Parque de Camões já é uma âncora para dinamizar centro da cidade
Ricardo Costa tornou-se numa espécie de Ministro da Economia na vereação municipal. É a figura que Domingos Bragança escolheu para mudar o paradigma da relação entre o Município e os empresários. Seis anos depois, poucos estarão em desacordo com esta decisão e com esta escolha porque há hoje uma relação de proximidade entre as empresas e empresários com o Município muito mais confiável e Ricardo Costa não se tem poupado esforços para que, na Câmara Municipal, o semáforo das decisões dos interesses e petições vindos das empresas, que impliquem investimento, esteja sempre verde ou quando muito amarelo e nunca vermelho. Nesta entrevista, o vereador fala sobre a área económica, do que o Município pode fazer pela afirmação internacional de Guimarães, complementando as empresas, de qual é a estratégia para mostrar um território aberto à instalação de empresas mais tecnológicas e de capital estrangeiro. Faz apreciações sobre o Guimarães económico e digital; defende medidas arrojadas para revitalizar o coração da cidade comercial com a instalação de marcas internacionais e de prestígio do mundo da moda e ou da beleza, incluindo serviços; aponta o dedo às ruas que devem fechar ao trânsito, e deixando-as para as pessoas e para o comércio sobe pena de o centro urbano continuar a definhar e perder o estatuto de praça comercial dinâmica e activa. O parque de estacionamento de Camões pode ser a âncora para acomodar os automóveis e dar vida ao coração da cidade indicando a decisão sobre o fecho de algumas artérias ao trânsito automóvel.
Guimarães, agora! – Que opinião tem sobre a economia de Guimarães?
Ricardo Costa – É pujante, sem dúvida, muito industrial mas em relação ao futuro estamos a dar passos para ser mais diferenciadores. Desejamos uma economia mais sustentável, ainda mais amiga do ambiente, com mais responsabilidade social e muito mais tecnológica. Os empresários devem pensar naquilo que se entende e identifica por internet das coisas e da transformação digital. A interacção entre o humano e robot vai acentuar-se, pois, pensamos já na sociedade 5.0 quando a indústria 4.0 começa a alterar o modelo económico. Vai fazer-se muito investimento na transformação digital e na tecnologia.
GA! – E por sectores? O comércio onde a grande distribuição com as grandes superfícies mudam o sector…
RC – O comércio de per si é uma área que não evidencia os problemas que tem. Mas que os há… há! Em Guimarães, por exemplo, o centro da cidade precisa de marcas fortes, internacionais. E são precisas algumas medidas corajosas para atrair essas marcas… que chamam as pessoas.
GA! – E que medidas são essas?
RC – Desde alterações e cortes de trânsito, da fluidez do tráfego, de reabilitação urbana, de criação de condições de atractividade das praças de Guimarães, desde a sua animação à promoção eventos próprios relacionados com a actividade comercial. E da criação de conforto para quem quer e tem de fazer vida na cidade ou de quem nos visita. A dinamização do comércio de rua, de centro de cidade impõe que algumas artérias não tenham uso automóvel. É inevitável e imprescindível. E incontornável. A cidade em si tem de ter mais pessoas nas ruas, nas esplanadas, no comércio ou em convívio, do que carros. Precisa de um ar mais urbano, e citadino e mais humanizado.
GA! – O parque de estacionamento de Camões foi o primeiro passo, para essa nova cidade comercial?
RC – Para além de aposta ganha, o parque de Camões é um equipamento necessário concebido para responder a várias necessidades e ambições. É uma referência em termos de arquitectura – tem uma beleza singular – e de urbanismo – ninguém nota a sua dimensão -, tem qualidade e dimensão adequada. A sua importância e impacto na vida da cidade, na qualidade de vida, pode ver-se à distância mas sentir-se-á mais no futuro por se constituir num ponto da cidade que é catalisador e fundamental para a dinamização de vários quarteirões em redor do Toural. E sem que se tenha destruído a cidade ou esventrado o seu subsolo, é, de facto, um equipamento com repercussão no coração da cidade que permitirá à Câmara tomar decisões mais ousadas, de modo a reinventar o centro de Guimarães onde muitos turistas passam e muitos vimaranenses querem fruir de vários modos. Será uma marca do mandato do presidente Domingos Bragança, como se verá no futuro a médio e longo prazo porque no curto prazo a sua função de parque de estacionamento é já uma garantia.
