- Os espaços culturais que surgiram antes e depois e por influência da CEC 2012, geridos pela cooperativa A Oficina completam um ciclo de longevidade a rondar as duas décadas;
- Que influências de desgaste sofreram pelo seu uso deveras intensivo? Que actividades promovem? E o que se espera que a administração municipal faça, no futuro, neste património e equipamento, quase todo instalado à volta do Bairro C;
- Paulo Lopes Silva, vereador da Cultura e presidente de A Oficina, dá as respostas sobre o Centro Cultural Vila Flor que acaba de completar 19 anos, o primeiro a ser analisado nesta viagem pelos espaços e equipamentos culturais.
19 anos depois, o que é para a actual vereação, o CCVF?
O Centro Cultural de Vila Flor é hoje uma das principais casas de espectáculos do país, e a sede do nosso pensamento para as Artes Performativas, na estrutura multidisciplinar de A Oficina. É necessariamente o palco principal a norte do Porto e o ponto central de uma estratégia que inclui os festivais âncora (Guidance, Festivais de Gil Vicente, Guimarães Jazz, WestWay Lab), a programação regular, a articulação com entidades do território (Cineclube de Guimarães, Revolve ou Orquestra de Guimarães), mas também o elo de ligação com outras artes, através do Palácio de Vila Flor, ou das infra-estruturas que permitem pensar o CCVF além dos espectáculos.
Concorda que seja apenas um local privilegiado de espectáculos?
É essa a missão fundamental e a principal utilização do espaço. Mas, além da ligação às Artes Visuais através do Palácio Vila Flor, também tem um papel importante, por exemplo, do ponto de vista turístico, no acolhimento do congressos, eventos corporativos e conferências. Queremos muito que seja também um ponto de encontro, e tem instalações e serviços, que o permitem ser, pelas áreas comuns, o café-concerto e o restaurante.
Como se integra agora num vasto conjunto de equipamentos no mesmo perímetro (Bairro C)?
A Oficina, e não apenas o CCVF, têm procurado articular com as diferentes instituições do território, especialmente com as suas vizinhanças. Tanto o CCVF, como o CIAJG e Casa da Memória, fazem parte desse perímetro do Bairro da Criação, da Criatividade, da Cultura, do Conhecimento, do Carbono Zero e da Comunidade. Estes diferentes C’s estão hoje integrados na missão de A Oficina, e do CCVF, bem como a relação com instituições como o CAAA, a UM ou o Conservatório de Música de Guimarães, que são “habitantes” do Bairro.
Quais são os desafios do futuro, no âmbito cultural, que se colocam a esta estrutura?
O aprofundamento da articulação com as diferentes entidades do território, a aposta na criação contemporânea, bem como o apoio aos criadores locais, a afirmação internacional dos projectos lá ancorados, e a visibilidade além-fronteiras das carreiras da comunidade artística vimaranense são missões que olhamos com foco essencial, nos desafios de futuro de âmbito cultural. A estes, diria que se soma a manutenção do grau de exigência e diferenciação das programações apresentadas e o papel – em conjunto com o Teatro Oficina, o Espaço Oficina, o Centro de Criação de Candoso e os instrumentos disponíveis – que deve continuar assumir no apoio à criação contemporânea.
O relacionamento com o meio, apenas privilegia a utilização do auditório. Porquê?
Não diria que o relacionamento com o meio privilegie apenas o auditório. O Palácio Vila Flor tem um historial grande de relação com as Artes Visuais, assim como o café-concerto enquanto espaço de apresentação e ponto de encontro. A utilização dos jardins foi sendo uma realidade também ao longo destes 19 anos. Mas naturalmente, quem pensa no CCVF, pensa numa das melhores salas de espectáculo do país, e isso é um motivo de orgulho.
A utilização do espaço pela comunidade e associações não é tão notória, com excepção das Danças Nicolinas…
Na realidade, a comunidade e as associações detêm uma grande parte da utilização do CCVF. Desde logo com o Cineclube de Guimarães, que programa o cinema daquele equipamento, a Revolve que passou a integrar o CCVF no Festival Mucho Flow, a Associação Artística Vimaranense, que tem levado até ao CCVF a ópera ou o Conservatório de Música de Guimarães, em diferentes momentos, e no projecto comum da Orquestra de Guimarães. Acrescem as galas de OsMusiké, para além desta actividade cultural, e de outros momentos associativos que vão passando pelo CCVF, temos ainda um conjunto alargado de conferências, congressos e sessões públicas de várias entidades, com a Universidade do Minho à cabeça.
“Precisamos de encontrar novas formas de dar instrumentos às direcções artísticas para aprofundarem os programas.”
Que planos existem para que haja mais e diversos espectáculos no CCVF?
Há duas linhas de acção em que estamos a trabalhar activamente. O primeiro passa pelo trabalho em parceria com outras entidades, que acrescente à programação do CCVF na diversidade, e, por outro lado, em mais alternativas de financiamento. É importante perceber que a estrutura de A Oficina tem crescido do ponto de vista da responsabilidade de gestão de espaços, mas não no seu orçamento. Para isso precisamos de encontrar novas formas de dar instrumentos às direcções artísticas para aprofundarem os programas.
