- É o director artístico do Festival Internacional de Música Religiosa de Guimarães (FIMRG), desde há três anos;
- Tem um percurso profissional preenchido no universo da música enquanto compositor, flautista, director de orquestra e musicólogo. Vivendo em Espanha é actualmente professor de Composição no Centro Superior de ‘Enseñanza Musical Katarina Gurska’ (Madrid), a par de director musical da Orquestra de Cordas Concerto Moderno;
- As opções musicais escolhidas para este festival são da sua responsabilidade. Inclina o evento vimaranense de música religiosa para uma maior internacionalização, o que até pode ser facilitado pela época em que se realiza – a Páscoa – altura em que a cidade se enche com cidadãos espanhóis – muitos da Galiza – e de outros países, contribuindo para que a capacidade hoteleira se esgote em pleno;
- Reconhece a Guimarães potencial para se afirmar na música e num contexto nacional e internacional devido à qualidade muito assinalável das infra-estruturas existente e do trabalho desenvolvido pelas instituições artísticas e educativas da cidade, criador de talento, a julgar pelos jovens que aqui se formaram e hoje viajam pela Europa participando em concertos;
- E ao FIMRG augura um futuro em ascensão pelas características únicas que tem em Portugal.
O que lhe sugere dizer num olhar diferente sobre o FIMRG?
O FIMRG é um festival consolidado que ao longo da sua história foi tendo abordagens diversas no que respeita à programação e à calendarização, tendo encontrado uma fórmula que parece ir ao encontro das expectativas da população de Guimarães e dos seus visitantes, em particular na época da Semana Santa.
Que evoluções nota no festival e como o posiciona nos eventos que se realizam na região e no país?
A evolução tem sido no sentido de uma maior internacionalização e de uma crescente preocupação com a escolha de repertórios que para lá de religiosos sejam também adequados ao período pascal. Trata-se de uma iniciativa com características únicas no nosso país, unindo à exigência artística o foco na música religiosa, que ao longo da história da civilização ocidental, tem sido o principal pilar do desenvolvimento da arte musical.
“No final de cada edição sempre sentimos que há aspectos a melhorar.”
Como seria o FIMRG ideal?
Tentamos todos os anos aproximar-nos um pouco mais do que seria o FIRMG ideal e sempre sentimos que estamos perto. Mas no final de cada edição sempre sentimos que há aspectos a melhorar. Talvez o festival ideal seja um que, partindo das características que o distinguem e não colocando em causa o muito que tem sido conseguido, possa ter outra ambição no que respeita à comunicação e imagem, e que possa ter uma visão de longo prazo que lhe permita criar outro tipo de sinergias com parceiros nacionais e internacionais.
Que critérios seguiu para as escolhas que fez no âmbito internacional?
Tentamos normalmente que as escolhas no âmbito internacional complementem de alguma forma as que são feitas no plano nacional, de forma a apresentar uma oferta com rigorosos critérios de serviço público que levem até à população de Guimarães e aos seus visitantes – no domínio da música religiosa – as grandes criações da humanidade, o património português do passado e a criação contemporânea.
E sobre as escolhas de grupos e artistas de Guimarães?
Guimarães tem uma oferta musical de uma extraordinária qualidade e diversidade, que vai desde os coros amadores até ao ‘Quarteto de Cordas’ e a ‘Orquestra de Guimarães’. O ponto de partida da programação tem em conta os interesses e ambições desses organismos artísticos, tentando não impôr programações, mas antes, em conjunto, construir ofertas que sejam estimulantes para os artistas e relevantes para o público.
Já agora, o que conhece da música em Guimarães, desde associações a conservatórios, ensino da música e qualidade dos músicos?
Nestes três anos tive oportunidade de conhecer o trabalho dos organismos mencionados acima, além de acompanhar com interesse – na medida do possível, tendo em conta que não resido em Portugal – as outras iniciativas no âmbito da música clássica que decorrem na cidade ao longo do ano. Mas é impossível não notar a qualidade muito assinalável das infra-estruturas e do trabalho desenvolvido pelas instituições artísticas e educativas da cidade.
Que tipos de música tivemos no FIMRG de 2025?
A programação deste ano apresentou uma grande diversidade, propondo concertos com canto gregoriano, música trovadoresca, polifonia ibérica renascentista, música barroca vocal e instrumental, música coral sinfónica e obras contemporâneas.
O formato e a duração de espectáculos é o mais adequado?
Caberá ao público dizê-lo. O nosso esforço vai sempre no sentido de tornar os concertos o mais adequados possível ao contexto religioso em que se inserem e aos interesses do público, e as alterações de calendarização e horários introduzidas têm tido essa preocupação.

O FIMRG como espaço de reflexão e debate atinge os seus objectivos?
Em todas as edições tem havido espaços de debate e reflexão com temáticas relacionadas com a música religiosa. É gratificante ver que há uma boa participação de públicos jovens nessas iniciativas, sobretudo entre estudantes de música. Tentaremos continuar a trabalhar para que se possa também chegar a outros tipos de público.
Que virtualidades tem o FIMRG enquanto evento de música religiosa?
Levar até ao público vimaranense algumas das maiores criações da humanidade no domínio da música religiosa, numa perspectiva que tem tanto de enriquecimento da oferta cultural e imagem da cidade como de pretexto para um aprofundamento da espiritualidade e recolhimento próprios desta época do ano.
“Os espaços em que decorre o festival são um pretexto para a própria programação.”
Elogiou os espaços onde decorrem espectáculos, porquê?
Os espaços em que decorre o festival são um pretexto para a própria programação. Cremos que o extraordinário património edificado da cidade de Guimarães pode ser valorizado e interpelado pela diversidade das ofertas musicais que vamos fazendo, e que tentamos que sejam um contraponto vibrante à serena perenidade dos espaços que as acolhem.
Que balanço faria desta edição? É um festival para todos ou só para alguns?
O balanço é francamente positivo. As alterações de horário e calendarização que foram introduzidas ajudaram a que, apesar das condições meteorológicas pouco favoráveis, todos os concertos tivessem um público numeroso e interessado. Sendo inteiramente gratuito, o festival é para todos os que o queiram seguir. Mas é evidente que um trabalho ainda mais aprofundado nas áreas da comunicação e da formação de públicos podem fazer com que ele chegue a um maior número de pessoas.
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