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Quinta-feira, Novembro 21, 2024

“Mercadores” viveram a “Afonsina” com as agruras da época

Economia

Por entre terra e pó e emparedado incómodo

A feira Afonsina espalhou-se pelas duas vilas de Guimarães, mais em redor do Monte Latito, mas permaneceu a “feira de um só povo”.

O regresso à Idade Média, pela via da recreação de uma realidade histórica, a reapropriação do conceito medievo de centro urbano, fez-se segundo o entendimento dos “pensadores” da iniciativa a que o Município dá corpo.

Mais pelo conceito e menos pela forma, a feira Afonsina quis evidenciar uma faceta da história local de que Guimarães – que nos associa a França por via de D. Henrique – nos faz crer que a “Corte” também por aqui viveu e passou, e que, afinal, Guimarães “se mesclara, com gentes de proveniências várias”, a juntar-se a muitas outras em que se contava a “colónia de francos” – como salienta Maria da Conceição Falcão Ferreira, no seu estudo de história urbana, datado de 1997.

Rever Guimarães no tempo em que foi capital do Reino e capital do país, só é fiel na medida em que podemos calcar o chão onde existia esse burgo, e essas duas vilas, uma vez que a paisagem, a vida e as pessoas, já não são – nem podiam ser – as mesmas, tendo em conta que o Castelo ainda ali se encontra.

Contudo, evocar a história, relembrar o passado, reerguer os nossos símbolos, honrar e comemorar os nossos heróis, não deixa de ser um exercício livre, de imaginação, de espiritualidade, a que o cidadão actual se sujeita. E gosta, participando deixando-se enlear pelos ventos da história.

Ver a feira Afonsina, como a festa de Guimarães, ao tempo, se calhar é mesmo andar por altos e baixos, por terra onde há apenas areia e pó e por espaços cuidados com pedra, o que não foi tarefa fácil e aceitável para todos quantos quiseram subir ao Monte Latito, olhar para trás – para um passado bem remoto – mas não aceitando as condições em que os vimaranenses do passado viviam ou experimentavam, sobretudo os homens e mulheres do povo, já que os alcaides e outros nobres presume-se que andariam com os pés mais protegidos.

O reparo e as críticas dos vimaranenses de hoje – que andaram por caminhos de terra simples e de pedra dura – como que reviveram “as disputas entre os negócios de “cima” e de “baixo” – que então animava a vila de Guimarães, ainda não cidade mas já burgo e núcleo urbano de mercancias e mercadores.

É claro que foi na “vila de cima” que houve mais animação, e onde se quis reviver o tempo da época, da medieval localidade. Cá em baixo, na outra vila, em volta da Colegiada ficaram “os bispos, nobres e cavaleiros”, em minoria, não cercados mas a viver um quotidiano menos animado. Apesar de tudo, não se viveu o “cercar do burgo” porque as pessoas andaram para cima e para baixo livremente, nem a “colina estava fortificada”, o que deu para entender que fazendo da “vila de cima” a área mais animada de Guimarães, os vimaranenses torceram o nariz à deslocalização do centro nevrálgico da feira Afonsina. E as críticas feitas a esta alteração meramente pontual, não chegou a ser igual á rivalidade, presente ao longo da história “entre o Castelo e Guimarães”.

É claro que a relocalização da feira afonsina, espalhou o palco da mesma e pode ter proporcionado aos matemáticos das audiências a quantificação do verdadeiro valor da participação dos vimaranenses e dos visitantes nesta altura. Mesmo acentuando a independência jurisdicional da “vila alta” – no que toca à área de implantação da feira, tal facto não impediu “o Mordomo de Guimarães” de ali entrar. Domingos Bragança visitou todos os locais da animação, num cortejo formado pelos “nobres vereadores” e pelos jornalistas, dando assim abertura oficial ao certame que a chuva parece ter interrompido a meio do período de duração.

Foi à noite, no campo de S. Mamede, num espectáculo mais cuidado e organizado que se deu conta que as tropas se preparavam e treinavam para combater, eliminar tensões e exigir justiça no reino. E levar para longe os inimigos do reino, resistindo a invasores, como fez Mem Rodrigues de Vasconcelos quando porque aqui ficou, “resistindo à à retirada dos invasores”.

Protestos de vários sectores – Cidadãos, restaurantes e PSD alinham críticas

Também, o PSD pediu a devolução da feira ao centro histórico, numa posição que reitera os avisos feitos de que desviar a feira podia não ser do agrado de todos. Porém, Adelina Pinto, vereadora da Cultura não muda de opinião e reitera que o Monte Latito é o espaço recomendado para a feira.

Outra reacção veio da Associação Vimaranense de Hotelaria que deu corpo às reclamações da restauração. “Toda a decoração e montagem no centro histórico ficou a cargo dos comerciantes não se tendo o município responsabilizado por nada”, esclarece a AVH. Os comerciantes entendem que a Afonsina “só tem sucesso no centro histórico com a participação dos seus comerciantes que, ao longo de muitos anos, vestiram a camisola e ajudaram a construir uma feira de sucesso”.

E mais havia para relatar da reacção instantânea e em directo deita pelos vimaranenses que de telemóvel em riste, brandiram contra os edis municipais.

Não pouparam nas palavras “desilusão”, “barracada”, “o presidente da Câmara está a acabar com o mais lindo que temos”, “a feira não é só para os artistas mas para os vimaranenses”, “a pior afonsina da época”, “destruiram a feira dos quelhos”.

Não faltaram críticas à relocalização da Feira Afonsina. Via Facebook, os vimaranenses berraram contra o mau estado das estradas do carrinho de bebes, para transporte de crianças; contra o pó que subia do chão e incomodava gente sem calças; contra o empedrado – também inimigo dos carrinhos de bébés – que incomodava as senhoras de tacão alto ou sapato raso. Com tanto incómodo, os vimaranenses não completaram o percurso da feira e fora para cá debitar no Facebook as críticas aos senhores da cidade.

Não utilizaram jograis e muito menos jornais, não houve éditos nem editais, a ferramenta de comunicação chama-se Facebook, onde todos podem dizer o que pensam, quantas vezes, sem medir as palavras…

© 2019 Guimarães, agora!

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