- O Guimarães Clássico destacou-se na programação de Verão, implementada pela Divisão da Cultura, da Câmara Municipal, a partir de 11 de Junho e até 21 de Setembro.
- A sua qualidade artística, proporcionada pela participação de artistas de primeira linha mundial; pelo seu espírito pedagógico de conciliar a formação com os concertos. Estes atributos têm-no confirmado com uma iniciativa regular desde 2019 quando se realizou a primeira edição. E já lá vão seis, com o apoio claro da Câmara Municipal e da Direcção Geral das Artes.
- Nas seis edições já realizadas o Guimarães Clássico cumpriu vários papéis. E impulsionou a formação e a criação musical de jovens estudantes, animou a cidade em pleno Agosto, ajudou à internacionalização de Guimarães no campo da música erudita, somou prestígio a um evento que marca a agenda cultura da cidade, no Verão; deu o seu contributo ao turismo, apresentado em praças e edifícios da cidade parte dos espectáculos programados. E trouxe artistas que são líderes internacionais neste tipo de música e nos instrumentos específicos que executam.
- Por fim, o Guimarães Clássico inspira-se mais no modelo polaco do Sezczecin Classic Festival, um valor acrescentado de qualidade a que se junta a colaboração com a orquestra Baltic Neopolis, da Polónia.
- Emanuel Salvador é o seu director artístico, um jovem que iniciou a sua formação na Sociedade Musical de Guimarães e se tornou num violinista já consagrado a nível internacional, numa ascensão que o levou de Guimarães para o mundo, numa carreira que o fixou na Polónia, onde constituiu família.
É clássico… mas porque é festival e academia?
O conceito do festival Guimarães Clássico (GC) é, desde o princípio, o de conciliar a formação com os concertos do festival propriamente ditos. A formação, neste caso, tem também um sentido mais abrangente, já que os alunos que participam no GC têm um nível muito alto e por isso, para além das aulas propriamente ditas, têm uma experiência única de preparar durante o festival vários programas liderados por artistas de primeira linha a nível mundial. Esta experiência de “vida real” de artistas profissionais, é na minha opinião a grande mais valia do festival.
O que justifica uma iniciativa musical desta envergadura em Guimarães?
Guimarães tem vindo a afirmar-se como líder e exemplo a seguir na sua prática cultural com as várias iniciativas que têm levado a cabo nos últimos anos. Os vários projectos que a cidade tem vindo a promover, tais como o Quarteto e Orquestra de Guimarães, os variadíssimos festivais e as fantásticas infra-estruturas que a cidade possui, são, na minha opinião, um motivo de orgulho para todos. Por outro lado, e pelas características da cidade, um projecto de festival de Verão e academia, pareceu-me sempre um sonho a realizar. Para mim, a cidade tem parâmetros tais como a sua dimensão, beleza natural, história e tradição, atractivos de sobra para que jovens músicos de todo o mundo queiram participar.
“A cidade tem vindo a demonstrar um interesse visivelmente crescente nos concertos.”
Que balanço se pode fazer da iniciativa em seis edições?
O balanço é francamente positivo. O crescimento tem vindo a ser exponencial, principalmente nas duas últimas edições, já que pudemos fazer um festival muito mais completo, com a preciosa ajuda da Direcção-Geral das Artes. Os jovens artistas que têm passado por Guimarães, vêm, literalmente de todas as latitudes, com alunos portugueses, europeus, americanos e asiáticos. Todos ficam encantados com o que Guimarães tem para oferecer e a cidade tem vindo a demonstrar um interesse visivelmente crescente nos concertos. Tem sido o tom habitual dos nossos concertos, de estarem completamente cheios de público, tanto local, como de turistas que por aqui passam em Agosto. A lista de artistas convidados tem vindo também a crescer e estamos particularmente orgulhosos de contar em todas as edições com nomes muito importantes da música erudita a nível mundial.
Incluiu um Simpósio de Composição, com que objectivos?
O Simpósio de Composição tem como principal objectivo, fomentar a criação de música dos nossos tempos, e dar a oportunidade aos jovens compositores de terem o luxo de ter um Quarteto de Cordas com quem trabalhar as suas obras. Normalmente a criação é um processo solitário, onde o compositor trabalha as suas ideias em frente a um computador ou ao piano. Assim, creio que há um espaço para discussão de questões técnicas (por exemplo, o compositor pode não conhecer o que funciona melhor num determinado instrumento para executar a ideia que tenha em mente). Por outro lado, a maior parte dos instrumentistas de música erudita trabalham músicas de compositores que já faleceram, por isso, não há possibilidade de perguntar o que teria em mente em determinada passagem ou obra. Assim, no workshop o feedback do compositor é também uma experiência muito importante para o instrumentista, que, neste caso, pode fazer perguntas para chegar à sua interpretação final.
Que mais valias trás – e já trouxe – à cultura vimaranense em geral e ao universo musical em particular?
