A comissão política reuniu-se, ontem, à noite, para adiar escolhas naturais dos candidatos à Câmara e só aprovou a lista da Assembleia Municipal.
CAPÍTULO I
O PS voltou dar sinais de estar a perder a liderança na política local, adiando, no tempo, a escolha de todos os seus candidatos. Só foram votados os 30 membros – passíveis e possíveis de ser eleitos – para a próxima Assembleia Municipal, numa aprovação com 52 a favor, nove contra e cinco abstenções.
Mas o mais grave é o que escondem as palavras dos intervenientes, com recados a mais e frontalidade a menos, crispando, quase de modo irreversível, a unidade do partido, dividido entre lideranças agastadas e separadas.
Este cenário poderá ser agravado se o PS voltar a viver a saga do tempo das eleições para a Federação Distrital, algo que de forma evidente Luís Soares pretendeu ressuscitar aliciando Ricardo Costa com o lugar de número dois (2) da lista da Câmara, servindo-se do próprio Ricardo como isco para baralhar Domingos Bragança.
O que se ouve no seio dos socialistas, e o que alguns, instados a falar sobre a reunião de ontem, confessam é uma tristeza generalizada, por tanta divisão, e de ausência de uma perspectiva de futuro. E perda de um espírito de grupo que tanto marcou o passado glorioso da história do partido local.
Aliás, isto evidencia uma perda da imagem de marca de um partido em que o jogo democrático não é leal, os egos se transformam e as ambições se multiplicam porque muitos entendem que governar é apenas distribuir dinheiro do orçamento municipal. E dinheiro há quanto baste até para desbaratar.
O pessoal político que é chamado para funções diversas acentua e cava as divisões pelas ambições, deixando que os interesses de Guimarães – lembrados em palavras ocas e citados em belos discursos – são capa para outros interesses que se manifestam como nunca.
Curiosamente, a votação da lista da Assembleia deixa escondida uma revolta silenciosa pouco expressiva e manifestada sobre nomes apresentados numa leitura apressada, sem que a maioria percebesse que tipo de deputados e que tipo de parlamento local estava a escolher. E o órgão próprio (secretariado) os aprovasse.
Quando se perceber que território representa o PS, no “parlamento local” com estas escolhas, de onde são, a que sindicato de voto pertencem talvez alguns que votaram a favor se arrependam do que fizeram. E muitos até nem sequer conhecem os nomes dos candidatos, com quem vão estar lado a lado nas sessões da Assembleia Municipal. A votação foi mesmo ao jeito de olhos fechados, sem noção da representatividade de cada um(a).
Luís Soares – o proponente desta lista – que teve a anuência de José João Torrinha embandeirou em arco com as escolhas feitas. E serviu-se da pandemia para justificar o adiamento das habituais apresentações, que só teve na lista dos presidentes da Junta, a pompa e a circunstância que são habituais no PS.
O presidente da concelhia justificou que esta é a melhor equipa para atingir o objectivo de “aumentar o número de mandatos” mas acentua a discriminação de territórios do concelho na sua representatividade no primeiro órgão autárquico do Município. E em termos sociais torna-se representativa de grupelhos, compostos por militantes que nunca ganharam nada e que se limitam a receber o prémio do prestígio conquistado para o PS, em muitos anos de serviço público, por todos os presidentes de Junta.
Quer a lista da Câmara, quer a da Assembleia foram embaladas numa trama que poucos sabem ter existido porque ninguém lhes contou.
Mas a história é verdadeira e foi alimentada nos últimos três meses, em mais uma saga com o evidente propósito de apear Ricardo Costa do cavalo do poder.
Se a lista da Assembleia é uma espécie de “comissão política 2”, às ordens de Luís Soares, um bastião da JS, a lista da Câmara que Domingos Bragança quer – e terá – foi ameaçada de chumbo por um quesito novo – o de que devia expressar uma indicação de quem virá a seguir a Bragança ou dar um sinal de quem pode continuar a manter a senda vitoriosa do PS em Guimarães, como se fossem favas contadas.
A incursão do PS Guimarães pelos valores dos regimes monárquicos e ditatoriais ameaça fazer estremecer o partido, acossado por militantes e simpatizantes e vindos de fora, que julgam que a democracia lhes deve dar “pão, trabalho, educação”.
