O desenvolvimento deve ter como objetivo direto a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos a curto prazo, mas não pode pôr em causa essa qualidade a médio prazo ou para as futuras gerações. Assim, investimentos públicos ou privados não podem consumir recursos não renováveis, como é o caso do solo fértil.
A justificativa de que um maior PIB (produto interno bruto) possibilita a importação de alimentos baratos não leva em conta a mudança radical de cenário que assistimos nos últimos anos. Isto ficou evidente no caso dos cereais da Ucrânia, encarecidos por questões geopolíticas, mas também no caso dos cereais da Índia, encarecidos pela quebra de produção causada pelas alterações climáticas.
Os solos levaram milhões de anos para se constituírem e seu valor é inestimável. Também os regimes de chuvas dependem de ecossistemas complexos, incluindo a relação entre solo, plantas e animais, o que nos permite produzir alimentos a baixo custo. Ficando sem solos férteis, sem florestas, sem biodiversidade, ficaremos numa total dependência de um comércio globalizado e sujeitos a uma inflação interminável, já que este modelo económico insustentável se aplica em todo o mundo.
Por estas razões, pesquisadores e as Nações Unidas apontam a importância da preservação dos solos para produção alimentar localmente (condição para a segurança alimentar) e da preservação da biodiversidade (condição para manutenção de um clima adequado à nossa civilização). De que vale ter dinheiro no meio do deserto, se não consigo encontrar um copo de água?
Esta deve ser uma visão moderna de uma capital verde: não há justificativa financeira para avançar sobre áreas rurais ou para se destruir as poucas reservas agrícolas e ecológicas existentes. A oferta de habitação deve se dar na cidade consolidada, sem avançar em áreas de reserva ecológica. A melhoria do acesso ao AvePark deve se dar pela melhoria das vias existentes, sem avançar em áreas de reserva agrícola. A melhoria do Hotel da Penha deve se dar nas limitações existentes, sem avançar em zona rural.
Uma capital verde deve aumentar o seu capital natural, que nunca ficará obsoleto e sempre se valorizará no futuro. Há imenso potencial económico no desenvolvimento de uma política agrícola local, com incentivo à criação de agroflorestas, à produção de alimentos orgânicos e ao turismo rural. O desprezo pelos direitos das futuras gerações e a falta de criatividade ficam patentes quando administradores dizem que não há como atender interesses instalados sem destruir o bem comum.
Não podemos entregar para os nossos filhos e netos menos áreas agrícolas e ecológicas do que recebemos, isto é um dever moral. E se dermos um mínimo de atenção aos alertas de António Guterres, Secretário Geral das Nações Unidas, facilmente perceberemos que, para além das crianças vimaranenses, este é um dever para com toda a vida no planeta.
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