GA! – Não falou da restauração enquanto parte do sector de comércio?
RC – O que noto, relativamente à cidade, é que Guimarães deu um passo importante enquanto urbe. E os inúmeros estabelecimentos que abriram, à volta do centro histórico, dão a Guimarães um estatuto mais cosmopolita, dada a variedade de espaços de comer que surgiram após 2012. É sempre um prazer jantar à beira das praças, percorrer depois as ruas e ruelas, a companhia da família ou dos amigos, parar numa praça e assistir a um evento musical e cultural. Esta qualidade de vida, ninguém a tira a Guimarães e os turistas e visitantes são os primeiros a gozar desta vivência urbana que a nossa pequena mas grande cidade proporciona.
GA! – E sobre o turismo, incluindo a hotelaria?
RC – Guimarães precisa e vai ter mais hotéis. Incluindo hotéis de marcas internacionais. Um hotel para férias ou para estadias de trabalho, procura-se hoje através de redes comerciais como o Booking e outros. E as marcas internacionais têm um papel decisivo na distribuição das pessoas pelos territórios, dando-lhes a conhecer as várias opções. E Guimarães precisa de, por exemplo, um Marriott – Braga tem o Meliã – de modo a alargar a oferta e tornar-se mais competitivo na hotelaria. Há já duas marcas internacionais que estão num processo de avaliação da sua implantação em Guimarães, no centro e nas entradas da cidade.
GA! – E sobre a indústria?
RC – Reitero o que já disse atrás, acrescentando que o que vai acontecer na indústria é o que já acontece na medicina. Vamos assistir a uma personalização da economia. Ou seja, para que nós tenhamos a consciência ambiental, da economia circular e da transformação digital, só através da personalização é que venceremos este desafio. Porque se eu quero uma camisa, ela só será produzida se eu a comprar. O mesmo acontece com os sapatos e outros produtos. Este processo de transformação digital trará enormes mudanças. Tudo será feito como um fato à medida. E a robotização também trará outras transformações tal como a digitalização de processos e tarefas.
GA! – E o que lhe parece o sector dos serviços?
RC – De uma forma geral, o sector não está como era pelas inúmeras transformações no modo de viver. Já tivemos mais bancos e a racionalidade de gestão obrigou a que se fechassem alguns balcões; já tivemos mais médicos a exercerem a medicina e agora há mais clínicas que agrupam diversos serviços clínicos. Na administração pública, acontece o mesmo não há dinheiro que pague a duplicação de serviços. E até digitalização permite ao cidadão fazer muita coisa em casa, junto a um computador, ou na rua com um tablet ou um telemóvel. Guimarães enquanto praça de serviços, tal como outras cidades, sentiu esta evolução e revolução tecnológica. E surgiram outras soluções. Os Registos concentraram-se, há agora um Espaço Empresa na Plataforma das Artes, os Espaços do Cidadão espalharam-se pelas freguesias onde se prestam muitos serviços que antes só se faziam na cidade, nas ditas repartições disto e daquilo. A desmaterialização e o processo digital foram reformando práticas e tarefas, todas em benefício do cidadão que tem de fazer o esforço para viver neste enquadramento mais fácil, mais económico e até mais rápido. Também, na Câmara não há já uma necessidade absoluta de lá ir por tudo e por nada. Cada vez mais estaremos à distância de um click.
GA! – Falta a agricultura, como avalia o sector?
RC – É um sector que se tem mostrado dinâmico em culturas não tradicionais e de menor mão de obra intensiva. Há boas unidades na produção de kiwis, por exemplo, e outros frutos mais exóticos. No vinho, há mais explorações ainda que de dimensão reduzida. O paradigma do milho, centeio e gado sofreu o impacto da entrada na União Europeia e a região nunca soube ultrapassar as limitações que impõe a propriedade de minifúndio.
