O projecto para a edificação do Santuário de São Torcato andou nas bocas do mundo da arquitectura.
Muito porque o autor do segundo projecto era Ludwig Bohnsted, 1867; e porque “a obra que hoje contemplamos é fruto de uma rede internacional tecida na segunda metade do século XIX, que resulta da acção continuada de Cesário Augusto Pinto (Lisboa, 1825; +Guimarães, 1896), Ludwig Bohnstedt (São Petersburgo, 1822, +Gotha, 1885) e José Marques da Silva (*Porto, 1869, +Porto, 1947)”, como se descreve no site da Fundação Instituto Marques da Silva.
Esta história é das muitas que se encontram em documentos sobre arquitectura, arte e história relativos a este monumento de granito cuja imponência e arte ainda é desconhecida de muita gente. “É assunto inesgotável” – salienta Raul Pereira, a propósito da investigação feita sobre a Irmandade de São Torcato e por arrasto da carta de Couto de D. Afonso Henriques…
Mas como se explica que em 1867, o projecto desenhado por Ludwig Bohnsted sem que alguma vez tenha vindo ao local onde se implantou, tenha abalado os meios da arquitectura de então.
Uma coisa ficou clara para João Luís Marques, moderador da última conferência ‘Olhares sobre São Torcato’, “é que a rede em que se inseria o arquitecto Marques da Silva, que acompanhou a obra depois de ter vindo de Paris, já era intensa e entra nas nossas histórias locais, que se alongam desde então.”
António José Oliveira, investigador vimaranense mergulhou no chamado fundo notarial onde abundam arquivos notariais que se tornaram numa fonte importante de pesquisadores.
“Curiosamente não encontramos nada sobre São Torcato”, salvo o contrato de obra para o Cabido da Colegiada que tinha necessidade de um mestre pedreiro.
Mas a insistência levou à descoberta da obra de alargamento da Capela Mor do Mosteiro de São Torcato (antiga igreja velha e hoje a verdadeira igreja paroquial). Percebeu-se que o altar-môr de Santa Catarina era famoso mas também se percebeu que tinha sido destruído, uma obra em talha, de valor inestimável, e cuja beleza se conhece por algumas fotografias.
Como sublinhou João Luís Marques, o Mosteiro de São Torcato teve, em 1800, “uma obra em que se rebaixou o piso, o púlpito foi recolocado… e nota-se que se tornou num alpendre de enterramentos, de gente da nobreza”.
Retornando ao então Santuário, Vítor Fernandes, arquitecto e ex-mesário, esclareceu depois porque é que a escola de cantaria foi importante na obra do zimbório – com pedra trabalhada – que simbolicamente encerrou o capítulo, famoso, das obras de São Torcato.
A escola teve 15 alunos, recrutados pelo IEFP, que completaram o que faltava ao Santuário para que fosse uma obra acabada.
Recordou que o Santuário se tornou uma obra importante não apenas pelo concurso internacional de arquitectura em que foi aprovado o seu projecto. E por se erguer com uma pedra especial, o granito cinzento azul, da zona de Gonça e Gondomar, assim classificado.
Mas “é uma obra lenta e sofre algumas alterações” – atalha João Luís Marques.
“Percebeu-se que as fundações onde se implantaria o Santuário, foram enviadas para Londres, como um simples retrato…” – revelou Vítor Fernandes, certamente com base no primeiro projecto de Luís Inácio de Barros Lima, no início da construção em 1825.
Nesta conferência sobre arte e arquitectura, o curioso – notado por alguns dos presentes – é que num Santuário como este nunca tenha sido instalado um órgão… Eduardo Magalhães musicólogo, presente na sessão, esclareceu que “o sino é um instrumento musical”, e que “um monumento destes merecia ter um órgão… de tubos”.
Esclarecendo esta questão, João Luís Marques afirmou que “a existência de um carrilhão, numa das torres, era condição obrigatória do concurso internacional”.
Apesar disso, acentua o moderador da conferência que “o Santuário fica na história da arquitectura, pela audácia que houve de se terem procurado os melhores para a escolha do autor do projecto”. E interroga-se como é que “São Torcato se aventurou nisto?”.
A próxima conferência versará sobre o Culto a São Torcato e realiza-se no dia 24 de Fevereiro (Sábado), pelas 15h00.
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