A sua última viagem foi calma e serena, tal como o período de férias que estava a gozar. Vagueou pela Afurada, onde o Douro se casava com o Atlântico, flectiu, por aí, em Albufeira do Zimbo, Alfândega da Fé, num encontro com a natureza, o verde da paisagem, o azul do céu e o turquesa da água do mar e das albufeiras.
Francisca Abreu era como um pássaro em liberdade, gozou em paz os últimos dias da sua vida, depois de ter cumprido a sua missão como mãe, professora (1962-1973), gestora escolar (1986-1999) e mulher da política (1997-2013). E, por fim, avô. Sentiu de perto o reboliço dos netos e as suas traquinices, quando já desocupada de qualquer veio profissional dedicava todo o tempo do mundo às suas filhas e netos.
Dominava o inglês como poucos, o seu português sentia-se nos discursos que fez, pois as línguas eram também outra sua paixão a que se agarrou ao longo da vida, estudando Filologia Germânica na Faculdade de Letras de Coimbra, nos anos 70. Foi isso que a fez viajar e a enriquecer a sua mundivivência, conhecer novos povos e culturas.
Enquanto figura pública, pela via da sua incursão na política autárquica (1998-2013), Francisca Abreu notabilizou-se pelo seu saber, deu força à ideia de que a mulher também tem lugar na política, para fazer mais e melhor que o homem. Sempre mais pelo mérito e competência, e por uma igualdade de género natural, sem necessidade de quotas ou de impôr um feminismo exacerbado.
Deixou a sua marca na Capital Europeia da Cultura e antes no processo que elevou Guimarães a Património Mundial. No Município fez a ligação perfeita entre a educação e a cultura, com os resultados que se conhecem. A carta escolar foi uma das suas tarefas como vereadora – carta que ainda não foi revista; na comissão que liderou o processo de implementação da CEC 2012, Francisca Abreu era a imagem do talento local que se empenhou no maior evento cultural que Guimarães organizou e em cuja candidatura participou activamente – com Júlio Mendes, outro vereador – para depois tomar parte no conselho de administração que executou a programação da CEC. Conjugou tudo isto com a liderança de A Oficina – que gere o Centro Cultural Vila Flor, dinamizando a partir daí a iniciativa e a prática cultural da cidade. Foi em 2005, quando se concluiu a construção do Centro Cultural Vila Flor, que Guimarães ganhou estatuto de cidade cultural, posição invejável para se fixar na linha da frente na candidatura a cidade europeia da cultura.
A sua vida política, deixa de ser tão ativa, após 2013, já que não integrou a vereação de Domingos Bragança, eleito presidente depois do fim do mandato de António Magalhães. Apesar disso, ainda figura nas listas da Assembleia Municipal onde à data da sua morte exercia as funções de secretária da Mesa. Recentemente não escondeu o seu apoio a Ricardo Costa, na eleição para a Federação de Braga do PS.
O Município de Guimarães reconheceu-lhe o serviço prestado atirando-lhe a medalha de mérito cultural, em 2019.
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