A poetisa, 1ª Viscondessa de Balsemão que nasceu em Guimarães, no dia de São Miguel (29 de Setembro), em 1749, faleceu há quase dois séculos.
“Poucos conhecem hoje uma poeta que honrou desde cedo o nome de seus pais, os Senhores de Vila Pouca, e em sua vida (1749-1824) marcou a vida literária em Portugal. Porque a esquecemos? Porque a lembramos? A maior parte das vezes, a memória, como o esquecimento, pouco tem a ver com a abundância ou a falta de mérito. Esquecemos e lembramos porque é fácil esquecer ou lembrar. E só por isso devemos rever regularmente a história que contamos” – salienta a direcção da Sociedade Martins Sarmento (SMS), numa nota de imprensa.
Há várias razões para Catarina de Lencastre fosse esquecida e uma delas tem a ver com o facto de a sua obra nunca ter sido impressa. O seu legado poético está todo em manuscritos dispersos.
A Imprensa Nacional-Casa da Moeda pode vir a reparar esta falha, ainda este ano quando se completarem 200 anos da sua morte, com uma edição do que se conhece da sua obra poética.
“Conhecemos Bocage, Tolentino, Filinto Elísio (Francisco Manuel do Nascimento) contemporâneos, interlocutores de Catarina de Lencastre nos salões literários. Mas conhecemo-los grande parte porque eles foram tendo a sorte, a necessidade ou a vontade de se verem impressos. Ao contrário deles, Catarina de Lencastre viveu aparentemente satisfeita com o facto de fazer e dizer poesia. Não cremos que tenha publicado em vida mais do que umas odes para incentivar os soldados portugueses a lutar contra os invasores franceses” – lembra a SMS.
Uma outra razão se pode evocar, ainda para o desconhecimento dos seus manuscritos: a de Catarina de Lencastre ser uma mulher e, na época, serem pouco comuns as mulheres que publicavam. “Não o desejavam, não o procuravam fazer, nem publicitar a sua obra manuscrita era bem visto. Conhece-se hoje a obra de Leonor de Almeida, amiga (“e rival”) de Catarina de Lencastre. Mas a própria Leonor de Almeida, Marquesa de Alorna, ficou depois conhecida só porque os seus filhos lhe imprimiram a obra, já em meados do século XIX. No século XVIII, a mulher era tradicionalmente silenciosa. Dava-se bem, quando muito, com palavras manuscritas ou volantes. E tantos outros manuscritos há ainda a revisitar nas nossas bibliotecas…” – esclarece a nota da SMS.
Na evocação de Catarina de Lencastre, a direcção da SMS justiça que era “gente aparentemente calada, inexistente, dir-se-ia. E, no entanto, se lermos a poesia de Catarina de Lencastre, surpreende-nos a sua crescente intervenção política, a mordacidade das suas fábulas, a qualidade dos seus sonetos, a ousadia das suas odes, a pedagogia do seu teatro. Numas composições, lamenta as ideias feitas de uma sociedade que nunca vê que uma mulher pode ser soldado, noutras o preconceito dos que não vêem que um velho pode ainda amar”.
Catarina de Lencastre foi casada com Luís Pinto de Sousa (político proeminente, embaixador de Portugal em Inglaterra e depois ministro do reino), Catarina de Lencastre foi acompanhando muito de perto a evolução do antigo regime para o liberalismo romântico: apoiou desde muito cedo a política pombalina, e ainda declamou poesias sobre a nova liberdade, ao lado de Almeida Garrett, nos palcos de Lisboa.
Dizia os seus poemas de improviso e em voz alta. E eram os familiares e amigos que quase sempre lhe recolhiam as palavras no papel. Morreu a ditar poemas ao padre que lhe tinha dado a extrema-unção: os primeiros poemas líricos que Catarina de Lencastre viu impressos foram os que saíram no jornal que noticiava a sua morte. Estranha e bela forma de morte a que anuncia ainda vida: “Não me negues, Senhor, tua piedade! Tiraste-me do abismo da imprudência, Dá-me uma venturosa Eternidade!”
“Essa vida a celebraremos também em 2024, em Guimarães, na Sociedade Martins Sarmento” – promete a instituição.
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