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Quinta-feira, Novembro 21, 2024

Até onde chega a cultura em Guimarães? A (quase) todo o concelho

Economia

Há mais descentralização na programação cultural

Há cerca de 655 mil euros para a descentralização da cultura no concelho vimaranense. Quase todas as freguesias têm grupos ou colectivos subsidiados. Quando se fala de eventos, os que se passam na cidade levam a melhor.

Em 2019, o orçamento de Guimarães para a cultura é de 7 milhões de euros – e desta fatia surgem outras, que são distribuídas um pouco por todo o território concelhio. Afinal, parte da Política Cultural da Câmara Municipal de Guimarães (CMG) assenta na descentralização da cultura. E o valor destinado à descentralização cultural, segundo a vice-presidente Adelina Paula Pinto, “tem crescido significativamente ao longo dos últimos anos”. Mas essa quantia distribui-se, realmente, por todo o concelho? Ou, por outro lado, destina-se a eventos ou organizações que empurram gente das outras freguesias para a cidade? Depende da perspectiva (e do tipo de apoio).

Vamos por partes. No apoio à descentralização da cultura em Guimarães, há quatro eixos que agregam entidades com diferentes propósitos: “Festas de Interesse Concelhio”, “Protocolos de Descentralização Cultural”, “RMECARH” (Regulamento Municipal de Entidades Culturais, Artísticas, Recreativas e Humanitárias) e o “Excentricidades”. A soma total dos apoios do município às quatro vertentes é de 654 mil e 100 euros, como aponta Paulo Lopes Silva, adjunto de vereador, num e-mail enviado para este jornal. Vamos a contas?

Gualterianas com “aposta diferenciada por parte do município”

Comecemos pelas Festas de Interesse Concelhio. Como o nome indica, “são as festividades de todas as freguesias do concelho que tenham solicitado apoio ao Município”, para além de serem exemplos “da preservação das tradições populares”. Em 2018, de acordo com os documentos consultados, 36 festas foram subsidiadas (em parte) pela CMG. As contas apontam para um total de 130 mil euros. A Marcha Gualteriana lidera a tabela dos apoios às festividades concelhias do ano passado: foram atribuídos 85 mil euros à Associação Recreativa da Marcha Gualteriana. Nesse rol, seguem-se-lhe as Festas de São Pedro (Caldelas), a Romaria Grande (São Torcato) e as Festas de Pevidém (com 3 mil euros). A festa de São Torcato obteve o apoio de 5 mil euros; no caso das festas das Taipas, o valor sobe para 6800 euros – ainda assim menos 78 mil e 200 euros do que as festas da cidade.

O que justifica, então, a diferença entre uma e outra festividade? “As Festas do São Pedro, tal como as de S. Jorge de Pevidém e outras dispersas pelo concelho, têm vindo a sofrer um ajuste em função da sua história e importância no concelho”, explica a vice-presidente da CMG. A também vereadora da Educação, Biblioteca e Arquivos, Cultura, Juventude, Relações Públicas e Relações Internacionais acrescenta que a “aposta diferenciada por parte do município” se deve à “abrangência territorial” e à “importância histórica” das Gualterianas – e também pelo que as festas “representam para os vimaranenses e emigrantes locais”.

De acordo com a mesma lista, a maior parte das festividades (19) foi subsidiada pela CMG com 600 euros. Olhando para percentagens, 65,4% das verbas deste eixo destina-se à Marcha Gualteriana. Todas as outras festas receberam o total de 45 mil euros em apoios (34,6%).

Nos critérios de atribuição de subsídios a festas destas também entra “a abrangência territorial, a importância histórica, a proximidade de objectivos e a tipologia de festas”, refere e vereadora e vice-presidente Adelina Paula Pinto. Também se considera o facto de existir “mais do que uma festa para o mesmo território” ou se a festividade é a “principal de uma freguesia ou vila” – daí que a Feira dos 27 de São Torcato receba 600 euros em apoios face aos 5 mil para a Romaria Grande.

Protocolos que fazem jus o nome

Anualmente, um conjunto de colectividades e grupos que “promovem concertos, espetáculos e tradições por todo o território” assinam os Protocolos de Descentralização Cultural, que representam 69 mil e 100 euros. E, como se constata na maior parte das “sub-categorias”, existem subsídios para organismos espalhados por todo o concelho. Desta vez, os dados são referentes a 2019.

Cada um dos 16 grupos folclóricos federados subsidiados – de Vila Nova de Sande a Souto São Salvador ou Moreira de Cónegos – teve direito a mil euros. Para cada um dos 11 não federados houve 600 euros (espalham-se por Gondar, Vermil ou Ronfe). Sete grupos corais e oito grupos de música popular receberam, cada, 800 euros – e, nos dois casos, a distribuição segue o caminho dos grupos folclóricos. Já aos dez grupos de teatro foi atribuída a soma de 15 mil euros. Quatro destes grupos são das redondezas (Ponte [incluindo o de Campelos], Briteiros e Pevidém), ao passo que os restantes estão sediados na cidade.

