Reconhecendo e defendendo a União Europeia como “o melhor e mais decente espaço democrático do mundo” mas recusando transformar-se numa “eurobeata”, exigindo “sentido crítico face à União Europeia”, Ana Gomes abriu, na passada Sexta-feira, as Conferências Mário Soares do PS de Guimarães.
A ex-candidata às presidenciais exigiu que a UE “corrija as políticas neoliberais que agravaram o passo das desigualdades, que dão força às politicas populistas de extrema-direita, que também parecem, muitas vezes, contaminar os próprios partidos centrais do sistema democrático”.
“Não temos professores e temos que os ter para fazer funcionar a escola pública.”
No debate moderado por Henrique Pedro, Ana Gomes defendeu que “os partidos políticos não podem ser claques de futebol, mas que têm de fazer a educação democrática e formar o sentido crítico, de modo a travar as disfunções democráticas, porque a democracia não é só votar”. “Por isso, defendeu, o PS tem que resolver a questão dos professores, já que os problemas dos professores não são problemas só deles, ou do PS, mas do país. Não temos professores e temos que os ter para fazer funcionar a escola pública”, defendeu. No mesmo sentido, defendeu que “o Estado precisa de se capacitar em termos técnicos, valorizando os seus funcionários, não permitindo a desnatação dos seus quadros. Precisamos de funcionários mais bem tratados, porque isso é tratar do país”.
Voltando à questão Europeia, Ana Gomes não deixou de criticar a sua acção durante a pandemia do covid – “apesar da sua boa organização interna” -, por não ter partilhado, ou obrigado a partilhar, as patentes das vacinas europeias com o resto do mundo não desenvolvido, mostrando assim “a sua solidariedade global, o que pode estar a provocar ressentimentos, na Ásia e na África”. Defendeu, ainda, uma política mais avançada de recepção dos imigrantes na Europa, como forma de resolver o défice demográfico europeu e instrumento de solidariedade, “mas também porque os imigrantes são cada vez mais importantes para a estabilidade da segurança social, não devendo nada à Europa mas sendo a Europa a dever-lhes o seu trabalho”. “Não há, defendeu, imigrantes ilegais. Pode haver imigrantes indocumentados. Mas tal como não há pessoas ilegais, também não há imigrantes ilegais”.
No dia seguinte, Ricardo Cabral, professor do ISEG, da Universidade de Lisboa, num debate moderado por José Fernandes, presidente da mesa da Comissão Política do PS de Guimarães, respondendo à pergunta ‘O que é o neoliberalismo?’. Fazendo uma resenha rápida da literatura económica, defendeu que “sob a capa ‘inofensiva’ do ideário do liberalismo, esconde-se no neoliberalismo uma corrente na realidade radical, com uma agenda e políticas socio-económicas extremistas”. Citou directamente Dag Trial Thorsen e Amund Lie (da Universidade de Oslo), para quem o “neoliberalismo talvez seja mais bem percebido como um descendente radical do liberalismo ‘propriamente dito’, em que as exigências liberais tradicionais de ‘igualdade de liberdade’ foram distorcidas muito além seu formato original transformando-se na exigência de liberdade total para os talentosos e suas empresas”.
“Os portugueses estão a ficar relativamente mais pobres face aos cidadãos dos estados-membros mais desenvolvidos da União Europeia.”
Defendendo que os dados mostram que “em média, nos últimos 20 anos, a divergência é clara e os portugueses estão a ficar relativamente mais pobres face aos cidadãos dos estados-membros mais desenvolvidos da União Europeia”, concluiu que “o modelo neoliberal é um modelo autofágico, que se consome. É um modelo plutocrático, profundamente antidemocrático que acelerou o declínio relativo do Ocidente face a novos blocos emergentes”.
As Conferências Mário Soares continuarão em Setembro e Outubro.
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