O PS vive um dilema, de saber o que vale mais: se a maioria (agora diminuída) que levou Luís Soares para a presidência da comissão política da concelhia, se a mobilizadora e retumbante votação em Ricardo Costa, para a presidência da Federação, que arrasou o equilíbrio interno na concelhia de Guimarães.
A maioria de Luís Soares, sufragada a 1 de Fevereiro, deste ano, que o elegeu para presidente da concelhia do PS Guimarães, está posta em causa pelas eleições de 18 de Julho que deram a Ricardo Costa uma expressiva votação no mesmo universo eleitoral, nas eleições para a Federação distrital.
Luís Soares conquistou a sua posição com apoios que agora lhe faltam: do próprio Ricardo Costa e dos militantes que o apoiam e de ex-apoiantes que estavam consigo e agora já não estão, caso de Manuel Silva (Guardizela) – que muitos elegem como o líder do sul de Guimarães, e de outros.
Neste campeonato político e restrito de Luís Soares contra Ricardo Costa, é claro que a balança pende para Ricardo Costa. Ainda para mais quando, no concelho foi sempre o presidente da concelhia quem mais votos pediu para Joaquim Barreto, apostando claramente numa derrota do seu companheiro de viagem política. Luís Soares mobilizou tudo, percorreu todas as capelas socialistas, activou as mulheres socialistas que, pelo telefone, insistiam no voto em Barreto, sabe-se lá se invocando que Deuses ou argumentos.
A primeira ilação que se pode tirar é que, no confronto directo, Ricardo Costa ganhou de forma limpa, sem expor a sua imagem e carácter, sem truques, nem manobras. Luís Soares perdeu e ficou com um rótulo nada agradável, por querer mudar a direcção do vento que soprava no PS, arregimentando militantes para a sua causa e compromisso pessoal. Há quem entenda que a palavra dada por Luís Soares a Joaquim Barreto nunca poderia ser a palavra dos militantes em geral ou da concelhia de Guimarães, em particular, por se tratar de uma questão não plebiscitada e apenas de honra pessoal (do próprio Luís Soares) à qual ninguém se poderia sujeitar ou obrigar.
Mais: Ricardo Costa, ficou com uma honrosa classificação de candidato que não ganhou porque lhe faltaram os votos dos seus “amigos” de concelhia, cujos interesses pôs a nú e em dúvida, no futuro.
Analisando, as duas maiorias, logo se percebe que as diferenças, são notórias: Luís Soares foi eleito com os votos de Ricardo Costa e seus apoiantes, o que diminuiu a sua legitimidade eleitoral que já não representa o mesmo universo de militantes; a maioria de Ricardo Costa, é nova e fresca, tem o sabor de ter sido obtida contra tudo e contra todos e mesmo contra Luís Soares e outros dignitários socialistas, habituados a dirigir a concelhia como se de uma monarquia política se tratasse.
Se a legitimidade eleitoral dos dirigentes e cliques partidárias se vai medindo, pelos sucessivos actos eleitorais, a verdade é que Ricardo Costa vale, hoje, mais do que Luís Soares, que anda a empurrar com a barriga a falta de unidade socialista local – com um simples truque: fazer esquecer os resultados das eleições Federativas e até os resultados que o colocaram no pedestal de “rei” da concelhia vimaranense, onde parece dispor de poder absoluto – tolerado e perdoado por socialistas republicanos e laicos. E como se o 18 de Julho também tivesse sido banido do calendário, deste ano de 2020.
Neste contexto, o actual presidente da concelhia não procura nem o consenso, nem o diálogo, apostado que está – com o apoio de outros e outras – em passar uma esponja pelo passado recente, marginalizando uma grande parte dos militantes socialistas, aliados de Ricardo Costa, e impondo uma liderança fraca, através da sua engenhosa liderança – alguns defendem que foi inspirada na banalização do mal, na teoria de Hannah Arendt – e de um secretariado que também olha para o lado, sem que ninguém perceba que o PS não é unitário, nem a mesma coisa desde Fevereiro passado.
Com a mesma ligeireza, à vontade, e prepotência com que desviou Ricardo Costa da rota da presidência da Mesa da concelhia que marcava o consenso e a unidade do PS, ajudado pelos mais fundamentalistas, de uma estrutura dividida, Luís Soares cria a ilusão de que está a trabalhar para os combates eleitorais, ignorando uma parte considerável de militantes que já não lhe reconhece as qualidades que o elegeram, o que o coloca como um novo apóstolo de uma nova filosofia partidária, baseada nos princípios de uma democracia de exclusão. E lá anda, como se de um presidente da Câmara se tratasse, a ver obras que o Município promove, a ouvir presidentes de Junta de Freguesia, como se tivesse poder para interferir ou influenciar a gestão municipal liderada por Domingos Bragança. E fá-lo com os seus acólitos que embarcam na falsa ideia de que “o PS somos nós (eles)”, e os outros não contam, numa prática rotineira, e para a fotografia.
Ora, ninguém tem dúvidas, de que com as suas atitudes, Luís Soares levou o PS ao extremo – nunca visto na estrutura local, nem no tempo da tão famosa minoria, que se ia opondo a António Magalhães – e insiste, depois dos actos eleitorais, em rumar ao abismo, deixando a unidade socialista à beira de um ataque de nervos.
É evidente que o bom senso de alguns começa a imperar, o que leva os mais responsáveis a perceber que a estratégia suicida de Luís Soares não leva o PS para bom porto. E a leitura do peso, importância e valor de Ricardo Costa, é algo a ter em conta na nomenclatura local, que não pode dourar a realidade, não compreendendo o fenómeno político em que se transformou Ricardo Costa. Quem quiser ignorar ou não perceber qual é, agora, o peso da sua representação e dos que o apoiam dentro fora do partido, pode ser surpreendido já na próxima comissão política, cuja composição se começa a desnivelar sem que LS se dê conta do que pode acontecer. Há várias maiorias que se podem estabelecer na comissão política que não passem sequer por Luís Soares. Luís Soares beneficiou do “aval” e da inocência de Ricardo Costa quando constitui a actual comissão política, à base de amigos e de militantes de Caldelas. E desperdiçou esse capital de confiança, pois, hoje, não escolheria nem um terço dos 61 membros da comissão política.
No PS, em Guimarães, o que se pode dizer é que há “Tantos beijos por dar” para repor a unidade perdida e sarar uma ferida que o tempo pode ajudar a recuperar, ainda que com ganhos e perdas, porque o que se passou de Fevereiro a Julho foi um ataque à alma do partido e à sua essência republicana e laica, ferozmente agredida por populismos – provindos de uma corrente mais católica que está a chegar ao partido.
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