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Domingo, Novembro 24, 2024

A solidariedade tem rostos

Economia

Foi espontânea, assumiu-se como sentimento, repetiu-se – porque
a solidariedade manifesta-se noutras formas – foi exemplar. Um grupo de empresários quis saber as necessidades do Hospital e comprou o equipamento em falta e que era mesmo uma necessidade. E evitou caso como Pedrógão Grande, não dando dinheiro para um saco sem fundo.

No Norte, a solidariedade tem rostos, é sentida, espontânea, muitas vezes – percebe-se a resposta de quem dá – é sim, antes de ser pedida ou expressa. Quem dá, nunca espera receber, nem passa recibo. É algo humano que se aprende, desde pequeno, pelos seus progenitores, também eles solidários. Homens e mulheres, oferecem o que podem, mesmo em tempos de crise; empresas e empresários, estão sempre a doar, de forma solidária.

Basta ver os cartazes das festas populares e dos grupos desportivos – que anunciam os seus jogos. Estão colados nas portas dos cafés, em locais públicos. Ali se vê, quem apoia a Festa de S. Tiago, o Clube Operário de Campelos, o Xico de Holanda e assim sucessivamente, em todas as freguesias. Até nas actividades culturais ou no apoio à edição de livros, os vimaranenses apoiam, num gesto de solidariedade, todos os anos, umas vezes mais e outras menos.

Também as instituições sociais recebem. Se pudéssemos somar os contributos que são dados por empresas, empresários, e simples cidadãos, o bolo teria uma expressão monetária tão grande quanto os corações de quem dá. E mesmo a Igreja também tem direito a esta solidariedade expressa em várias formas.
Quem é que diz não, a um pedido ou solicitação?
Não há estatísticas mas o que se nota é que há sempre uma vontade de ajudar. Até quando a crise é mais severa. Muito ou pouco, todos dão com prazer. Sem trocas, por amizade, por consideração, pelo objectivo. O provérbio “para este peditório já dei”, é, nestes casos invertido e ao ser praticado torna-se no “para este peditório, dou sempre”!

O vírus Corona não veio despertar esta solidariedade. Antes, reafirmou-a, sem vaidades, mobilizou-se sem qualquer pedido. Todos queriam dar, pela causa, porque ver pessoas a morrer, despidas de qualquer dignidade, sem um funeral decente, quantas vezes com o padre e um familiar presente – como na Itália – deixa marcas e faz soltar o ser humano que há em nós e o que tem de melhor: o amor ao próximo.
E, mais brutal e desumano ainda, é ver partir um ente querido, sem uma despedida formal, um adeus sincero e comovido, com um beijo e muitas vezes um adeus chorado, que nos faz tantas vezes revoltar intimamente porque a morte é um corte fatal na nossa aliança com a família e com os amigos. E com este mundo.

Todos nós, nos sentimos atónitos, comovidos, impotentes, ao ver partir – aqui, em Espanha ou na Itália – tanta gente surpreendida e atacada, de soslaio, à traição, sobretudo os mais idosos ou aqueles cujo sistema imunitário é mais frágil. Ao princípio era assim, mas depressa o Corona se tornou num atirador de elite, qual sniper que procura o seu alvo, entre a multidão, sejam eles velhos ou novos, homens ou mulheres.
Apesar da sua benignidade, o vírus espalhou o caos, a incerteza, porque ninguém sabe se ele está atrás da porta, na tampa de uma mesa, na fruta do supermercado, no papel de jornal, enfim, em tanta causa, sem dar a cara e nos enfrentar. É, pois, um “bicho” cobarde, que não nos deixa ripostar. Só o tempo lhes faz frente, só a nossa imunidade o confunde e derrota. Nesta luta, todos somos pequeninos, até a ciência descobrir a arma letal para o derrotar. Até lá, é o sofrimento, a desconfiança, o cuidado, o lavar as mãos…