As mais valias do festival são a vários níveis. O público em geral pode usufruir de uma série de concertos grátis, em lindíssimos espaços da cidade, e ouvir artistas de renome mundial juntamente com a nova geração de jovens artistas. Estes levam consigo novas experiências tais como aulas, ensaios, concertos e importantes contactos que serão decisivos para a sua carreira futura, para além de conhecerem uma nova cidade, país e seus costumes. Os artistas convidados trazem a sua mestria e experiência e levam consigo a experiência de tocar em concertos com um público ávido em cultura.
O que recorda de edições anteriores?
Há muitas recordações, desde os seus primeiros passos, as dificuldades da pandemia, até à mágica atmosfera criada nos concertos das últimas edições com uma profusa adesão do público. Por outro lado, como o festival é praticamente todo preparado em Guimarães, por artistas que muitas vezes não se conhecem, é extremamente gratificante verificar que a linguagem musical nos une (tanto artistas, como público) e que aquilo que é feito durante o festival é ao melhor nível mundial. Ter trazido artistas tais como Roman Kim, Vasko Vassilev, George-Emmanuel Lazaridis ou Andriy Viytovych, muitos deles, pela primeira vez em Portugal, é uma motivação extra, já que são artistas importantíssimos.
E a data é a mais conveniente ou a que melhor se adapta ao tipo de festival?
Se bem que Agosto é sinónimo de férias, grande parte dos festivais a nível internacional são neste período, já que é a altura que os estudantes têm férias e buscam oportunidades de estudar e tocar neste tipo de festivais. Para Guimarães acho que é uma boa altura, principalmente pelo facto de a cidade poder ter uma oferta muito mais rica para os seus turistas. Como também é uma altura do ano onde, em geral, as pessoas têm mais tempo para outro tipo de actividades, ter concertos praticamente todos os dias da semana, é mais fácil de poder ser desfrutado pelos vimaranenses.
Que critérios justificam a selecção de músicos e músicas?
O programa, em geral, é centrado na música escrita para a família das cordas. Outros pontos que temos em consideração são de oferecer uma ampla gama de estilos musicais, desde a época barroca até à música dos nossos dias, dar oportunidade de escutar grupos de diferentes dimensões, desde solos à orquestra de câmara. Programamos também concertos onde damos oportunidades a solo ou de música de câmara a jovens músicos que se destacam, tais como os vários ensembles em residência que temos tido, os jovens artistas da Baltic Neopolis Academy, entre outros. Os artistas convidados que conhecemos, são líderes a nível internacional e que trazem para o festival a mais-valia da sua experiência e da sua presença para executar concertos que ficam na memória do público.
E como se faz essa selecção?
A selecção dos jovens artistas é feita meses antes do festival, através de inscrições a nível internacional. Os artistas são depois seleccionados com base no seu C.V. e vídeos, e são convidados a vir para Guimarães. Temos, desde o início, uma colaboração com a orquestra Baltic Neopolis, na Polónia. Esta orquestra tem uma academia (um programa de estágio). Todos os anos, os estagiários terminam em Portugal a sua formação no âmbito do festival Guimarães Clássico.
Há melhorias a introduzir em edições mais próximas? O que se pode esperar de inovador?
Melhorias e inovações são introduzidas em cada edição! Sem dúvida que neste particular, estamos muito dependentes do orçamento que temos disponível. A lista de artistas que gostaríamos de trazer a Guimarães é extensa e vamos tentar fazer com que isso seja possível. Há também projectos, tais como o Simpósio de Composição, que só são possíveis com apoios governamentais. Seria ideal continuarmos com este tipo de oferta.
“Proporciona uma oferta cultural muito significativa numa altura em que a cidade recebe milhares de turistas.”
O Guimarães Clássico é mais evento cultural ou turístico (em função dos nomes dos artistas e da data em que se realiza)?
O GC é as duas coisas. É um evento cultural e pedagógico, mas é também um evento que fomenta o turismo na cidade, já que proporciona uma oferta cultural muito significativa numa altura em que a cidade recebe milhares de turistas.
O festival inspira-se em algum modelo europeu, noutras cidades?
Tem vários modelos que o inspiram, sendo que, originalmente é um festival que está muito próximo do Szczecin Classic Festival, que organizamos na Polónia, também desde 2019.
Como vê, quantifica e qualifica o público do Guimarães Clássico?
O público do Guimarães Clássico tem vindo a crescer a olhos vistos, principalmente nas duas últimas edições. É ávido em escutar os concertos, que vem cedo para marcar lugar, e em alguns casos que fica no concerto mesmo que este já esteja completamente lotado. Houve alguns momentos, em que o público que queria ouvir o concerto era o dobro do que poderia estar na sala!
E sobre a escolha dos locais das performances?
As igrejas são as principais salas de concerto do GC: a ideia é que estes espaços belíssimos e que possuem a acústica ideal para as cordas são os melhores locais para o tipo de música programada. Em alguns casos, usamos o Teatro Jordão, o CCVF e alguns espaços ao ar livre, mas, no meu entender, as igrejas continuam a ter as melhores condições acústicas, já que grande parte desta música foi idealizada com este tipo de espaços em mente!
(continua brevemente)
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