Autárquicas: os números que falam… da vitória eleitoral histórica de ‘Juntos por Guimarães’

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Fizemos um exercício de leitura, de matemática e comparamos. A compreensão e a análise vieram de seguida. E porque os números crus já contam uma história – de um acto eleitoral participado, histórico – que pôs fim a uma hegemonia de 36 anos – que deixa o PS órfão no poder autárquico. E afastado da liderança em que viveu quase quatro décadas, nas autarquias locais.

Perceber a extensão da vitória de Ricardo Araújo e a dimensão do descalabro de Ricardo Costa, é uma viagem sobre números e territórios, votos de vimaranenses que, na sua maioria, nunca revelaram a sua tendência, pese alguns terem forçado o voto na direcção que lhe convinha.

Ricardo Araújo tornou-se, pela sua vitória estrondosa, um herói e o restaurador da governação de António Xavier que foi única, até agora, em Guimarães; e Ricardo Costa virou o vilão e o carrasco da derrota eleitoral que deixou murchar uma rosa consumida pelo tempo e mais vestuta do que fresca.

A parafernália de acções de publicidade e propaganda, numa campanha que cansou os eleitores – fartos de ver caras e não corações – foi desenhada com tendências de um passado recente, de um partido – que se tornou quinta de vários donos e já tinha o sentir do pulsar do povo que abraçou agora a hora da mudança. 

Os antecessores de Ricardo Costa, evitaram sempre, confrontar-se com a angústia da primeira derrota, adiada no tempo. Mas “o inevitável teria de acontecer”, um dia, sem que ninguém adivinhasse quando.

Do outro lado, da oposição social-democrata e centrista, o drama era o mesmo, ora esperando que o poder caísse como maçã podre, ora escolhendo líderes que ia passando apenas a chama da esperança da vitória, de uns para os outros.

Com um PS fragmentado – que fez perdurar uma divisão profunda, nunca vista, para além dos abraços e elogios mútuos entre socialistas, na campanha – a hora da mudança surgiria com naturalidade, silenciosa como sempre, para colocar um ponto final num ciclo de 36 anos, alimentado por vícios que se pensavam eternos mas que cansaram os votantes que aproveitaram a boleia do poder central para aliar o Governo a uma Câmara da mesma cor partidária.

Os eleitores aniquilaram a liderança socialista, no Município, nas freguesias e na administração local paralela, onde não faltam vícios, pouca exigência e se acentua “o quero, posso e mando” de alguns, com a maior das impunidades e com reflexos de um poder totalitário, curiosamente, à base de homens. A liderança de quintal, de empresas longe umas das outras e viradas de costas para o Município, de onde esperavam apenas receber a sua quota de participação do orçamento municipal, deixa resquícios de corrupção e compadrios na admissão de pessoal, na usurpação de funções e sabe-se lá que mais…

Concorrendo pela primeira vez, Ricardo Costa ficou com a ‘fava’ da derrota que afastou o PS do poder em Guimarães. © Direitos Reservados

Pelos resultados divulgados, Ricardo Araújo atingiu os 45.650 votos e Ricardo Costa os 37.754. A vantagem de Ricardo Araújo é clara: 7.896 votos a mais, quase tantos como os obtidos pelo Chega (8.103).

Ou seja, os candidatos entraram nesta corrida fazendo percursos inversos: Ricardo Araújo começou da linha de partida para a meta e venceu; Ricardo Costa saiu da meta para a linha de partida e perdeu!

O candidato de ‘Juntos por Guimarães’ não venceu só o líder do PS (Toural), resistiu ao líder do PS (Câmara), cujas obras realizadas no concelho davam para vencer qualquer eleição, sem favores e facilmente, tal como no passado.

Só quem não conhece o frenesim de inaugurações, de 2025, levado a cabo por Domingos Bragança, no exercício do seu mandato e os montantes envolvidos é que não percebe como Ricardo Araújo ganhou a dois líderes socialistas que, desde cedo, marcaram as fronteiras da divisão do seu partido.

Domingos Bragança ficou mesmo com o título de ‘O Último Moicano’ dos socialistas, interrompendo uma herança política que se julgava eterna, alimentada por poder e benesses do Município.

Este descarrilamento – entre os PS’s instalados em Santa Clara e no Toural – foi fatal, sem que os “doutores” da estratégia socialista percebessem os sinais de fumo de uma casa a arder e o cansaço da população perante uma elite que pedia o voto ao povo mas governava mais a seu favor. 

Quem percebeu os sinais dos tempos foi Ricardo Araújo cuja estratégia teve muito a ver com a prudência – só no dia da votação se ganham as eleições – e foi ganhando terreno em cada batalha. Assegurou, primeiro, o que já tinha nas freguesias e conquistou outras ao inimigo que se vangloriava de que “isto é tudo nosso, de que qualquer um que se candidate pelo PS… ganha”.

Números que cantam… a vitória de Araújo!

Hoje, só contabilizamos os votos para a eleição da Câmara, a sede de todo o poder municipal onde se elaboram orçamentos, e se fabricam as estratégias.