GA! – O desemprego já não é um flagelo?
RC – Foi possível inverter o cenário e a taxa actual é de 6,5% mas não me preocupam os números mas o tipo de pessoas que não tem trabalho. São jovens, são pessoas com mais de 55 anos? Porque é que o mercado não os acolhe? Por isso, a Academia para a Economia, cujo projecto apresentamos recentemente se justifica. Queremos direcionar as pessoas, aproveitando o melhor que elas têm, reconvertendo-as para aquilo que o mercado está a precisar.
Maior internacionalização pela economia
Com Portugal na União Europeia, a internacionalização e projecção de Guimarães tem efeitos seguros na economia de Guimarães, concelho exportador, anfiteatro de culturas, palco de espectáculos e eventos internacionais diversos. Pela via económica, Guimarães pode ter um reconhecimento através dos embaixadores económicos, onde são feitos produtos de excelência no têxtil, no calçado, na cutelaria. E com isso acentuar o turismo que cresce, a cada dia, pelo contigente de pessoas que visita o centro histórico e deve conhecer Guimarães na sua totalidade.
GA! – Que estratégia tem o Município para internacionalizar e projectar Guimarães no mundo?
RC – Há várias dimensões dessa projecção: a do património e turismo, área que é utilizada sinergicamente pela via do Guimarães Marca, no âmbito de uma estratégia de marketing territorial que arrasta várias marcas e factos marcantes da nossa história colectiva mais recente. Quando Guimarães se tornou Património da Humanidade em 2001, e entrou no clube das Capitais Europeias da Cultura em 2012 e no grupo das Capitais Europeias do Desporto em 2013, adquiriu um estatuto e pergaminhos que contribuíram para a sua internacionalização efectiva e para uma projecção mundial também no contexto das cidades com maior visibilidade. Esses pergaminhos são factores que potenciam as estratégias de internacionalização de ontem, de hoje e de amanhã.
GA! – E, hoje, recolhem-se os frutos desse reconhecimento internacional, pela escolha da cidade como destino e percurso turístico…
RC – Há claro sinais de que a forma como Guimarães se projectou nessas datas permitiu que depois melhor fosse conhecido e compreendido o seu património e o seu centro histórico, a sua história e o seu estatuto de primeira capital de Portugal. Colhemos o resultado desse impacto positivo pela afirmação da cidade enquanto território. E mais remotamente pela história e pela marca indelével do “Aqui Nasceu Portugal” e pelo património que foi construído ao longo dos tempos.
GA! – O que também acontece agora pela afirmação de algumas marcas, de produtos que marcam a excelência do têxtil-lar, do calçado e da cutelaria…
RC – Obviamente que a partir daí foi possível, com o Guimarães Marca, marcar presença em feiras internacionais de relevo pela via da economia e das empresas, e qualificar ainda mais a internacionalização da cidade, o que até agora nunca tinha sido conseguido. Neste aproveitar de sinergias, emergem as nossas marcas: a da cidade e de Guimarães enquanto urbe histórica e patrimonial, e a das empresas cuja projecção corporativa – pela via dos seus produtos – é agora aliada ao território onde se implantam essas marcas. E todas elas se afirmam internacionalmente hoje. É bom notar que vivemos já neste mundo dinâmico e competitivo um processo de afirmação maior das cidades do que de países, as cidades como sedes de um aglomerado de interesses económicos, como palco de actividades culturais oriundas de vários países e povos, de cidades que são marcadas pela componente do seu urbanismo arrojado. Também pela via do desporto onde os clubes e modalidades são distintivas e sustentam a afirmação das cidades, num contexto mais global e menos paroquial. E locais onde se afirma o conhecimento e a investigação.
