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Sábado, Novembro 23, 2024

GUIdance: público aplaudiu qualidade do festival internacional

Economia

É uma referência no mundo da dança contemporânea internacional. A 13ª edição contribuiu, ainda mais para esse prestígio, com um programa pleno de estilos orientais e africanos que se casaram com propostas portuguesas e europeias.

Sob o signo ‘A Humanidade dança em Guimarães’, o GUIdance 2024 encheu o grande auditório Francisca Abreu, no Centro Cultural Vila Flor, com os três espectáculos mais arrebatadores: ‘Bantu’ – de Victor Hugo Pontes, ‘Universe: A Dark Crystal Odyssey’ – da companhia Wayne McGregor, e ‘bulabulay mun?’ – da companhia Tjimur Dance Theatre.

O uso de técnicas e ferramentas digitais que envolveram a dança com projecções de vídeos, brilharam aos olhos dos espectadores, arrebatados por efeitos especiais, como grandes criações de dança e coreografias encantadoras.

A história subjacente e inspiradora destas criações tocam temas actuais como a crise climática, em ‘Universe: A Dark Crystal Odyssey’, durante 70′, em que os espectadores se sentiram dentro de um oceano; ou foram acossados pelos efeitos devastadores de um clima alterado por fenómenos extremos, de calor e de seca.

O recurso a uma tela digital criou uma barreira entre os espectadores e os bailarinos mas permitiu a introdução de imagens que mostravam e acentuavam ainda mais o horror de um mundo atacado pelas crises climáticas. Um efeito plástico que enriqueceu a concepção da peça.

‘bulabulay mun?’ retratou uma situação de guerra – a única em que até hoje se envolveu o povo de Taiwan – também estúpida e gerada por um mal-entendido, de linguagem, que colocou os japoneses contra a população indígena de Paiwan, em 1874, acusada de um assassinato inexistente, pois, os japoneses morreram num naufrágio e não numa luta na praia.

‘bulabulay mun?’ – significa em português “como estás tu?” – foi o que faltou perceber aos japoneses, no seu desembarque em Mudan, de que resultou o conflito conhecido por “Incidente Mudan de 1874”, agora reconstruído por um grupo de dança de cinco bailarinos – duas mulheres e três homens. E com direcção artística de Ljuzem Madiljim, com coreografia e figurinos do seu irmão Baru Madiljim.

A interpretação do grupo taiwanês foi tão realista que nos empurrou, em imaginação, para aquele incidente, retratado em dança, de forma sublime, bela e simples. Para além das imagens que se projectavam nas costas do palco, os movimentos dos dançarinos, trajados a branco (homens) e vermelho (mulheres) apenas tinham um adereço: uma verga de madeira (pau) de cerca de três metros, que os unia em movimentos e diagonais em cima do palco.

Victor Hugo Pontes também brilhou com ‘Bantu’ num bailado que marca os seus 20 anos de carreira, um vimaranense nascido por entre os cenários do Teatro Oficina. A sua criação juntou Portugal e Moçambique em palco, pelo grupo misto de bailado, pelos movimentos, pelas músicas e pela linguagem universal da dança.

Para além do programa, o GUIdance cumpriu: por se tornar numa atracção para públicos fora de Guimarães, maioritários em todos os espectáculos. O espanhol e o inglês ouviram-se na plateia, nos corredores e no foyer do Vila Flor; o número de espectáculos teve qualidade para suscitar essa atenção, valorizando o cosmopolitismo da cidade – hoje com mais estrangeiros que era normal há poucos anos atrás; 

Outro factor, é que o festival tornou-se um espectáculo de família, convocando pais e filhos para uma actividade, por norma vista apenas na TV. A diversidade do escalão etário dos espectadores acentua a transversalidade etária do GUIdance.

O festival distingue-se também pelo conjunto de actividades paralelas – uma espécie de serviço e mediação cultural com efeitos positivos ao nível da educação dos públicos.

E por um curioso diálogo em inglês (com tradução para português) entre artistas e espectadores, no final dos espectáculos da companhia Wayne McGregor e do Tjimur Dance Theatre, uma autêntica tertúlia cultural de pouco mais de meia-hora.

Factos & Números:

  • Salas: os palcos do festival foram os dois auditórios do Centro Cultural Vila Flor, o Teatro Jordão e a black box do Centro Internacional das Artes José de Guimarães;
  • Lotação: se todos os espectáculo tivessem esgotado, significaria que 3675 espectadores teriam visto os 10 espectáculos desta 13ª edição;
  • Duração: o GUIdance durou 530′ em duas semanas, repetindo espectáculos às Quintas e Sextas-feiras, Sábados, e teve apenas uma sessão numa Quarta-feira e num Domingo;
  • Origens: os grupos e bailarinos representam um universo geográfico de quatro continentes: Europa (Portugal e Reino Unido), Ásia (Taiwan), América (Brasil) e África (Moçambique) o que acentuou o seu carácter internacional;
  • Preços: quem viu os espectáculo do festival teve que pagar 2€ na peça de Beatriz Valentim; 7,5€ em outros quatro e 10€ nas actuações de Victor Hugo Pontes, da companhia Wayne McGregor e no Tjimur Dance Theatre;
  • Escolhas: melhor espectáculo, interpretação, performance, canto e história: Tjimur Dance Theatre (Taiwan); coreografia e música: ‘Bantu’, de Victor Hugo Pontes; cenário e efeitos especiais: ‘Universe: A Dark Crystal Odyssey’.

© 2024 Guimarães, agora!


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