Ricardo Araújo num universo de 25 freguesias (onde a coligação ‘Juntos por Guimarães’ fez o pleno, isto é venceu para a Câmara, para a Freguesia e para a Assembleia Municipal), teve mais votos do que Ricardo Costa. Somou 25.265 votos contra 16.276 do seu adversário político (em 20 freguesias).

JUNTOS POR GUIMARÃESVOTOS CMG
Abação e Gémeos1.036
Airão Santa Maria566
Airão São João385
Aldão570
Azurém2.429
Briteiros São Salvador e Santa Leocádia687
Candoso São Tiago e Mascotelos1.147
Costa1.872
Creixomil2.816
Infantas551
Lordelo1.072
Oliveira, São Paio e São Sebastião2.125
Pencelo390
Prazins Santa Eufémia437
Ronfe1.539
Sande São Clemente531
São Faustino364
São Torcato1.275
Selho São Cristóvão627
Selho São Jorge1.606
Serzedelo431
Souto Santa Maria, São Salvador e Gondomar838
Tabuadelo688
Vermil404
Selho São Lourenço e Gominhães879
TOTAL:25.265

No mesmo universo em que o PS venceu em 20 freguesias – nos mesmos três orgãos – somou 13.317 contra 10.920 de ‘Juntos de Guimarães’.

PARTIDO SOCIALISTAVOTOS CMG
Atães e Rendufe739
Barco454
Calvos327
Candoso São Martinho400
Corvite312
Gandarela538
Gonça387
Gondar588
Guardizela538
Moreira de Cónegos1.225
Nespereira664
Polvoreira1.037
Ponte1.763
Prazins Santo Tirso410
Sande São Lourenço e Balazar544
Sande São Martinho697
Serzedelo1.000
Silvares675
Briteiros Santo Estêvão e Donim656
Conde495
TOTAL:13.449

Num segundo grupo, de freguesias (3) onde o PS ganhou para a Junta e perdeu para a Câmara, Ricardo Araújo obteve 1.230 votos e Ricardo Costa 1.137, nas freguesias de Arosa e Castelões, Longos e Sande Vila Nova.

Finalmente, em freguesias (7) onde o PS perdeu para a Câmara e Assembleia e só ganhou para a Junta de Freguesia, os votos ficaram assim repartidos: Ricardo Araújo 8.227 e Ricardo Costa 7.024, assim descriminados.

FREGUESIASJUNTOS POR GUIMARÃESPS
Brito1.3511.201
Caldelas1.7021.701
Fermentões1.3951.180
Leitões, Oleiros e Figueiredo480382
Mesão Frio1.3451.095
Pinheiro393272
Urgezes1.5611.195
TOTAL:8.2277.024

Resumindo, a coligação ‘Juntos por Guimarães’:

  •  Venceu em todos os órgãos (Câmara, Assembleia Municipal e Assembleias de Freguesia) em 25 freguesias; 
  • O PS só fez o pleno em 20, teve três em que ganhou para a Freguesia e Assembleia Municipal e em sete (7) perdeu simultaneamente a votação para a Câmara e Assembleia Municipal.

Nesta contabilidade eleitoral partidária, regista-se que mesmo ganhando para a Freguesia, o PS teve menos votos para a Câmara em (3) Arosa, Longos e Sande Vila Nova.

O mesmo se aplica em freguesias (7) como Brito, Caldelas, Fermentões, Leitões e Figueiredo, Mesão Frio e Urgezes onde os candidatos das freguesias ganham mas Ricardo Araújo venceu com mais votos.

Depois, as conquistas de Ricardo Araújo sobre Ricardo Costa sentiram-se em Azurém, Candoso São Tiago e Mascotelos, Infantas, Lordelo, Pencelo, Ronfe, Selho São Cristovão, Serzedo, Souto Santa Maria e Gondomar e Tabuadelo onde o PS imperava. Ou seja, Ricardo Araújo venceu na casa do adversário o que reforça o valor do seu triunfo.

Mesmo na contabilidade de ganhos e perdas, as conquistas de Ricardo Araújo foram (20), manteve em 14 e só perdeu uma. Em Sande Vila Nova, a candidata do PS ganhou para a Freguesia mas Ricardo Araújo teve mais votos para a Câmara.

Neste ‘tsunami político’, Ricardo Araújo conquistou a maioria absoluta dos lugares na Câmara (6), transformou o PS (4) naquilo que foi quase sempre o PSD e CDS-PP no órgão executivo uma oposição que teve expressão maior quando conseguiu eleger cinco vereadores, ao longo dos 36 anos de poder socialista.

Outra curiosidade numérica é que as Autárquicas de 2025 foram:

  • As que mais afluência tiveram neste ciclo eleitoral desde 2013, com 100.679 votantes;
  • As que mais votos a coligação ‘Juntos por Guimarães’ obteve 45.650;
  • Só em 2017, Domingos Bragança teve mais votos (49.550) do que os de Ricardo Araújo, hoje;
  • Ricardo Costa desceu a fasquia dos 40 mil votos, alcançando 37.754, inferiores aos obtidos em qualquer um dos mandatos de Domingos Bragança.

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