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Guimarães
Sábado, Abril 20, 2024
Paulo Branco
Paulo Branco
Mergulhado mais de duas décadas no urbanismo e arquitectura, acostumou-se a reflectir sobre a organização humana e os seus efeitos em muitos sítios e cidades, alguns Países, e num único planeta que reclama uma mudança profunda de comportamentos. Amante da leitura e da música, acredita (ingenuamente) que o progresso assenta no desenvolvimento cultural e espiritual do indivíduo e das sociedades esperando que um dia o trabalho seja verdadeiramente libertador e a harmonização entre pessoas e o meio artificial e natural constituam a maior fonte de equilíbrio e felicidade.

Ano Novo…

Nunca fui entusiasta por grandes metrópoles! Não apenas pela hiperconcentração, insegurança, poluição ou tráfego (de todos os tipos), mas porque as grandes concentrações não correspondem àquela escala comedida de cidade em que se faz, compra e vende tudo, se vai aos confins e volta num só dia – a pé. Não defendo um retrocesso civilizacional ou sequer proponho refúgio num pseudo bairrismo pós-modernista que rebusca no baú de recordações uma vida urbana aparentada com a dos nossos avós – hoje decerto incompatível com a (sadia) mobilidade social e a hiperactividade ansiosa em que as sociedades se instalaram.

Porém, com a excepção de umas poucas grandes urbes – como Berlim, Estocolmo ou Hamburgo que, mantendo-se fascinantes, sabem gerir as pluralidades e problemáticas urbanas em grandes escalas privilegiando o transporte público, o pedonal e o ciclável – continuo a preferir aquelas cidades cuja dimensão não exige mega logísticas ou híper conexões (transportes) para o corre-corre da vida diária.

Gosto de cidades com memória, contemporaneidade e equilíbrio! Por isso não pude deixar de me alegrar com uma notícia recente: Guimarães, depois da celebrada reabilitação intra e extramuros, e de se ter munido de uma mancheia de refrescantes equipamentos, pretende recuperar o gosto pelo comércio local estendendo a mão a um sector fragilizado pela deslocalização das pessoas e do consumo para periferias mais ou menos distantes; nesta novidade expectável – decerto ponderada com base num competente Plano de Mobilidade que oferecerá acessos alternativos/ condicionados e estacionamento de proximidade – vislumbra-se a oportunidade de valorização dos espaços públicos de um centro urbano mais coeso, acessível e seguro para todos potenciando assim, um pouco mais, o espírito comunitário.

Lembro-me de há décadas atrás no Porto algumas sublevações, populares perante novidade semelhante, se esgotarem numa constatação: os carros afinal não fazem compras, esgotam a paciência até se imobilizarem, obscurecem o próprio brilho das montras. Lembro-me, sobretudo, das argumentações contraditórias, dos famigerados rigores do verão e do inverno e não é sem um sorriso que hoje olho para Sta. Catarina, Cedofeita ou para a ainda mais recente rua das Flores…

“Sem querer diabolizar o automóvel, acredito muitas serem as vantagens da pedonalização, do ciclável, dos modos suaves que restituem as ruas às pessoas (e as pessoas às ruas) pelo que espero se avance serena e firmemente.”

Sem querer diabolizar o automóvel, acredito muitas serem as vantagens da pedonalização, do ciclável, dos modos suaves que restituem as ruas às pessoas (e as pessoas às ruas) pelo que espero se avance serena e firmemente. E já agora, aproveitando o momento, porque não ambicionar a intensificação funcional entre a Universidade e o CampUrbis (unindo mais o centro histórico com a colina Sagrada) e, com base na ribeira que por ali passa (Couros), o “estender” da Penha até à Veiga numa, quiça possível, estrutura verde espraiada sadiamente por outras áreas conferindo à cidade mais lugares participantes na descarbonização e na salutar actualização e equilíbrio urbano? De resto, de memórias e história, há muito estamos bem servidos!

© 2020 Guimarães, agora!

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