Sou sócio do Vitória Sport Clube há trinta e muitos anos e cada vez me convenço mais que é um desperdício para a minha saúde, viver o meu clube como eu e dezenas de milhares de pessoas o vivem, mas claro, eu falo por mim.
Não há justiça no futebol em Portugal.
A desigualdade de tratamento dada pelas cúpulas do futebol português é enorme. Eu fui director do Vitória, chefe do departamento de futebol, durante três anos e estive outros 17 lá por dentro e tive a felicidade de ser muito respeitado nessa altura. Hoje, o clube que eu amo, é constantemente agredido e vilipendiado.
Reparem o que aconteceu na Taça da Liga, em que foi notória a incapacidade do Benfica de nos derrotar. Estávamos a ganhar 1-0, o guarda-redes do Benfica, sai da área, agarra a bola com a mão. Tinha de ser expulso e daí advinha um livre perigosíssimo e a partir daquele momento passávamos a jogar contra 10.
Na Terça-feira, em Guimarães, a vergonha foi tão grande ou maior. A ganhar por 1-0, o Vitória viu o sr. árbitro, apitar mal (roubar é um termo que não se coaduna com a minha educação) ao não expulsar o jogador Romário Baró. Ficaria o Porto a jogar 60 minutos com 10 jogadores e a perder.
Foi notória esta situação que aconteceu aos 30 minutos de jogo, que o treinador Sérgio Conceição, porque é inteligente, o retirou de campo aos 32 minutos e disse depois no flash da TV, fugindo-lhe a boca para verdade, que teve de mexer na equipa, porque o Romário já tinha cartão amarelo. Isto aos 32 minutos!
Ninguém diz nada? A comunicação social não escreve porque tem medo de vender menos jornais. A direcção do VSC nada disse. Teve que vir dar a cara, o “desgraçado” do treinador que falou no assunto ao de leve porque não é da sua competência e ninguém dá um soco na mesa. A verdade é bem notória, só os cegos é que infelizmente não podem ver. Não existe um Ministério dos Desportos?
Assistem a toda esta vergonha, impávidos e serenos e não se passa nada. Tinham a obrigação de meter ordem em toda esta vergonha mas é mais fácil assobiar para o lado. Tenham vergonha na cara!
À arbitragem, com quem eu me relacionei tão bem noutros tempos, nem vou sequer passar confiança para os valorizar. São ridículos.
Por não puder ter outro tipo de atitudes, digo tão somente que são maus árbitros. Não têm vergonha de chegar à terra deles e serem confrontados pelos amigos ou os seus filhos da vergonha que fizeram.
Claro que eles refugiam-se sempre na velha história – não vimos, mas o VAR vê? Também são surdos e mudos? Não comunicam?
Eles (os árbitros), rebentam com os sonhos que um clube dito mais pequeno tem, de um dia vir a puder ser campeão. Se estivéssemos perto desse desiderato como foi o caso em 85/86 com o Sr. Morais ou em 86/87 com o Sr. Marinho Peres, esse sonho no momento certo esfuma-se. Não é por jogar pior. Não nos deixam lá chegar.
Hoje, vejo o Braga jogar bem, julgo até que dificilmente alguma outra equipa jogue melhor que eles mas na hora da verdade, vão ter que encostar para os outros “carros” passarem. É autenticamente a lei da selva e ninguém reclama.
Ontem, falava com um amigo e ele dizia que o Vitória se investisse, qualquer coisa como 10 milhões de euros, lutava lá para cima e eu por experiência própria digo: para quê?
Enquanto não se alterar este status quo, o Vitória só pode lutar pelo 4º ou 5º lugar ou, num ano especial, pelo 3º. É a nossa sina. As cúpulas não nos deixam ir mais longe. Acabem com o VAR…
Como é possível que um instrumento tão válido que se introduziu no futebol, que deveria e era suposto eliminar os erros da arbitragem, viesse prejudicar ainda mais os clubes ditos pequenos. Como é que o governo não faz nada? Estão coniventes? Vergonha!
E depois ainda mais ridículo, é que quando nos queixamos, como foi o caso, na época transacta em que o nosso presidente veio – e muito bem – à sala de imprensa (este ano não sei porquê, mediante tamanha vergonha, está calado, fale Presidente…), se nos queixarmos do Porto, os portistas dizem que contra o Benfica nada dissemos e vice-versa, ou então os comentadores da TV que representam apenas os três clubes ditos grandes, dizem que o presidente é novo e que se quer mostrar. Será possível? É ridículo!
A desigualdade é de tal maneira assustadora no nosso futebol português que até na distribuição das receitas da televisão, a hegemonia dos grandes fica bem patente. Reparem que o Benfica e o Porto recebem 40 milhões de euros; o Vitória recebe 7 e o Braga 9 ou 10.
Em Inglaterra, a distribuição dos dinheiros (ver imagem) é feita por igual, do primeiro ao último lugar e depois aqueles que ficarem nas primeiras posições recebem uma fatia maior, O último classificado inglês recebe mais do dobro do que o primeiro em Portugal. Por exemplo, há duas épocas atrás, o último Huddersfield recebeu 93,6 milhões de libras esterlinas, mais de 100 milhões de euros. Assim é que deveria funcionar, até para pudermos equilibrar um pouco mais, com os ditos grandes, tanto na feitura dos planteis como nos orçamentos.
Outro aspecto que me deixa boquiaberto é a imprensa: falando eu, para um jornalista desportivo, salvo raras excepções, e queixando-me da verdade desportiva, chego a um certo ponto e questiono o jornalista: “vocês viram como eu, agora escrevam a verdade do que se passou”.
Geralmente se esta situação acontecer contra os grandes, eles respondem que apenas se limitam a ouvir-nos e a escrever o que nós dizemos. E a verdade, quem a deve repor, senão a imprensa? No estrangeiro uma notícia bombástica mas que esteja repleta de verdade é trabalhada pela imprensa, independentemente de agradar ou não. Aqui as notícias bombásticas têm que ser do agrado dos ditos três grandes. Tenho a certeza que estes dois lances que eu relatei com o Benfica ou o Porto, se fossem ao contrário eram falados durante uma semana. O que se passou no Estádio D. Afonso Henriques, com o FC Porto, já ninguém fala, exceptuando as gentes da terra que estão causticadas de levar tanta pancada.
Eu sei que não vou alterar, rigorosamente nada, com esta escrita chata para alguns, esclarecedora para outras mas a minha consciência liberta-se de mais este fantasma que trabalha à descarada, com total permissão, dos ditos governantes. Que não se venham queixar de, cada vez mais, existirem rivalidades doentias que provocam por vezes actos menos bonitos, da nossa sociedade. De quem é a culpa?
P.S. É evidente que quando falo que enquanto este status quo se mantiver, não me estou a referir só à arbitragem, mas também à Federação e à Liga que têm o poder de alterar e curar o cancro do futebol português e não o fazem, daí eu apelar ao Governo que não permita que esta situação, se mantenha para bem do futebol português, e da nossa imagem no estrangeiro.
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