O verão despede-se, e com ele as férias de muitos portugueses que, regressando ao trabalho e à rotina, enfrentam um país onde a vida política parece distanciar-se cada vez mais das suas realidades e preocupações. Após semanas de descanso e reflexão, o regresso às rotinas diárias põe a nu a desconexão entre a classe política e as necessidades reais da população. Este regresso pós-férias deveria servir de impulso para uma necessária mudança de paradigma na forma como se faz política em Portugal.
Estamos num momento crítico em que a política tradicional, enredada em tecnocracia e burocracia, já não responde às aspirações de uma sociedade cada vez mais informada e exigente. A política de gabinete, distante das ruas, não consegue entender as angústias dos que sofrem com a inflação crescente, os salários baixos e as desigualdades persistentes. Existe, portanto, uma urgência de adaptação, de transição para um modelo político mais próximo das pessoas, mais humano, mais simples e transparente.
As campanhas eleitorais recheadas de promessas que nunca se concretizam, os debates de ideais esvaziados de ação concreta, e os líderes políticos que não escutam as vozes do quotidiano têm, inevitavelmente, afastado a população das urnas e gerado um perigoso sentimento de desconfiança. O desafio para a nova estação política não está apenas em cumprir promessas, mas em ouvir, compreender e agir em consonância com as necessidades de quem vive no terreno.
É preciso uma nova política, mais aberta ao diálogo e menos centrada na retórica. Uma política em que os cidadãos sejam parte ativa do processo de decisão, e onde as soluções partam de quem conhece os problemas na pele. Os políticos devem, mais do que nunca, descer do pedestal da tecnocracia e sujar as mãos na realidade diária das pessoas: nos bairros, nos transportes públicos, nos centros de saúde, nas escolas.
O país precisa de uma mudança cultural na forma como encara o poder político. Deve-se fomentar uma governação participativa, onde os governantes não sejam apenas gestores de números e relatórios, mas sim verdadeiros representantes de uma sociedade diversa e dinâmica. O diálogo entre política e cidadania tem de ser constante, aberto e, acima de tudo, eficaz. É preciso resgatar a confiança e garantir que os cidadãos sintam que a sua voz não só é ouvida, mas também incorporada nas decisões que moldam o futuro do país.
Neste regresso ao trabalho, cabe à classe política liderar pelo exemplo e adaptar-se às exigências de um novo tempo. As pessoas estão cansadas de palavras vazias; exigem ação, coerência e proximidade. Chegou o momento de abandonar o modelo tecnocrático e promover uma política humanizada, feita com e para as pessoas. Este é o verdadeiro desafio que nos espera após as férias: a construção de um novo contrato social, onde a política sirva o bem comum, e não apenas os interesses de uma elite.
O regresso às rotinas não tem de significar o regresso ao mesmo modelo político falido. Que este setembro seja um marco de renovação e de um futuro mais próximo dos cidadãos.
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