É crucial ponderar sobre as nossas decisões e o impacto que elas têm no futuro. O percurso em direção à sustentabilidade depende da cooperação de todos. Se continuarmos a ver as florestas apenas como um conjunto de árvores cultivadas e os rios como meros locais para descarte de resíduos, corremos o risco de converter esses ecossistemas em áreas desertas, sem vida ou diversidade. Para lidar com os atuais desafios ambientais, é fundamental preservar e restaurar os ecossistemas e garantir um equilíbrio natural entre o desenvolvimento urbano e ecossistemas que possam sustentar as próximas gerações.
A biodiversidade é um dos pilares fundamentais da vida no nosso planeta, e a sua preservação é um compromisso que deve ser assumido por todos. Atualmente enfrentamos uma crise alarmante: as temperaturas continuam a aumentar, o nível do mar a subir e os fenómenos naturais extremos, como secas, cheias, tempestades e incêndios, são cada vez mais frequentes e intensos. O crescimento demográfico e as alterações climáticas estão a colocar uma pressão considerável sobre os recursos naturais, ameaçando habitats e dificultando a conservação da biodiversidade.
No entanto, as cidades têm um enorme potencial para se tornarem verdadeiros refúgios de biodiversidade, desde que sejam adotadas políticas de gestão que promovam a criação de ecossistemas urbanos resilientes e sustentáveis. Precisamos refletir: e se, em vez de encararmos o crescimento urbano como um obstáculo, as cidades decidissem integrar princípios ambientais em todas as suas áreas de atuação – desde a educação até à cultura, do desporto à intervenção social?
As oportunidades para reinventar as cidades e torná-las mais adaptadas e resilientes às alterações climáticas estão a aumentar. A colaboração público-privada, aliado ao desenvolvimento tecnológico e inovação, é fundamental para facilitar essa transição. Em Guimarães, essa transição é visível desde 2014, com a implementação de uma agenda focada no desenvolvimento sustentável e na preservação dos ecossistemas naturais do concelho.
O recém-aprovado Plano de Ação para a Biodiversidade Guimarães 2030 (PABG2030), apresentado em Reunião de Câmara a 30 de setembro, surge como uma resposta concreta aos desafios locais que a biodiversidade enfrenta, refletindo um esforço conjunto, entre cidadãos, empresas, investigadores e decisores políticos para proteger e valorizar o património natural da região. Este plano não é apenas um documento técnico; é uma declaração de intenções que visa promover a conservação da biodiversidade e restaurar os ecossistemas, garantindo que as futuras gerações possam usufruir da riqueza natural da região. A sua implementação reflete a consciência do Município de Guimarães de que o desenvolvimento urbano pode, e deve, coexistir com a preservação ambiental, promovendo uma cidade mais saudável e resiliente.
Entre os seus pontos mais relevantes, um dos destaques foi o facto de, até ao momento, já terem sido registadas mais de 1.300 espécies no município. Esta monitorização, conduzida em colaboração com o Laboratório da Paisagem, assenta em metodologias padronizadas, como a utilização de câmaras de foto-armadilhagem e detetores sonoros para morcegos, que permitem uma recolha de dados precisa e constante da fauna. O impacto deste trabalho vai muito além da simples recolha de dados – reforça a importância de compreender o que nos rodeia, pois só é possível proteger de forma eficaz aquilo que se conhece e respeita. Este número significativo de espécies também se deve ao envolvimento ativo da comunidade na recolha de dados, através de iniciativas de ciência-cidadã. Esta participação não só contribui para o conhecimento das espécies presentes no território, mas também educa a população para o seu papel crucial nos ecossistemas.
Nesse sentido, o uso de ferramentas digitais, como o Biodiversity GO!, lançado em 2016 pelo Laboratório da Paisagem, tem sido um excelente exemplo de como a tecnologia pode tornar a ciência mais acessível e interativa. Esta plataforma permite que qualquer cidadão participe ativamente na recolha de informação sobre a fauna e flora da região, facilitando a monitorização da biodiversidade. Ao envolver a comunidade neste processo, a ciência deixa de ser um domínio restrito apenas aos investigadores e passa a ser um esforço colaborativo, onde todos os contributos são importantes.
Um exemplo disso foi a descoberta, por um cidadão vimaranense, de uma nova espécie para Portugal, a Macrophya (Macrophya) militaris, em Guimarães. Além disso, no âmbito de uma das ações de formação dirigidas à comunidade, foi registada uma nova espécie de libelinha no concelho, a libelinha-de-mercúrio (Coenagrion mercuriale), classificada como “Quase Ameaçada (NT)” pela União Internacional para Conservação da Natureza (UICN), e incluída nas listas vermelhas a nível europeu, mediterrânico e global. Estes feitos sublinham ainda mais a importância do envolvimento da comunidade nas atividades de monitorização e preservação da biodiversidade. Hoje, mais do que nunca, a ciência faz parte do nosso dia a dia.
Este plano não só oferece um diagnóstico detalhado do território, mas também apresenta medidas ambiciosas para proteger e promover os ecossistemas até 2030. O empenho do Município de Guimarães em integrar a biodiversidade nas agendas políticas, alinhado com os objetivos europeus como o Green City Accord e a Lei do Restauro da Natureza é, sem dúvida, um passo significativo na criação de um ambiente urbano mais sustentável e resiliente.
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