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Domingo, Janeiro 5, 2025

Emanuel Salvador: um músico português na Europa… que espera tocar violino até morrer!

Economia

  • É quase um português… e polaco, um concertino polifacetado que nasceu para a música. E que no seu percurso profissional se orgulha de ter tocado com a Orquestra Nacional de Espanha, a Orquestra da Rádio Polaca, em Katowice, a Orquestra da Royal Opera House e outras. A sua qualidade de instrumentista e mestre do violino, tem-lhe permitido viajar pelo mundo, tornando-se um frequentador de aeroportos, onde tem passado uma outra vida, para além da música, respondendo a constantes solicitações. Sempre (ou quase) com a Emília sua companheira e com quem constituiu família. E actuando em concertos na China, Polónia, Berlim, Lituânia, Vietnam, Hong-Kong entre outros.
  • Emanuel Salvador guarda “recordações bem vivas de Guimarães, onde começou a entender o ‘dó, ré, mi…’ notas que foi juntando nas suas composições e com as quais interpretava obras de outros compositores. O seu contacto com palcos onde se exibem os grandes compositores clássicos, permite-lhe comparar o mundo da música português e de outro qualquer europeu e nota como ambos se foram aproximando.

Como tem sido a sua carreira internacional depois de deixar Guimarães?

Felizmente, a minha carreira tem vindo a crescer na direcção que idealizo desde há vários anos a esta parte. Se bem que estou habituado a viver fora de Portugal desde o momento em que fui estudar para Londres, tento sempre manter uma ligação com o país também a nível profissional, já que creio ser uma responsabilidade minha, como violinista português de participar na vida cultural do meu país. Por outro lado, é bastante natural para os músicos terem oportunidades em vários países e não estarem cingidos a um só local. No meu caso, a questão de viver na Polónia tem a ver com o facto de me ter casado com a Emília e termos decidido a mudança para nos centrarmos no projecto da Orquestra Baltic Neopolis que ela fundou em 2008. Desde então, a nossa base é na Polónia, mas temos também muitas tournées internacionais. Para além destes concertos com os nossos ensembles, tenho tido a felicidade de trabalhar como solista ou concertino convidado das Orquestra Nacional de Espanha, Orquestra da Royal Opera House, Orquestra da Rádio Polaca em Katowice, Remix Ensemble entre muitos outros, o que me tem trazido experiências inesquecíveis.

O que espera conquistar mais nos grandes palcos da música clássica na Europa?

O que espero, em geral, é poder continuar a tocar ao mais alto nível ao lado de músicos que me inspiram a ser melhor todos os dias. Poder continuar a desenvolver os nossos vários projectos, tais como o Guimarães Clássico, a Orquestra Baltic Neopolis ou a Fundacja Stradivarius, e continuar a poder colaborar com orquestras e ensembles em programas aliciantes. Em geral, continuar a desenvolver-me como músico e violinista e a sentir-me inspirado para ser melhor todos os dias.

Ser violinista nestes palcos é o mesmo que ser pianista ou executante de outro instrumento que compõem uma orquestra clássica?

Como violinista, a minha carreira tem sido muito diversificada. É completamente diferente quando me apresento a solo, num ensemble de música de câmara, como concertino convidado, com a Orquestra Baltic Neopolis (uma orquestra que não tem maestro) onde tenho o papel de concertino/líder e por vezes tenho que dirigir. Neste caso e por causa de ser violinista, tenho essas facetas diferentes, que, caso tocasse outro instrumento, muito possivelmente não teria. 

E o que é ser concertino numa Orquestra… na Polónia?

A Orquestra Baltic Neopolis, é uma orquestra de câmara, ou seja, tem menos músicos do que uma orquestra sinfónica. Para além de não ter a figura do maestro, e como é um ensemble de câmara (tal como uma extensão de um quarteto), as dinâmicas entre os instrumentistas são mais parecidas com um ensemble de câmara do que as de uma orquestra sinfónica. Cada músico tem um papel muito mais activo do que um músico de uma orquestra sinfónica, uma vez que há mais espaço para a interacção entre um grupo menor de músicos. No meu caso, para além de ser concertino (líder dos primeiros violinos), tenho que ser um músico de câmara, um pouco de maestro, um pouco de solista e, em geral, articular os vários músicos para chegarmos a uma interpretação final.

O que gosta mais: de tocar numa orquestra ou fazê-lo a solo ou em dueto?

