Viver perto de um parque não chega: é a frequência com que se usa o espaço verde que faz realmente a diferença para a saúde mental e física. Esta é uma das principais conclusões do estudo ‘Impacto dos espaços verdes na saúde mental e física’, apresentado esta Segunda-feira no Laboratório da Paisagem, na presença do presidente da Câmara Municipal, Domingos Bragança, da presidente do Laboratório da Paisagem, Adelina Pinto, do presidente do Conselho Português para a Saúde e Ambiente, Luís Campos e do presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), José Pimenta Machado.
Um estudo desenvolvido pelo Laboratório da Paisagem, Escola de Medicina da Universidade do Minho (UMinho) e pelo Instituto Superior de Saúde (ISAVE) considera que mais importante do que viver à beira de um parque é “a frequência da sua utilização”.
É isso que faz a diferença que resulta de “um estudo que envolveu 501 moradores da envolvência de áreas verdes municipais – e cruzou dados sobre proximidade, uso, percepção e impacto nos indicadores de saúde”.
Divididos entre quem vive a menos e a mais de 300 metros das zonas verdes, os inquiridos foram entrevistados, em Março, com base numa matriz de quotas por género, idade e localização, num total de 17 entrevistadores.
“A relação com a depressão, embora presente, mostra-se mediada por outras variáveis.”
As conclusões são claras: “A proximidade física aos parques não se revelou estatisticamente significativa, nem em termos de sintomas psicológicos, nem na qualidade do sono. Por outro lado, a frequência de utilização dos parques foi identificada como factor determinante na melhoria dos níveis de ansiedade, stress e sono. A relação com a depressão, embora presente, mostra-se mediada por outras variáveis, como o rendimento ou a condição profissional”.

Também no domínio da actividade física, o estudo confirma que a proximidade é importante: quanto mais longe as pessoas vivem dos parques, menos tempo dedicam por sessão à prática de actividade moderada. A regularidade no uso dos espaços verdes influencia positivamente os níveis de actividade física, sobretudo na vertente da caminhada e do esforço moderado.
A análise socio-económica revela um contraste relevante: pessoas com rendimentos mais altos valorizam mais os espaços verdes, mas frequentam-nos menos. Por outro lado, quem tem menos rendimentos é quem mais usa estes espaços – uma tendência que reforça a importância de políticas públicas que promovam activamente a sua utilização. Neste sentido, os autores do estudo sublinham que não basta construir ou conservar parques, sendo fundamental fomentar a sua utilização regular.
“A natureza só tem efeito terapêutico quando se transforma em experiência vivida, regular e activa.”
Pedro Morgado, da Escola de Medicina da Universidade do Minho, considera que o estudo veio reforçar uma ideia-chave para a saúde mental urbana: “A natureza só tem efeito terapêutico quando se transforma em experiência vivida, regular e activa”. O investigador defende que “viver ao lado de um parque pode ser irrelevante se não houver envolvimento da população no seu uso”, destacando ainda a importância de medidas concretas: desde a acessibilidade e segurança até à existência de programas de actividade social e física nesses espaços, incluindo actividades escolares.
O estudo vem suportar o trabalho que Guimarães tem realizado no âmbito da estratégia verde radial, cidade que será Capital Verde Europeia em 2026. Esta estratégia prevê a construção de três cinturões verdes concêntricos: um primeiro na zona urbana e dois no exterior da cidade, com 20 e 42 quilómetros, respectivamente. “Estes cinturões de árvores vão fazer a ligação entre as zonas verdes, os parques e as ecovias, melhorando a acessibilidade, que é precisamente uma das barreiras identificadas no estudo”, explica Carlos Ribeiro, director-executivo do Laboratório da Paisagem. Quando estiver concluído, o anel mais externo deverá circunscrever 74% da população do concelho.

O projecto ‘Bairro C’ – iniciativa piloto de regeneração urbana com foco na sustentabilidade ambiental e ligação de corredores verdes – está já a criar o primeiro desses anéis, com 11 quilómetros de cintura verde na malha urbana. Refira-se que entre 2012 e 2023, Guimarães aumentou em 95 hectares a sua área verde, dispondo hoje de dois grandes parques urbanos com 30 e 39 hectares, localizados a leste e a oeste da cidade.
O estudo avaliou também as emoções associadas às alterações climáticas, que surgem como factor de stress. As sensações mais invocadas pelos vimaranenses foram tristeza (32%) e impotência (23%), seguidas de mágoa, ansiedade e medo. Os utilizadores mais frequentes dos parques são também os que revelam maior preocupação ambiental e uma maior disponibilidade para contribuir financeiramente para soluções: mais de 1% do salário mensal, em média.
Sublinhe-se que Guimarães tem em marcha um plano para atingir a neutralidade climática até 2030, com acções como o projecto PEGADAS – iniciativa municipal de educação ambiental dirigida à comunidade escolar -, que já envolveu 19.300 alunos e 1.700 professores em práticas sustentáveis.
O estudo seguiu uma abordagem integrada de saúde pública, alinhada com os conceitos de ‘One Health’ e ‘Exposoma’, reconhecendo a interdependência entre saúde humana, ambiente e ecossistemas, e os impactos cumulativos das exposições ambientais e sociais ao longo da vida.
Refira-se que o mesmo foi financiado pelo POCTEP Green Gap, um projecto apoiado pelo INTERREG Portugal-Espanha, que promove o conhecimento e a valorização das infra-estruturas verdes urbanas.
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