Mais cultura para todos
José Manuel Gomes não tem dúvidas: “É preciso esticar o tecido cultural” no concelho. Cobrindo mais freguesias com espectáculos e outras propostas culturais, “promove-se a descentralização”; com isso, “promove-se a profissionalização das pessoas e dos equipamentos” do território que cresce para lá da cidade. Palavra de quem vive as duas realidades.
É que o programador cultural dos Banhos Velhos (nas Caldas das Taipas) também assume responsabilidade pelo planejamento artístico de outros festivais na cidade – o Suave Fest e o L’agosto. Assim, e com os olhos postos em diversos pontos com dinâmicas culturais diferentes, é da opinião de que “o centro e a cidade não têm de abarcar tudo”. “Há falta de alternativas. Guimarães só fica a ganhar se à sua volta houver uma rede de locais diferentes”, acrescenta. Numa cidade que se tem vindo a estabelecer como ponto de passagem para artistas nacionais e internacionais (e de diversos quadrantes), há espaço para pensar na distribuição dessa actividade cultural pelo resto do concelho? “Se Guimarães quer afirmar-se como cidade de cultura, fazendo esse caminho há alguns anos, tem de dar mais do que simplesmente o centro”, explana. Isto porque “há espaços noutras freguesias”.
Os Banhos Velhos são um desses exemplos, mas há mais. Veja-se alguma da actividade cultural do mês de Maio: em Brito, nos Espaços Criativos, actuou Helena Sarmento. Em Ronfe, no Centro Paroquial, ouviu-se a Orquestra do Norte; já em São Torcato, no Centro Comunitário, pôde-se assistir ao espectáculo “Kusana e Warhol– O Maior Roubo da Pop”. Toda esta oferta cultural chegou às freguesias apontadas através do Excentricidades, sobre o qual já falámos anteriormente. Para José Manuel Gomes, o projecto do município “é bastante fraco a nível de audiência em todas as freguesias”. Contudo, é uma luta na qual o próprio já se tem empenhado há bastante tempo. E, com o passar dos anos, surgem certezas: “Se fizesse exactamente a mesma agenda [dos Banhos Velhos] no centro, teria dez vezes mais pessoas, por ser próximo.”
“A grande diferença é que, na cidade, por norma, as pessoas estão habituadas a terem as ofertas culturais bem mais próximas. Não têm de se deslocar. E, ainda assim, queixam-se”, aponta, dando um exemplo: “Se houver algo no CAAA [Centro para os Assuntos da Arte e Arquitectura, na zona da Caldeirôa], há logo quem se queixe. Se aí já há entraves, quanto mais num sítio a 6 quilómetros do centro.”
Ainda assim, reconhece o esforço da Câmara Municipal, indicando existir “um esforço que está a ser feito sem antecedentes”, apontando “subsídios a associações culturais” como um ponto positivo da visão cultural e descentralizadora do executivo. Ainda assim, admite sentir que existe mais dinheiro para eventos na urbe: “Posso ter um orçamento para seis meses nas Taipas que é metade do atribuído a um evento de fim-de-semana na cidade.”
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