A palavra “EMERGÊNCIA” tem sido empregue de forma recorrente e já duradoura em tudo o que diz respeito ao ambiente ou, mais precisamente, à influência do ser humano no planeta terra.
Não sendo uma palavra emergente em si mesma, tem o efeito prático e instantâneo de deixar toda a gente em alerta, tensa, preparada para fugir ou fazer das tripas coração para sobreviver ao cataclismo iminente. A palavra emergência deriva do latim emergere que significa “trazer à luz”, colocar um holofote sobre o problema e focar a atenção na resolução do mesmo. Uma emergência é não só iminente, mas também imprevisível. Uma emergência é um incêndio que se aproxima de uma aldeia, é uma picada de um animal venenoso, um acidente de aviação, situações que, após ocorrerem, possuem um período temporal de reação que se torna demasiado complexo e despropositado ser refletido em dias, muito menos anos ou décadas.
Ainda assim, existe uma parte da sociedade que se refere às alterações climáticas no âmbito de uma emergência, quando estas nem são iminentes, nem imprevisíveis, estão a ocorrer, sempre ocorreram e não será, muito provavelmente, no nosso tempo de vida que serão (des)alteradas. Essa parte da sociedade, ou um segmento dessa parte, imagina que atribuir o estatuto de emergência irá produzir uma maior sensibilidade e consciencialização da sociedade como um todo para um problema que deve ser mitigado. Se tal é a falácia então pode e deve ser desculpada, pois surge de um sentimento positivo, ainda que inocente na sua génese e perigoso na sua atuação prática.
Existem problemas na atribuição de tal estatuto, que nunca deve ser conferido de ânimo leve, pois acarreta bastantes consequências. Há uma relação muito linear entre tempo de resposta e nível democrático das decisões, isto porque uma resposta não pode ser rápida se discutida, debatida e aprovada pela maioria. O estado de emergência confere esse estatuto de resposta rápida, sem olhar a discussão nem recursos, pois não existe prioridade mais alta, pois tudo o resto fica comprometido se o problema em causa não for resolvido.
Desafio o leitor a estimar a que porto quero chegar nesta reflexão, pois acredito haver um pensamento que se começa a formar no seguimento de toda esta exploração textual. Sim caro leitor, o seu pensamento estava correto, a pergunta que se formou é legítima, a emergência pode efetivamente ser usada para oprimir, impor a tirania e a ditadura, é na verdade a forma mais simples e barata de o alcançar a partir de um estado democrático.
O segredo é reduzir aos poucos o limite a partir do qual se constitui uma emergência, até ao ponto desse mesmo limite estar ao nível do valor médio e desta forma o estado de emergência se tornar efetivamente no estado normal. Não sei se as forças que impulsionam a tese da emergência climática o fazem com este propósito, apenas defendo veemente que deve ser sempre tido em conta este risco.
No entanto, o que se torna cada vez mais claro é que não é através do ativismo que se poderá diminuir a pegada humana nas alterações climáticas, tenha ela a dimensão que tiver. Ainda que “passar a mensagem” seja importante, é também crucial a forma como essa mensagem se passa. Num mundo em que, até 2019, cerca de 30% das emissões de carbono tiveram origem na China, quase 1/3 das emissões globais, este deveria ser o principal foco de todo e qualquer ativista pelo clima. Todo o revolucionário deveria estar de prontidão e fazer um boicote a todo e qualquer produto vindo da China, em vez de gastar tinta em fachadas (made in China) ou partir vidros das mesmas (que acabarão por ser substituídos). Portanto, em vez de contribuírem para a redução de CO2, contribuem para o aumento do consumo e desperdício de recursos. A mensagem? Essa fica perdida no meio da vandalização.
Há uma verdade que o ativismo tem de engolir e só lhe cabe decidir se em seco ou empurrado por um pouco de bom senso potável, o mundo que vivemos move-se através do capital, essa é a realidade concordemos ou não com ela. Como não somos crianças, pouco ganhamos com birras, em nada conseguimos mudar uma realidade transversal a todo o planeta, o que podemos sim é adaptarmo-nos ao ambiente à nossa volta e engenhar formas realistas de mitigação das más práticas.
Não podemos esperar que as empresas de energia aceitem o risco de investimentos bilionários em projetos massivos de produção energética, projetos esses alimentados a crédito, e depois não exijam lucrar com os resultados, pois certo seria que sem essa garantia de lucro o projeto não seria executado em primeiro lugar. Não podemos esperar que o mundo todo desacelere para diminuir a produção e o consumo, porque grande parte desse mundo está ao dia de hoje a industrializar-se. Não podemos esperar por soluções milagrosas, temos de parar de chorar, levantar-nos da estrada e começar a usar a nossa melhor ferramenta, o cérebro.
E quando começarmos a pensar vamos ter ideias de como sensibilizar a sociedade a utilizar de forma eficiente a água potável, de como todos beneficiam com um espaço mais limpo, talvez incentivar as autarquias para a utilização de água não potável na limpeza das ruas, ou em vez de postar um vídeo a interromper o trânsito, partilhar a experiência de limpar uma praia.
Nesse dia, deixaremos de olhar para as Galps e EDPs como monstros e para o crescimento económico como um inimigo e podemos pensar em como aliar os dois nos levará ao desenvolvimento tecnológico necessário para produzir energia mais limpa e tornar os processos de manufatura mais eficientes na utilização dos recursos, sem colocar em causa a sua viabilidade económica.
Esta é felizmente a realidade de (ainda) muita gente por esse mundo fora, que se esforça diariamente para o melhorar, de uma forma inteligente e com classe. Mas a verdade é que não vemos esses seres nos media ou nas redes sociais, pois eles estão tão ocupados em construir o amanhã, que não encontram espaço na sua agenda para destruir o presente.
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