NOTA prévia: este texto deve ser lido sem preconceitos nem estereótipos. Algumas afirmações referem-se ao que pode ser considerado mais frequente, sem qualquer desprimor pelo mais raro ou pelas exceções. Este texto assenta num princípio fundamental para a felicidade: não atende ao princípio da igualdade, porque somos todos diferentes, mas fundamenta o direito e o respeito pela diferença! E é neste pressuposto que atingiremos a equidade, ainda tão necessária por faltar tanto, na sociedade atual. Quando conseguirmos alcançar essa meta, todos os dias serão dias de Humanidade, não do homem ou da mulher.
A ambição de ser feliz é inerente à sobrevivência do Ser Humano. Se pensarmos nos dois estímulos básicos fundamentais para perpetuar a espécie, entendemos melhor esta necessidade intrínseca: alimentação e reprodução. Se não desse prazer, extinguíamo-nos, certamente… E ao longo dos milhares de anos de existência fomos moldando esses estímulos, em formas de obter bem-estar à margem da simples necessidade de existir. E assim se compreende a felicidade aliada ao prazer de uma refeição ou do amor que se faz. Deste encontro, surge a possibilidade de perpetuar o material genético, pela reprodução.
As diferenças que determinam a nossa diversidade vêm da herança genética, influenciada pelo ambiente, que inclui a educação, a cultura e o conhecimento, sendo decisivas para as nossas características e capacidades, incluindo a personalidade, o sexo e o comportamento sexual. Nessa diversidade, inclui-se o funcionamento do cérebro.
Os cérebros não são todos iguais! Numa época em que tanto se fala de igualdade, surge a questão: será que existem diferenças no cérebro masculino vs. feminino?
Ao longo dos anos, em diversos contextos, fui ouvindo a mítica frase que pululava no universo feminino: “os homens não ouvem nada do que dizemos!”. Fui registando observações; destaco algumas, tipicamente na base da “guerra dos sexos”. Ao masculino, é atribuído o foco numa tarefa, correndo o risco de “não ouvir”; melhor sentido de orientação; menos tolerância à dor. Do feminino, destaca-se a capacidade “multitasking”; maior impulsividade; maior capacidade de memorizar datas e eventos.
Será que a ciência nos ajuda a entender as diferenças, para construir pontes de conhecimento que levem a maior compreensão e harmonia? Claro que sim! Foi possível avaliar que o cérebro masculino é cerca de 4% maior. Mas… como em tudo, o tamanho não quer dizer nada.
No cérebro feminino, a região límbica (emoções) e a corpo caloso (maturidade) têm maior dimensão, com mais atividade; também é mais sensível à expressão facial e possui maior fluência e memória verbal. O cérebro masculino tem maior capacidade de aquisição de competências motoras, melhor orientação espacial e raciocínio matemático.
Há fatores socioculturais, biológicos (e.g. genéticos, hormonais) e ambientais, que contribuem para a diferença.
A sociedade está em mudança e é previsível que a ciência nos venha a mostrar novos dados no futuro. Mas é urgente e essencial respeitar a individualidade, no universo masculino-feminino, garantindo o direito à diferença, para viver na liberdade da escolha, no respeito mútuo, na igualdade de oportunidades e equivalência nos direitos e na diferença de ser e estar, pilares de criatividade e progresso.
Todos os dias devem ser de homens e mulheres, que na partilha possam igualar a contribuição para o bem-estar e para a felicidade comum!
Ninguém nasce a gostar de si mesmo. Vamos sabendo quem somos pelos afetos e pela humanidade com que somos educados, instruídos, tratados. Seremos melhores se nos fizerem sentir importantes, valorizados, sobretudo pelo que vamos fazendo, que determina quem vamos sendo, de preferência na paz dos sexos!
“Sejam felizes com o que tiverem à mão”©.
Manuela Grazina (Docente e Investigadora)
Manuela Grazina é especializada em Genética Bioquímica, Genética Humana, Neurociências, Farmacogenómica e Bigenómica. É Doutorada em Ciências Biomédicas, na área de Genética Bioquímica, com Pós-Graduação em Biomedicina, Mestre em Biologia Celular (especialização em Neurogenética) e Licenciada em Bioquímica (pré- Bolonha, 5 anos), pela Universidade de Coimbra.
Texto publicado no âmbito do projecto “Cultura, Ciência e Tecnologia na Imprensa”, promovido pela Associação Portuguesa de Imprensa. É uma forma de contribuirmos para as celebrações do Dia Internacional da Mulher, hoje, 8 de Março.
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