ter chamado à atenção de que a Cultura podia ser uma alternativa, outra alternativa, a um Guimarães industrial que nos marca desde tempos imemoriais.
Agora, com mais meios, o que se espera é que haja – gente e associações – que “tenham unhas para tocar guitarra”, pois, Guimarães com a reabilitação do Teatro Jordão (TJ) casado com a Garagem Avenida (GA), completam um ramalhete forte de infra-estruturas que poucos almejam alcançar.
E que os equipamentos sejam abertos a iniciativas de qualidade, estimulando e abrindo os horizontes da criatividade de jovens, homens e mulheres, de artistas e criadores que elevem o nível da produção cultural até para justificar a ocupação destes espaços.
A inauguração de um TJ renovado e transformado, com menos lugares na plateia e no balcão, com um restaurante transformado em escola de teatro, foi um acontecimento marcante na sociedade vimaranense, a merecer portas abertas para outras visitas de vimaranenses que só vendo por dentro podem ter orgulho no que foi feito.
Sim, o TJ é mais que uma sala de espectáculos que, no passado, era o único espaço em que se podia ver teatro de revista, aquele que se fazia apenas no Teatro Villaret ou outras grandes produções como “comícios” de partidos políticos, ver os últimos filmes, produzidos em Hollywood, peças de teatro ou fado. E onde nos anos 80 foi possível promover umas “Quartas-feiras culturais” que marcaram a incursão do Município pelos domínios da Cultura.
📸 Marco Jacobeu
Por isso, no Sábado, a meio da tarde, soltaram-se memórias e projectou-se o futuro. As memórias que surgiram ao lembrar como era aquele edifício por dentro, o cheiro e odor de um TJ querido, onde gerações sucessivas de jovens viram os filmes da sua época.
Alguns até recordaram que foi no TJ que viram, em estreia, o “Último Tango em Paris”, um filme de 1972, que só se pode ver em 1975, já depois da revolução, com Marlon Brando e Maria Schneider, classificado com a filosofia de um Estado Novo ainda fechado aos ventos de liberdade e tolerância que surgiam da Europa.
Também, o TJ como lugar de encontros, de namorados, com espectáculos onde o marido levava a esposa, fez com que aquela casa se identificasse com todos os vimaranenses, numa relação que estimulava a liberdade e abria horizontes, numa sociedade fechada e tradicional, muito sacra quando o que se passava, fora e perto, na Europa, era o mais normal de uma vivência entre pessoas marcada por hábitos de cultura mais abertos.
Todos os que estiveram no TJ no Sábado e já haviam lá estado noutros tempos, sentiram a nostalgia de Guimarães do passado. Recordaram onde viam os seus filmes… na plateia, no balcão ou nas frisas. Os que lá estiveram pela primeira vez, viram apenas um espaço renovado sem história e sem algo que os ligue ao espírito do TJ – o que poderão fazer daqui para a frente.
De hoje em diante, os olhares voltar-se-ão para a dinâmica de um espaço que sendo escola pode ser lugar e ponto de encontro; que sendo local de criação quantos criadores dali poderão surgir; que sendo palco para a formação de jovens, que oportunidades surgirão para a sua formação.
Obviamente, o Teatro Jordão encerra, nos novos tempos, já e amanhã, um desafio de que Guimarães possa ter na Cultura uma alternativa séria no mundo do trabalho das artes, do teatro, da música que não seja meramente amadora ou actividade de tempo livre.
E no âmbito social que não se feche à sociedade e a si mesmo, ao núcleo dos que originalmente são os seus ocupantes.
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