Felizmente gosto muito de poder tocar em diferentes qualidades, desde solo a concertino de orquestra. Em cada um destes papéis, há um denominador comum, que é poder trabalhar a grande música, e o meu papel, é, tal como um actor, de me transformar para que essa música possa ser ouvida tal como o compositor a idealizou. Como solista tenho mais liberdade, como músico de câmara tenho que “conversar” com colegas e ser parte de um todo, e como concertino tenho que ser um meio de inspirar os outros colegas da orquestra para uma interpretação comum.

“Já toquei em mais de 50 países, e em salas de concerto nos quatro continentes.”

Por onde andou… nesta Europa da música de grandes compositores?

Uma grande parte da minha carreira é passada em aeroportos! Já toquei em mais de 50 países, e em salas de concerto nos quatro continentes. Das muitas tournées que fiz, destacaria uma tournée nos EUA como solista com a Orquestra Polish Baltic Philharmonic em 2016, tournées por todo o território chinês em duo em 2015 e com o Quarteto Baltic Neopolis em 2017, uma tournée no Sudeste Asiático, várias tournées de música de câmara com artistas que admiro muito, tais como Vasko Vassilev, Bartek Niziol ou Konstantin Heidrich, para além de concertos com projectos dos nossos CD’s tais como ‘Polish Concerti’ em espectáculos desde a Polónia, Lituânia, Berlim, Vietname e Hong-Kong, entre muitos outros.

E do que mais gostou na sua carreira e tocando violino?

O que mais gosto, é sem dúvida, de toda a minha vida ser dedicada a algo que gosto, que me desafia e que nunca me deixa descansar (no sentido de ser um trabalho que nunca termina!). Poder conhecer e tocar junto a artistas que me inspiraram a crescer e que eventualmente conheci e com quem partilho o palco, é sem dúvida uma experiência fantástica. Por outro lado, poder desenvolver a minha vida privada com a vida profissional, com muitos concertos e viagens com a Emília, e com muitos amigos, é também, sem dúvida, uma das coisas que mais gosto.

Emanuel Salvador tem a música erudita no sangue. © Direitos Reservados

Na música, o que mais faz: criar novas peças ou executar as existentes, feitas por grandes nomes da música clássica?

Eu sou apenas um instrumentista, por isso limito-me a interpretar obras de outros compositores.  

Quem é o seu preferido no panorama internacional dos violinistas?

Em geral gosto mais dos violinistas do passado, do que dos modernos, mesmo havendo, hoje em dia, grandes artistas. Nomes como Oistrakh, Kogan, Gitlis são os meus favoritos, todos eles, infelizmente já falecidos.

As mulheres violinistas são melhores que os homens…?

Acho que, como em tudo, cada caso é um caso.  

Espera fazer algo mais do que ser músico?

Espero poder tocar até morrer, no entanto é muito provável que tenha que me adaptar em algum momento. Acho que esse momento ainda não chegou!  

Recordações de Guimarães e Portugal são apenas nostálgicas?

As recordações de Guimarães são bem vivas, uma vez que estou regularmente por aí. Obviamente que a família é o principal factor de ficar nostálgico quando estou fora, mas tento ver a realidade de um prisma um pouco mais abrangente já que a ideia de conciliar dois (ou mais) sítios onde me sinto em casa, é também uma possibilidade e, no meu caso, tem sido uma realidade.

“Fico muito feliz com todos os músicos portugueses que têm desenvolvido carreiras fantásticas.”

E que diferenças nota entre o universo português da música e o internacional?

O universo português da música tem, desde há vários anos, vindo a ficar a par com o que de melhor se faz a nível internacional. Fico muito feliz com todos os músicos portugueses que têm desenvolvido carreiras fantásticas, tanto em Portugal como no estrangeiro. Devido ao facto de Portugal ser um país relativamente pequeno, é também normal que as oportunidades sejam também mais escassas, no entanto, se olharmos ao que era feito há 30 ou 40 anos atrás, ou o que é feito hoje em dia, a diferença é abismal. 

É capaz de fazer uma lista de músicos que partiram de Guimarães para o mundo da música e que instrumentos executam?

Neste particular, estou provavelmente um pouco desactualizado pelo facto de estar afastado do meio. No entanto há vários músicos que são vimaranenses ou estudaram em Guimarães que estão a fazer carreiras muito interessantes. O pianista Pedro Emanuel Pereira, o violinista Álvaro Pereira, o clarinetista Sérgio Pires, os fagotistas Virgílio Oliveira e Álvaro Machado, são alguns nomes que me lembro.

Ler mais: Texto 1

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