Realiza-se este fim-de-semana mais uma edição da grandiosa Romaria Grande de São Torcato. A Romaria Grande, organizada pela Irmandade de São Torcato, realiza-se desde 1852, no fim-de-semana do primeiro domingo de julho de cada ano, comemorando a solene transladação do corpo de São Torcato, ou “São Torcatinho” como carinhosamente os torcatenses lhe chamam, da Igreja Paroquial para a Basílica.
A faina e a sua dureza, criaram nas comunidades piscatórias uma forte conexão a São Torcato e uma especial ligação a esta Romaria.
Historicamente, esta Romaria é considerada uma das maiores do Minho e de Portugal, sendo uma impressionante manifestação de fé, cultura e tradições. A Romaria Grande é ainda o ponto alto da devoção de milhares de fiéis espalhados por todo o país, com especial enfoque nas gentes do mar. A faina e a sua dureza, criaram nas comunidades piscatórias uma forte conexão a São Torcato e uma especial ligação a esta Romaria.
Tive a oportunidade de viver numa dessas terras, a Póvoa de Varzim. Uma terra marcada pelo mar, pela ansiedade de regressos tardios, de tantas embarcações que nunca chegaram a regressar… Uma terra de viúvas do mar, de angústias e de apego à fé, de forma muito vincada, num Santo que fisicamente dista cerca de 50 quilómetros, mas que não conhece fronteiras, o Santo do Povo. Chegava a ser comovente, sobretudo nos mais velhos, a grande ligação que tinham à nossa terra e ao nosso Santo, na alegria pouco habitual das gentes do mar, quando dizia que era de São Torcato e das memórias que guardavam e contavam dos seus pais e avós. A grandiosidade desta Romaria está ainda vincada em documentos e ilustrações, dos comboios apinhados de gente, que partiam das grandes cidades, rumo a uma pequena terra que é enorme.
Hoje, os tempos mudaram e as novas gerações já não revelam as mesmas convicções, mas permanecem os símbolos, as imagens e sobretudo as memórias em muitos lares, de gente marcada pela agrura de quem saía para ganhar a vida, para a nossa costa ou para os mares gelados do atlântico norte, sem saber se regressava para mais um dia ou temporada.
Esta fé é portanto o alicerce principal de uma Romaria que é muito mais que religião. A Romaria Grande é ainda uma manifestação impressionante de cultura, nas mais diversas vertentes. Nas tradições, na etnografia, na música e nas danças (que rica é a nossa terra que tem os dois melhores Grupos Folclóricos do país! e uma força associativa única) e num som celestial que emana da altura das torres da Basílica. E porque não existe Romaria sem o toque dos sinos, deixo uma referência ao eterno sineiro, João Martins, que para além de um verdadeiro artista, continua sempre presente, em todas as Romarias, com as melodias que gravou ao longo de décadas.
Esta é assim, sem falsas modéstias, a verdadeira FESTA DAS FESTAS, a maior e mais emblemática Romaria do concelho de Guimarães e uma das mais importantes do Minho, sendo claramente a mais representativa do nosso passado (mas projetada para o futuro), património, fé e cultura.
Romaria Grande de São Torcato, a FESTA DAS FESTAS…
São Torcato, Vila de Cultura!
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