As bandas musicais e as orquestras levam a maior lasca: 19 mil e 500 euros. A Sociedade Musical de Pevidém recebeu um total de 7 mil e 500 euros: 5 mil para a banda, o restante para a orquestra juvenil. As bandas musicais das Taipas e de Moreira de Cónegos receberam 5 mil euros cada. Desta lista, só a Orquestra de Sopros da Academia de Música Valentim Moreira de Sá (2 mil euros) é que tem instalações na cidade. O cenário não muda muito nas Escolas de Música, que também se dispersam pelo território concelhio. A Sociedade Musical de Guimarães foi a que mais apoio reuniu (2 mil euros). Para lá da muralha, as escolas de São Torcato, Caldas das Taipas ou Ponte receberam 500 euros – a mesma quantia que a Escola de Jazz do Convívio (na cidade). Segundo os documentos enviados para este jornal, as vilas de Ponte e Pevidém têm pelo menos um grupo em cada uma das sub-categorias. Estes apoios “deverão ir a uma das próximas reuniões de câmara para este ano com um ligeiro reforço”, informa o adjunto de vereador Paulo Lopes Silva.

Agentes culturais no concelho multiplicaram-se ao longo dos anos

O financiamento do RMECARH (Regulamento Municipal de Entidades Culturais, Artísticas, Recreativas e Humanitárias), ao qual se podem candidatar “as entidades registadas no Portal do Associativismo”, bate este ano um “novo record”: 300 mil euros. Mas há critérios: as actividades devem apresentar “respostas à coesão cultural” no concelho, “com ofertas diferenciadas”. E, por último, o Excentricidade, um projecto que leva eventos de cinema, teatro e também residências artísticas a dez freguesias (nove fixas, uma rotativa) – cujos incentivos perfazem 155 mil euros.

A vice-presidente do município afirma que “de ano para ano, o número e qualidade de candidaturas” ao RMECARH “tem vindo a aumentar”. Isso obriga a CMG a ser “mais exigente” e criteriosa na atribuição de apoios. “Guimarães tem uma tradição histórica no movimento associativo cultural, mas a verdade é que fruto de dezenas de anos de aposta neste setor por parte do Município têm tido um efeito multiplicador nos agentes culturais do território, que é cada vez mais evidente”, indica. Tal espelha-se na actividade cultural do concelho – pelo menos é o que comprova a lista de 36 eventos subsidiados que acontecem no segundo semestre deste ano, organizados por 24 associações.

Prevê-se que o valor mais elevado seja o da 2ª edição do Festival de Canto Lírico de Guimarães, organizado pela Associação de Socorros Mútuos Artística de Guimarães, com 20 mil euros. Acima da linha dos 10 mil está ainda o evento “Pevidém em Festa 125 anos” (18 mil euros) ou a sexta edição d’ “O Verão é Jazz”, da Convívio Associação Cultural e Recreativa, que recebeu um apoio de 12 mil e 500 euros. Para além deste, outros dois certames musicais da mesma organização são subsidiados pela CMG: o Suave Fest e o Convívios Internacionais de Música de Guimarães.

Ao todo, o Convívio tem o apoio de pouco mais de 25 mil euros. Mas a associação com mais eventos financiados não se situa na cidade. A CAISA, de Vermil, contará com o incentivo de 12 mil euros para as suas actividades: CLAV Live Sessions, CANVAS, Olhos Ao Alto e PELE Drum Fest. A maior parte dos projectos financiados ocorrerá na cidade; o factor localização entra em jogo, sendo esses os eventos com maiores verbas.

Levar a cultura a todos é a prioridade

Boas notícias nas más notícias: apesar de haver freguesias sem qualquer projecto apresentado e, por conseguinte, financiado, a CMG faz por levar a cultura a toda a população do concelho (e para além do Excentricidade). O município, diz a vice-presidente Adelina Paula Pinto, faz por despertar consciências e activar “culturalmente o território”. Muitas vezes, através dos mais novos: “O ensino de artes com o projeto Mais Dois e Ante Pé, as visitas culturais em todos os anos de escolaridade onde o município tem responsabilidades ou as primeiras experiências em espectáculos organizados pela Oficina por todas as crianças” do concelho, completa.

Em Fevereiro último, a CMG apresentou um novo regulamento de apoio à cultura. O IMPACTA pretende assumir tudo o que os outros eixos da descentração cultural priorizam, mas aposta também na vertente da internacionalização. Aqui, a sustentabilidade ambiental também é critério. E tem outras novidades: prestará apoio à edição discográfica, videográfica e de e-books, para além de apoiar a investigação através da atribuição de bolsas. A dinâmica cultural da cidade cresce “quer em número quer na qualidade”, aponta a vereadora. Os subsídios ajudam, os projectos e eventos multiplicam-se. Resultado? A população vimaranense dá “uma resposta cada vez mais afirmativa”.

© 2019 Guimarães, agora!

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