Com maus presidentes, o presidencialismo no Vitória é um autêntico cancro, que destrói e mata o clube.
O que se está a passar, agora, com o Vitória é um mal que vem de trás. Os sócios e adeptos interiorizaram ideias que estão a destruir a essência moral do Vitória e do vimaranensismo que é marca de quem gosta de Guimarães, por nascimento ou afinidade.
No Vitória, aceita-se, por dá cá aquela palha, que qualquer sócio pode ser presidente, que gerir esta colectividade enorme é mudar de jogadores e trocar de treinadores, a cada época. E rejeita-se a ideia de que o futebol – tal como na Europa futebolística – é uma actividade especializada, na sua gestão e direcção. E bem exigente na gestão do departamento de futebol propriamente dito, que congrega inúmeras especialidades que todos e muitos julgam dominar.
Por isso, os sócios convencem-se facilmente de que para dirigir o clube não é necessário um especialista em coisa nenhuma. Ou melhor esses é que servem para inclinar o clube na direcção do arbítrio, do pântano e do fim.
Quando todos julgávamos que o Vitória estava no bom caminho – e estava, eu senti isso quando fui director no período dourado de António Pimenta Machado – eis que o Vitória se inclina, a cair, vergado aos interesses que não são os do clube.
Ainda ninguém deu por ela, como a SAD e a opção que se fez desse modelo de gestão – quando havia outro que salvaria o clube da mesma forma – tem empurrado o Vitória para as ruas da amargura. Ainda hei-de escrever mais sobre isto.
Com dirigentes bem remunerados, armados em CEO’s, com Mercedes à porta de casa e cartão de crédito para todas as despesas, o Vitória tornou-se apetitoso para quem quer gerir o clube a seu favor e não a favor da comunidade e de Guimarães.
O que se ganhou, no passado, com novas e modernas infra-estruturas, com a participação em competições europeias, com modalidades amadoras a conquistarem títulos que só eram possíveis a Porto, Benfica ou Sporting, com o património municipal – estádio – a passar para património do clube, e muitas outras conquistas de que muitos esquecem e outros tantos nem conhecem, com uma história de homens cujo amor do Vitória e a Guimarães era como um cartão de identidade, o que é certo é que tudo se esfumou.
E os oportunistas e populistas sentiram que o El Dorado vitoriano era a sua oportunidade, ainda que o escondam sob um manto diácono ou uma saia mais comprida da sua mãe.
Desta crise, os adeptos não podem lavar as suas mãos como Pilatos porque eles votam e escolhem e garantem com o seu voto, a ascensão social e económica de presidentes e directores, julgando que o clube está bem entregue… quando não está.
Entendem que gritar alto e a bom som que o Rei vai nú faz mal ao clube e à sua coesão social, é como meter a cabeça na areia como faz a avestruz. Nunca a crítica fez mal ao clube. Sempre a falta dela, fez mal ao clube.
Nunca critiquei quem discutia o Vitória e o seu dia-a-dia, a sua gestão. Esses são bons vitorianos. Criticar e ter uma opinião diferente e não dizer mal do presidente ou da direcção não é desamor ao clube ou doença grave.
O Vitória tem perdido muito por não ter sócios exigentes, sócios que discutam o seu clube, sem se deixarem levar por gostos ou relações de privilégio com este ou aquele director.
Nunca nenhum presidente ou direcção caiu pelas críticas dos sócios. Eles caíram pelos seus actos de gestão ruinosa.
Admite-se lá que o Vitória hoje, seja uma sombra do seu passado glorioso… que não estejam ao nível do Braga – de quem andou sempre mais perto.
E porquê?
Porque quem dirige o clube diz que gosta do Vitória mas não pratica essa religião. No Vitória, não faltam esqueletos de maus gestores. Sim, num clube com o potencial do Vitória, com o dinheiro que é gasto e desperdiçado todas as épocas, o que se tem conseguido? Nada que Pimenta Machado ou Gil Mesquita ou mesmo Fernando Roriz não o tenham conseguido com menos meios.
O que está mesmo a arrasar o Vitória é que os seus dirigentes actuais e pretéritos (mais recentes) olharam apenas para o seu umbigo. Não criaram nada limitaram-se a receber o que outros deixaram: um Vitória com uma moral enorme, um património como uma riqueza única e outras coisas mais.
Como dizia Içami Tiba (1) “os pais estão formando mais príncipes herdeiros do que sucessores empreendedores”.
É isso, hoje, o Vitória é comandado por príncipes herdeiros e não por sucessores empreendedores, de uma história que vai completar um século, alimentada por vitorianos comuns, mas com um enorme coração preto e branco, que serviam e não se serviam…
Não prevejo, nada de bom para o Vitória nos próximos tempos: aos maus sucederão sempre outros maus e mais vulgares dirigentes que não conhecem – nem sentem o que foi, é, ou poderá ser o Vitória. É isso que a história mais recente nos ensina e os sócios não aprendem, deixam-se dividir, perdem a sua força colectiva, tornam-se instrumentos e joguetes de quem quer gerir o clube.
(1) Içami Tiba foi um médico psiquiatra, psicodramatista, colunista, escritor de livros sobre Educação, familiar e escolar, e palestrante brasileiro. Professor em diversos cursos no Brasil e no exterior, criou a Teoria da Integração Relacional, que facilita o entendimento e a aplicação da psicologia por pais e educadores. Faleceu em 2015, vítima de cancro.
© 2021 Guimarães, agora!
Partilhe a sua opinião nos comentários em baixo!
Siga-nos no Facebook, Twitter e Instagram!
Quer falar connosco? Envie um email para geral@guimaraesagora.pt.
Assino por baixo este artigo de opinião. Paramos de ser Vimaranenses, não? Parece que sim. Deixamos de escutar Ferreira da Cunha e tantos outros, cujo amor ao Vitória e à terra Vimaranense, eram bandeiras a seguir com orgulho. Hoje, apareceram os donos de Guimarães, que mandam em tudo que mexe nesta terra de um passado Glorioso. Cobardemente calados, deixamo-nos conduzir por “chefes” cuja visão limita-se ao “umbigo” pessoal. Somos uma terra amordaçada lamentavelmente .
Concordo plenamente neste comentário os Vitorianos andam ceguinhos de todo.