GA! – Porém, nem tudo está feito no plano da afirmação da cidade no contexto internacional…
RC – O impacto que ainda se vai sentir com o nome de Guimarães e das marcas dos seus produtos vai continuar porque ainda estamos no princípio da afirmação de Guimarães como um todo. E é importante que continuemos a seguir uma bitola de qualidade para que essa afirmação nos garanta uma projecção em todos os continentes. E até pela via das empresas cujos produtos são exportados para novos mercados, mais longínquos, mas ainda assim interessantes do ponto de vista económico. E que podem arrastar o conhecimento sobre Guimarães a países do eixo mais emergente de momento. Temos bons embaixadores económicos para garantir uma projecção internacional mais sustentável. Pelo prestígio que a Universidade do Minho e as suas escolas tem adquirido na Europa, também é de esperar, por essa via, um acréscimo da afirmação internacional de Guimarães. O que já vai acontecendo. E também pela via do desporto, haverá uma parte de afirmação, não apenas pelas performances desportivas de clubes e atletas, como pela realização em Guimarães de constantes provas internacionais, como aconteceu recentemente com a Ginástica. E com o campeonato do mundo de tiro.
GA! – Qual acha que seja o valor da projecção de Guimarães no contexto internacional? Pode medir-se? E onde se pode investir mais?
RC – Há uma insuficiência de recursos natural que nos balizam nas nossas ambições, para uma projecção mais ambiciosa pela via económica, que nos impõe limitações e opções. Mas é bom que reconheçamos que após 2012 temos feito um trabalho, definido por Domingos Bragança ao criar a Divisão de Desenvolvimento Económico, verdade seja dita, que dá uma importância ímpar ao tecido económico, cujo impacto ainda é cedo para avaliar e dele poder esperar resultados. Contudo, ao nível das empresas já pode ser valorado pelos contributos e apoios que as empresas garantem em situações de investimento. Mas vamos continuar com a mesma ambição, alocando mais recursos para essa projecção internacional, encontrando novos caminhos e novas estratégias, até com a cooperação das empresas. E atribuindo ao nosso esforço mais o valor de um investimento e menos o valor de um custo. E internacionalizar cada vez mais a marca Guimarães com o seu tecido económico é fundamental.
GA! – Afirmando, também, as mais valias do território?
RC – Sim, Guimarães tem condições para consolidar um estatuto de ser um território bom para investir, competitivo, que conta, por ter um ecossistema quase perfeito: uma cidade com notoriedade, um território competitivo, uma Universidade que forma pessoas e vive numa simbiose entre o governo local e os centros de conhecimento. Uma cidade amiga do ambiente e mais verde. Só precisamos que as empresas entrem neste triângulo para que possam ser criados projectos claros e inovadores para a indústria.
GA! – E assim se completa essa estratégia de internacionalização?
RC – Quando lançamos o I9G, uma proposta de inovação para a indústria teve em conta tudo isto: aliar a governação, ao conhecimento e o tecido produtivo. Este projecto só precisa agora de ter uma decisão rápida, de quem decide, e de quem comanda. E que o entendam como imprescindível para a região.
Ferrovia entre Lordelo e Taipas e cidade do conhecimento e da tecnologia
A ligação de Ricardo Costa às empresas e aos empresários e ao território económico, permite- lhe sustentar projectos que possam desenvolver ainda mais o tecido económico. Podem ser ideias, apontamentos para alguma análise que se faz quando se conhecem outras realidades, abordagens que podem transformar em projectos e marcar o futuro, de curto ou médio prazo. Se a realidade do concelho evidencia um tecido económico, dinâmico, especializado, também diversificado, polarizado e espalhado pelo território, também evidencia a falta de projectos estruturantes em que assenta o desenvolvimento. E que podem ser o contributo do sector público para um concelho mais pujante e desenvolvido. São ideias que fermentarão a sustentabilidade do território e que ajudariam ao Guimarães mais verde que se constrói na área do ambiente. E que se quer como marca mas também como opção para mudar, transformar ou revolucionar o território.
GA! – No seu entendimento, que projectos na área da mobilidade ou do território, Guimarães precisava para uma maior sustentabilidade do seu tecido económico?
