A retoma da actividade cultural seguiu o ritmo de uma passada, pé ante pé, até que Setembro defina o ritmo até 2021. Adelina Pinto sabe que paira sobre a programação cultural a incerteza, uma espada bem maior do que a de Dâmocles…
Apesar do relativo sucesso do “desconfinar” que levou alguns espectáculos às ruas e praças da cidade, o que ressaltou da retoma cultural em Guimarães, foi o acordar do talento de alguns “artistas” vimaranenses para quem se olhava de soslaio e com desconfiança.
O que se viu é que há criadores, de música, de letra, de encenação, do espectáculo, da produção que não podem ser meras peças sobressalentes da engrenagem cultural. É evidente que eles próprios não devem descurar um processo de formação e de actualização, até para que se possam impôr e mostrar que entre o que se vai vendo, por aí, de fora, também temos igual ou melhor, de gente cá dentro capaz do “bom e do melhor”, sem que tal signifique que já tenhamos uma plêiade de artistas de alto gabarito.
A experiência foi interessante, os projectos engraçados, abusou-se do streaming e não se olhou a amigo para atingir os fins. Substituir o público por uma transmissão, via Facebook, pode ser um remedeio mas não uma prática, porque cara e por parecer que estamos a dar gato por lebre.
A vereadora Adelina Pinto tem algumas razões para se “orgulhar” do “êxito” de algumas produções, não terá tanto em outras. Mas fez um esforço para depois do “cancelamento a 13 de Março”, de tudo o que era actividade cultural, tentar ressuscitar uma “agitação” cultural sobre quem se coloca a dúvida, de como se organizará e em que moldes pode ser apresentada ao público.
Por isso, o olhar para o horizonte cultural, ainda encoberto, pela incerteza gerada pela pandemia, se baseia em esperanças e não num optimismo. O facto de o público ter ainda cadeiras contadas e separadas para assistir aos espectáculos, de também, à distância de dois ou três mêses se antever a chegada do Inverno, de o espaço público não pode ser utilizado em toda a sua extensão, a programação cultural pode ter muito…ou nada, em função de vários factores, sempre com origem na influência da Covid-19.
“Hoje é hoje, amanhã é uma incerteza” – afirma a vereadora para de certo modo explicar a sua impotência sobre como conhecer e saber o que será o futuro. O “desconfiar” e as comemorações do 24 de Junho foram uma espécie de balão de ensaio do que pode continuar a ser a realidade cultural de Guimarães.
Mas num concelho de imensas festas, todas adiadas ou celebradas e evocadas em cartazes e em memória, com a tristeza latente por falta de animação, a espera, por dias melhores, também é inquietante. E a vida segue com eventos de menor escala, quase sempre de cadeiras vazias, e com meia dúzia de espectadores a marcar presença.
Mesmo as cerimónias oficiais marcantes, da história de Guimarães, como o 24 de Junho, sofrem por não se poder afirmar todo o seu significado histórico, cultural e social.
E para o futuro? Haverá mesmo ideias e projectos que nos leve a celebrar o 24 de Junho de 1128, de outra forma, menos protocolar e oficial, mais bairrista e festa do povo e da cidade?
Adelina Pinto entende que “o 24 de Junho será sempre uma marca que nós queremos continuar a alimentar”. Este ano, “foi celebrado de forma reservada, lançámos uma música evocativa, simbolizando a esperança no futuro”.
Mas – lembra – “daqui a pouco, estamos já em 2028, quando a Batalha de S. Mamede comemora 900 anos”. A efeméride tem de ser projectada e organizada como marca nacional.
“Temos de fazer pedagogia e lembrar-lhes que este 24 de Junho não tem nada a ver com o S. João…”
A Câmara Municipal continua a fazer o que lhe possível, para que o 24 de Junho de 1128, seja, hoje, amanhã e sempre, uma data nacional, um feriado, pretensão que “temos levado ao Primeiro-Ministro e ao Presidente da República”. Também junto dos vimaranenses “temos de fazer pedagogia e lembrar-lhes que este 24 de Junho não tem nada a ver com o S. João…”
E que ecos chegam de Lisboa, a estas pretensões? “Todos dizem entender a nossa pretensão, que sim, mas não se passa daí” – esclarece a vereadora que não acha “fácil que se possa reverter esta posição”.
Mas… e comemorar o 24 de Junho como um dia forte de Guimarães e da sua comunidade, quiçá, com comemorações de uma semana ou de um espaço temporal mais largo?
“A feira Afonsina que quisemos mais centrada na Fundação do Condado Portucalense, apontava nesse sentido. Também quisemos dar-lhe uma feição mais pedagógica e até juntar-lhe o conhecimento com as jornadas históricas. Acho que só continuando a produzir conhecimento sobre a data e o seu significado é que podemos merecer que o dia Um de Portugal, seja uma data nacional porque foi aqui que tudo começou, na primeira tarde portuguesa”.
Sobre o “Impacta” o programa de apoios do Município às associações e artistas e às suas iniciativas e produções culturais, Adelina Pinto analisa as candidaturas apresentadas.
“São todas candidaturas Covid-19, apresentadas por candidatos que normalmente não se sujeitariam às regras do Impacta. Beneficiaram pessoas, ligadas ao sector cultural, que trabalhavam fora de Guimarães” – revela a vereadora.
Sobre o número de “pessoas individuais” que apresentaram propostas, Adelina Pinto acrescenta que “também por isso as candidaturas apresentadas têm essa diferença, pois eram às associações que antes se candidatavam mais”.
Um comentário também sobre a qualidade dos projectos que se apresentarão por aí, como projectos culturais, a vereadora, afirma que “têm qualidade, feitas por gente que voltou a casa”. Explica que o critério para a sua aprovação se baseia “num cruzamento e num olhar diferente, tentando abranger o maior número possível de pessoas para chegar a um maior número de candidatos e projectos”. O que nem sempre se consegue, pois quantidade não é sinónimo de qualidade. A vereadora concorda que “noutras circunstâncias, alguns projectos não teriam sido apoiados”, admitindo que a sua aprovação possa ter sido “uma resposta para gente que estava a zero”. Espera que a qualidade dos projectos se confirme e alguns sejam “interessantes” como podem demonstrar as suas justificações na candidatura.
Os projectos candidatos ao Impacta, são de vária índole, vão realizar-se no espaço público, alguns são projectos de co-criação, numa diversidade que deixa a vereadora da cultura expectante. Há mesmo apoios para a edição musical, de discos ou dvd’s, de livros e até à circulação de artistas vimaranenses pelo estrangeiro.
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