Dez pessoas perderam a vida durante uma greve do INEM – dez, enquanto o sistema de socorro colapsava por falta de resposta. Estes não são números sem rosto; são histórias e famílias destroçadas. E, como se a situação já não fosse suficientemente grave, a reação do Governo foi marcada por uma frase que soou tanto insensível quanto absurda: “O Governo não pode andar atrás todos os dias de pré-avisos de greve.” Essa declaração, proferida pelo Primeiro-Ministro, revela a desconexão entre quem governa e a realidade enfrentada por quem depende do socorro em situações de vida ou morte.
A greve do INEM não foi repentina nem inesperada. Foi um “grito de socorro” de profissionais que enfrentam, diariamente, a sobrecarga, o desgaste e a falta de condições para exercerem um serviço essencial. Há meses que os técnicos de emergência, enfermeiros e médicos do INEM alertam para a falta de equipamentos, para a frota de ambulâncias envelhecida e para o número de efetivos reduzido. Estes profissionais têm, literalmente, nas mãos a responsabilidade de salvar vidas. E, quando avisam que não conseguem mais garantir essa resposta com qualidade, cabe ao Estado ouvi-los e agir. Ponto.
Ignorar um pré-aviso de greve num setor tão sensível como o da Emergência Médica é uma falha que não se pode justificar com desculpas burocráticas ou declarações desdenhosas. Quando uma emergência acontece, cada segundo é crucial, e negligenciar a preparação ou a criação de um plano de contingência adequado é, no mínimo, irresponsável. Os profissionais do INEM estão sobrecarregados e mal pagos, mas a sua dedicação leva-os a continuar, muitas vezes em condições precárias, porque sabem que, a cada chamada, há uma vida em jogo. Mas, quando as suas condições se tornam tão insustentáveis que nem o mais profundo sentido de dever consegue suportar, quem está a ouvir?
Os portugueses merecem saber que podem contar com uma resposta rápida e eficiente em momentos de crise. O papel do INEM não é opcional, é vital, e os seus trabalhadores não podem ser deixados à deriva. Dez vidas foram perdidas num único episódio de greve, um número que evidencia o quão próximo o sistema está do colapso. Esta situação exige ação urgente – não basta prometer mais recursos, é preciso garantir que eles chegam ao terreno e fazem a diferença onde realmente são necessários.
O que estas dez mortes demonstram é que o Estado falhou no seu papel fundamental de proteger a saúde e a vida dos cidadãos. O episódio obriga-nos a questionar a seriedade com que o Governo encara o sistema de socorro em situações críticas e até que ponto está disposto a ouvir aqueles que, todos os dias, assumem essa responsabilidade.
No final, se o Governo não percebeu o impacto de uma greve no setor da Emergência Médica, temos um problema maior do que uma paralisação temporária no INEM: temos uma crise na própria garantia de segurança e saúde em Portugal.
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