Acresce a isto, um presidencialismo enviesado que nenhuma lei do poder local conforma, o que acentua as más práticas democráticas que ameaçam fazer ruir o PS de Mário Soares, Salgado Zenha, Manuel Alegre e muitos arautos da democracia portuguesa.
Há já algum tempo, que Luís Soares e Domingos Bragança não falam, sem que se perceba se isso é intencional ou até parte do plano para afastar Ricardo Costa da vereação.
E não o fazem precisamente, a partir do momento, em que Luís Soares “inventou” que Ricardo Costa tinha de ser o número 2 da lista, uma espécie de sinal para o futuro, acentuando a tal deriva monárquica, que nos últimos tempos tem sacudido o PS. Esta ideia veio a revelar-se uma miragem, contra natura mesmo e tem os contornos da história do Capuchinho vermelho em que o lobo se veste de avozinha.
Toda a gente percebeu que isto era uma espécie de canto de sereia que, aparentemente aproximava Luís Soares de Ricardo Costa, depois do desaguisado – não sarado – registado com as eleições para a Distrital de Braga. E que ainda hoje permanecem para além do trato de cavalheiros que possa existir entre ambos.
A trama foi agora servida com o mesmo requinte de malvadez mas embalada numa espécie de doce que se costuma dar às crianças para elas sossegaram a sua impertinência natural.
Foi a partir deste contexto que Domingos Bragança se sentiu apertado e condicionado nas suas escolhas, sabendo-se que a manutenção da lista, nos lugares elegíveis, manteria a mesma ordem e o mesmo número de homens e mulheres.
Luís Soares manteve as ameaças sucessivas de chumbo da lista da Câmara se “o seu inimigo de estimação” – Ricardo Costa – não subisse um lugar na lista. Poucos perceberam que era o rico que estava a pedir ao pobre e não o contrário.
A verdade é que o silêncio passou a imperar entre os protagonistas da cúpula do PS, deixados cada um para o seu canto, numa guerra surda que, a manter-se, só teria um perdedor: o próprio PS de que todos dependem e se aproveitam. E esquecem que o tempo e o dia em que o PS perderá as eleições em Guimarães está a contar e há-de chegar, sabe-se lá quando!
Bragança adiou, adiou, escondendo a sua decisão, para vencer pelo cansaço, Luís Soares e a sua tolice, sabendo que era óbvio que o presidente da Câmara iria manter a sua equipa – e não se desfazer dela -, ainda para mais quando falta apenas um mandato para cumprir o seu ciclo presidencial. E os candidatos alternativos a vereadores não são lá grande coisa, apesar dos elogios com que brindam entre si e das habilitações que podem ter.
Quando, ontem, todos esperavam que confirmasse a sua lista – pretensamente com os mesmos vereadores mais umas caras novas a partir do 7º lugar, Bragança voltou a adiar a sua decisão, mostrando temer o chumbo que mais não era do que uma nuvem de fumo que lhe colocaram na frente e pela qual poderia passar facilmente.
A pandemia foi a melhor desculpa para Domingos Bragança ter um método para sentir o pulsar dos membros da comissão política. Ele queria perceber, melhor, se podia avançar com a sua lista, sem entender duas coisas: primeiro a questão do número 2 não se punha, apesar de agitada nos meios socialistas; e que o chumbo o transformaria em mais uma vítima de Luís Soares e lhe daria ainda mais conforto para liderar o partido-capelinha em que está envolto o PS, fortalecendo a sua liderança.
Da mesma forma que disse não saber o que pensam os eleitores sobre as obras e a acção municipal, o afastamento do povo das inaugurações, o que ficou do sofrimento de inúmeras obras lançadas em fim de mandato, os efeitos da pandemia, Bragança também não percebia como votariam a sua lista os conselheiros que, muito certamente, também nunca foram confrontados – nem instrumentalizados – para um chumbo efectivo da lista de um candidato que é de todos e ninguém contesta que o seja. E que apoiam. E que deixaram claro na reunião de ontem.
O que transpareceu da reunião para a comunicação social (ou parte dela) é um comunicado lacónico do PS de Guimarães e de Luís Soares em que enaltece a aprovação da lista da Assembleia Municipal como facto transcendente; e a posição de Domingos Bragança de que é ele quem faz a lista para ganhar as eleições de 2021 e não as de 2025 (escrita no lugar do costume), uma reacção clara aos que deixaram a ameaça de chumbo sobre o céu de Santa Clara.
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