Não sente que há uma rotina instalada?
Não, de todo. Há, e ainda bem, apostas que têm vindo a manter a coerência e a prioridade, mas isso é um bom sinal. Só com continuidade e convicção conseguimos hoje afirmar o melhor festival de Jazz do país, e um dos mais relevantes festivais de dança contemporânea. Mas a diversidade de outras propostas e das colaborações de que falava com outras entidades, bem como da visão estratégica sobre a missão da Oficina, alinhada com a sustentabilidade ambiental ou com o acesso cultural, são sinais de total ausência de rotina instalada.
O auditório tem sido o palco principal do Guimarães Jazz, do Guidance, de espectáculos musicais. Que papel ainda não cumpriu ou pode cumprir na dinamização cultural?
Acrescentaria ainda o Teatro e o Cinema no legado da actividade do CCVF… Parece-me que o papel que pode cumprir está mais relacionado com os desafios de futuro que apontei do que com áreas artísticas que possa não ter tocado. Até porque me parece fundamental que haja maior especialização, para alcançar maior qualidade.
E o Palácio Vila Flor… Não é mais escritório administrativo que palco de exposições permanentes?
O Palácio de Vila Flor tem três ciclos expositivos, no mínimo, todos os anos. Duas exposições da programação do Ivo Martins, curador do espaço, e uma exposição das duas Bienais de Artes Visuais de Guimarães: A Bienal de Ilustração de Guimarães e a Contextile – Bienal de Arte Têxtil. O Palácio tem essa afirmação na dimensão das Artes Visuais.
Com a requalificação do Teatro Jordão não lhe parece que os equipamentos e infra-estruturas tende a duplicar-se no mesmo universo territorial?
São equipamentos distintos, para funções distintas e com dimensões diferentes. O Teatro Jordão é um palco intermédio, entre o Pequeno e o Grande Auditório, com cerca de 400 lugares, que tem como função primordial servir o curso de Teatro da Universidade do Minho e o Conservatório de Música de Guimarães que estão lá instalados. É uma função direccionada ao ensino artístico. Acaba depois, por complementar a rede de auditórios de Guimarães, para utilizações pela comunidade.
O estado geral de conservação do equipamento suscita algumas preocupações?
Temos um plano de intervenções identificado, mas nada que suscite preocupação.
Sobre a programação… há reformas a fazer? O que espera renovar?
A mim, enquanto vereador e presidente da Oficina, cabe-me a definição da política cultural. A programação é uma responsabilidade das direcções artísticas e curadores. O que espero é que a programação corresponda à visão, e é isso que tem acontecido.
“O que pretendemos é que o apoio do Estado vá para lá do apoio à programação.”
Entende que o Estado (DGArtes) deve apoiar a programação, o que não tem acontecido?
O Estado apoia a programação do CCVF através da Rede Portuguesa de Teatro e Cine-teatros, pelo patamar máximo. É um dos equipamentos com melhor avaliação daquela rede. O que pretendemos é que o apoio do Estado vá para lá do apoio à programação, porque a Oficina tem um papel bastante mais transversal, nas dimensões das Artes Visuais, das Artes Tradicionais, e no apoio à criação contemporânea própria e de entidades parceiras. É nisso que estamos a trabalhar com a DGArtes e o Ministério da Cultura, e esperamos que na alteração governamental seja possível prosseguir com a negociação que estava em curso no final de 2023.
A estrutura de pessoal directivo tem sofrido alterações regulares. O que justifica tantas mudanças?
Nos últimos três anos, tivemos duas alterações. A primeira é natural, dado que reestruturamos o pensamento de A Oficina para corresponder à visão de política cultural que pretendemos implementar. Isso fez com que tivéssemos deixado de ter uma direcção artística única, para ter três direcções artísticas nas Artes Performativas, Artes Visuais e Artes Tradicionais. A direcção executiva acabou por alterar por vontade dos próprios, num primeiro momento por haver um outro desafio profissional que pretendia abraçar, e no segundo para que não perdêssemos uma excelente directora financeira com provas dadas, integrando um novo quadro para ajudar a essa especialização. São mudanças naturais e que ajudaram a estabilizar um quadro que corresponde à visão que temos para a política cultural e para aquela estrutura.
É a mais adequada às actividades e objectivos?
Temos neste momento a estrutura que pretendíamos ter para corresponder à visão política que temos para o sector cultural, e para cumprir os objectivos a que nos propusemos.
Que balanço faz da sua gestão, enquanto vereador da Cultura, daquele equipamento?
O balanço prefiro deixar para quem avalia a nossa acção, que são os vimaranenses. Estamos a cumprir com aquilo a que nos propusemos, e esperamos corresponder às expectativas que democraticamente depositaram em nós.
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