RC – Um projecto que podia ser revolucionário era a ligação do eixo industrial Lordelo/Taipas pela ferrovia, ligando o território neste eixo e incluindo a cidade – e os seus serviços – no seu trajecto. Este eixo de ferrovia traria enormes contributos ao ambiente, seria um veículo preferencial das pessoas porque a sua génese assentaria na comodidade, na confiança e no comprometimento. Quem o utilizasse sabia que podia ter um meio de transporte fiável, que cumprisse horários, e com comodidade para servir de alternativa segura para o emprego, para ir ao médico, uma plataforma de transporte de nível europeu, com segurança e rentável do ponto de vista económico. É um modelo de futuro que muito contribuiria até para a coesão social do território. A cidade e as freguesias ficavam mais aproximadas e era um meio de transporte que se encaixava bem, até do ponto de vista da organização, da gestão e dos custos, na esfera do Município. Retiraria, por certo, carros à cidade e seria muito amigo do ambiente e do estatuto verde que Guimarães luta por ser reconhecido.
GA! – E para a projecção internacional de Guimarães?
RC – Lutar por ser reconhecidamente uma cidade tecnológica e de conhecimento. Levando à polarização da Universidade pela cidade, apostando na captação de empresas de produção de software, de design para colaborar com a indústria têxtil, calçado e cutelarias e apoiando serviços. E elevando a categoria e a remuneração do trabalho, captando cidadãos que aportem massa crítica, aproveitando até o investimento que se faz na cultura. No fundo, é fazer o que sempre se deseja e fala que é espalhar o conhecimento da Universidade pelo território, aproveitando o trabalho da escola de engenharia, multiplicando empresas e serviços na área da tecnologia e da inovação, complementando o I9G. Este ambiente tecnológico aliado à beleza e valor do centro histórico, daria a Guimarães um estatuto inigualável, um desafio permanente na área do digital, onde o futuro assentará nas áreas que mais interessam e servem o cidadão. E mesmo com a inteligência artificial, poder-se-iam implementar projectos interessantes, fixando por cá investigadores, gente da ciência e da tecnologia. E somos nós que temos de erguer esta bandeira. Não será nunca nenhum governo do país que nos vai empurrar para estas soluções. São os vimaranenses, são os políticos da terra. Hoje, as cidades são a força dos países, depende de nós, o querer fazer de Guimarães, uma cidade de horizontes largos mas realistas, ambiciosos mas concretizáveis, alcançáveis porque se balizam e sustentam na sua realidade económica. Guimarães passaria a ser uma cidade do mundo e teria o mundo dentro de si. Haja vontade porque os meios existem.
“Guimarães Marca” em afirmação
Tornou-se num slogan mas também é um conceito. O “Guimarães Marca” gira em torno de marcas fortes que Guimarães tem e por isso, também, é um processo cuja estrutura se consolida dentro do Município, de modo a dar resposta à economia e às empresas.
GA! – O que trouxe até agora o “Guimarães Marca”?
RC – Um conjunto de acções onde o Município se empenha e ao qual dedica recursos financeiros. Por exemplo, a missão inversa de internacionalização – trazer a Guimarães “stakeholders” potenciais compradores, fornecedores e jornalistas de órgãos especializados, em vários mercados – durante uma semana torna a nossa cidade um palco do mundo do têxtil-lar. A Pousada de Santa Marinha fica com os seus quartos ocupados pelas empresas e ali são feitas as mostras de produtos e se recebem clientes, que mais tarde culmina com visitas a fábricas, dando a conhecer o local onde faz o produto. É um universo de cerca de 300 pessoas que para além dos negócios que podem fazer aliam a sua visita profissional com visitas à cidade, de turismo e de cultura, o que amplia o conhecimento que levam desta terra. E que depois chegam a repetir apenas querendo conhecer mais e melhor sobre Guimarães e a sua cultura. Por outro, um agrupamento e união das empresas que podem ensaiar a sua promoção colectiva, cooperando noutras áreas.
GA! – Pode fazer uma balanço dessa acção?