Joaquim Almeida aliou-se a outros empresários. © Direitos Reservados

Em Guimarães, a solidariedade saiu à rua, com diversas expressões e sentimentos, de forma organizada ou informal. Tornou-se uma bandeira de algum voluntarismo, mas deixa no seu rasto uma tremenda solidariedade – qual união que nos devia cimentar, para sempre.
O seu primeiro alvo, foi o Hospital Senhora da Oliveira – uma estrutura de saúde – a merecer melhor atenção do Estado, em plano de igualdade com outros hospitais do país.
Veio ao de cima, a falta de equipamentos, de material sanitário e outro mais especializado para a Unidade de Cuidados Intensivos (UCI), onde tendem ficar os doentes em risco. Com o voluntarismo habitual – também português – lá chegaram máscaras, desinfectantes, viseiras, lençóis, num primeiro impulso.

José Arantes organizou solidariedade dos empresários. © Direitos Reservados
Fátima Sousa confirmou apoio de Domingos de Sousa & Filhos. © Direitos Reservados

Depois, Vítor Magalhães, empresário, homem de Guimarães, deu o pontapé de saída, na concretização da solidariedade, oferecendo 10 ventiladores, a bóia de salvação para os infectados internados ou não na UCI.
A seguir, outro grupo de empresários e gente identificada com a cidade e a força vimaranense: José Arantes e Amélia Costa Marques – individualmente – e com um segundo apoio das suas empresas Combitur e Francisco Vaz da Costa Marques e Filhos SA; Joaquim Almeida (Têxteis JFA), Empresa Industrial Sampedro, Fábrica de Tecidos Carvalho, Mundotêxtil (Vizela), Domingos de Sousa & Filhos e J. Pereira Fernandes.
Este agrupamento de empresas e empresários juntou 300 mil euros. E para evitar casos iguais a Pedrógão, solicitou ao Hospital uma lista com os produtos que estavam em falta e eram necessários: camas, seringas, écografo portátil, videolaringoscópicos, ventiladores invasivos, equipamentos e instrumentos com utilidade numa Unidade de Cuidados Intensivos.

Ana Pinheiro deu força ao apoio da Mundotêxtil, de Vizela. © Direitos Reservados

“A intenção não foi dar por dar”, nem assumir uma doação como “uma vaidade”. O objectivo foi mesmo dar para servir, neste momento crítico.
Durante duas semanas, houve uma troca de listas entre este grupo e o Hospital, de modo a saber o que era necessário e quem podia fornecer aqueles equipamentos e em que prazo. Chegou mesmo a haver diálogo entre quem doa e paga e quem fornece, num contacto directo e sem intermediários estranhos.

“Ninguém estava preparado, para este drama, também na América havia falta de ventiladores nos hospitais, fragilidades no sistema de saúde…

O processo de compra e venda foi transparente, os fornecedores contactados, numa prática de verdadeiro mecenato, a ajuda foi prestada, o equipamento adquirido, com os empresários a pagarem directamente o material que era prioritário.
Ou seja, camas, seringas, ventiladores e restante material prioritário chegou ao Hospital Senhora da Oliveira com a mesma paixão, o mesmo sentimento, a mesma emoção e o mesmo amor de quem entrega um ramo de flores à namorada…
Este acto de ajudar foi um impulso e uma reacção humana. “Ninguém estava preparado, para este drama, também na América havia falta de ventiladores nos hospitais, fragilidades no sistema de saúde” – revela um dos empresários. E justifica a acção porque “toda a gente que dá, é de louvar”.

Vítor Abreu e Endutex contribuiram com donativo. © Direitos Reservados

A seguir, outro vimaranense, Vítor Abreu, administrador da Endutex, em nome da sua empresas e dos seus colaboradores faz uma doação de 50 mil euros, de modo a ajudar na compra de outro material.
A solidariedade espalhou-se e estendeu-se a outras empresas, pessoas, famílias, num rodopio solidário que junta bairrismo, emoção, vontade de vencer, e luta contra o vírus.

© 2020 Guimarães, agora!

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