RC – Quem deve fazer o balanço desta acção inversa são as empresas. Sobre a internacionalização de Guimarães, o que se pode dizer é que há muitos sinais de que o balanço é positivo, ao fim de seis anos. Temos aberto portas em tudo o que é feiras internacionais – com o Governo – seja em Frankfurt, Milão, Paris e outras cidades europeias. Conseguimos levar Guimarães ao mundo. A afirmação de Guimarães tem sido constante, do ponto de vista do território, do mundo empresarial e da qualidade que Guimarães tem ao nível industrial.
GA! – Qual é o feedback que os empresários lhes deixam?
RC – Muito positivo. Tenho uma proximidade com as empresas e os empresários que é reconhecida. É uma abertura notória e sente-se. Recebo várias mensagens de congratulação e apoio pelo que temos feito. Mas quem deve ser ouvido sobre a nova divisão e quem está à frente dela, são os empresários.
Redução em taxas e licenças e IMI e IMT
A Câmara Municipal passou a isentar as empresas, reduzindo-lhe impostos e taxas e licenças apenas em situações de investimento. Um contributo que os empresários passaram a utilizar e cujo contributo não tem impacto declarado nas receitas municipais por as reduções serem feitas a montante, antes de se orçamentarem na receita municipal.
GA! – Valeu a pena instituir o programa de incentivos fiscais conhecido por Projecto Económico de Interesse Municipal – PEIM?
RC – Os Projectos de Económico de Interesse Municipal – valem sempre a pena por si e pelo que representam para as empresas. É um sinal que o Município reconhece nas empresas um parceiro para o desenvolvimento e promoção de Guimarães. Primeiro pela redução de taxas e licenças – para quem obedecer aos critérios do seu regulamento – tem logo 50% de redução nas taxas e licenças municipais. Em segundo, na questão dos impostos – que são receita municipal – IMI e IMT podem atingir reduções da ordem dos 70 a 90%.
GA! – Em números, isso traduz-se em que ordem de benefícios?
RC – O IMI pode representar para cada empresa uma redução de dois ou três mil euros anuais. O IMT – dependendo do valor da escritura – de umas centenas largas de euros. Cada caso é um caso. A principal vantagem destas reduções – para além dos números – é que estes benefícios aproximaram as empresas do Município. Percebe-se que há uma relação diferente por causa deste instrumento financeiro. Há quem não aproveite estas vantagens por razões diversas. O tempo do empresário é diferente, do tempo dos académicos e dos políticos… É tudo para ontem e tudo tem de ser muito rápido, senão perdem negócios e perdem clientes. E nós temos de ser capazes de responder a esta nova realidade.
GA! – Qual tem sido o impacto destas reduções nas receitas municipais?
RC – Como os impostos têm vindo a subir em termos de volume, acabamos por não ter em conta o impacto desta redução. Podemos contabilizar o que deixamos de receber. Mas eu prefiro antes dizer o que ganhamos com esta redução de receitas municipais. Quando ajudamos a criar emprego, estamos a garantir emprego para mais pessoas, ajudamos a fixar pessoas, porventura a ter mais gente feliz e com condições de poder ajudar a subir a natalidade, logo a rejuvenescer o concelho. Portanto, prefiro ver e medir o impacto na sociedade destes apoios e destas medidas do que medir o impacto da redução de impostos. Em 2013, tinha-mos uma taxa de desemprego de 13,5% hoje é de 6,5% para esta baixa contribuíram a conjuntura mundial, as políticas do governo e do Município numa conjugação de factores e harmonia perfeitas.
GA! – Como é que a Câmara controla estes benefícios?
RC – Todos os anos há um relatório que vai à Assembleia Municipal com os benefícios dados às empresas.
Guimarães de hoje aos olhos do vereador
Ricardo Costa tem convicções e tem opiniões. Não mete a cabeça na areia e gosta de responder a todos os desafios. Diz o que pensa sobre a relação Município e a Universidade do Minho e a falta ou não de investimento privado estrangeiro.
GA! – Que retrato tem do Guimarães, de hoje… económico, tecnológico ou digital…
RC – Não podemos ter duas realidades porque o problema é primeiro do país. Onde tudo começa é na escola… uma criança nasce quase com um telemóvel na mão. Quando vai para a escola, recebe um livro, abre-o e carrega numa página a ver se a página muda de sítio porque num telemóvel, num iPad ou num android qualquer, pondo o dedo, é isso que faz. A seguir, percebendo que não muda a página, fecha o livro… Uso este termo de comparação porquê? É muito desmotivador, uma criança nascida já numa era tecnológica, vá ou não para a escola, que experimentou antes, em casa, um telemóvel, com acesso a uma rede de dados aberto, com um nível tecnológico já avançado, e quando chega à escola parece que andou para trás 30 anos. Não tem esta noção porque não sabia como era lá atrás. Mas nós, responsáveis políticos, temos de ser indutores do que deve ser a educação. E o que eu acho é que as nossas escolas não estão preparadas para o século XXI ou XXII. Uma criança quando sai de casa tem tudo à mão de semear e quando chega a uma escola tem um livro que lhe dão e não meios para o desenvolvimento tecnológico que possam motivar uma criança a aprender e a estudar. Isto deve ser repensado… mais pelas tecnologias que tem de utilizar. Eu sei que em Guimarães até temos escolas com quadros interactivos com um nível de desenvolvimento importante mas isto é um problema do país… Temos de apostar na base e a base é a educação. A tendência já não é a do mono produto, tudo gira à volta do produto e do serviço, é isso que lhe dá valor acrescentado. Na têxtil, começa a perceber-se melhor a internet das coisas.
GA! – A política de captação de investimentos, de fora do território, motiva alguma polémica e discussão. O que faz ou não Guimarães?
RC – A nossa oposição usa a demagogia pura: utiliza o que fazem os outros concelhos quando lhe dá jeito; e também não usa quando não lhe dá jeito. Um exemplo: a empresa Mundifios ia para Famalicão e aqui d’el rei fez-se um alarido quando deu jeito. Agora que a Mundifios fica em Guimarães e já não vai para Famalicão fica queda e muda. Mas vejamos, este pequeno balanço, sobre o investimento estrangeiro: a Armatis, instalou na Avenida Conde de Margaride, um contact-center onde empregou 400 pessoas. Outro exemplo, vem da ACR Europa um grupo brasileiro que fez um investimento de 13 milhões de euros. Contudo, há um dado que nos separa de outros concelhos, que é o da dependência – em volume de negócios e empregabilidade – desse concelho em relação às empresas que aqui investem. Nós, em Guimarães, temos uma dependência de apenas 6% em relação às empresas internacionais. Em Famalicão, essa dependência é de 40% e estamos a falar de uma empresa apenas. Claro que Guimarães tem cá grupos internacionais, não com a expressão da Bosch, em Braga, ou da Continental/Mabor, em Famalicão. Preferencialmente, a dependência do concelho dessas empresas deve ser variável (de muitas empresas) e não exclusiva (de uma ou duas empresas). O risco que se tem, quando algo corre mal, é menor se a nossa dependência não é única mas dispersa. Guimarães tem uma diversificação de tipos de negócio significativo, desde a cutelaria, aos têxteis, calçado, à investigação – o Instituto Cidade de Guimarães vai começar a sua obra, agora em Outubro, de 3,5 milhões de euros de investimento numa candidatura de 100 milhões de euros, apoiada pelo Horizonte 2020. Vamos ter mais de 200 investigadores a produzir conhecimento – logo significa captação de investimento e de captação de propriedade intelectual internacional cuja mais valia favorecerá, por certo, o tecido económico.
GA! – Mas há uma estratégia?
RC – Quando vamos com ou à AICEP, quando vamos a feiras internacionais onde estão muitas das nossas empresas, ou quando marcamos presença nas plataformas digitais que a AICEP disponibiliza, nesses contactos que fazemos apresentamos um dossier mostrando o que Guimarães tem, uma espécie de guião de investimento municipal, “vendendo” e apresentando Guimarães com aquilo que somos.
GA! – Há projectos que podem mostrar que Guimarães é preferido por quem investe?
RC – A Câmara recebeu propostas, de duas empresas tecnológicas, que mostram intenção de investimento e criação de emprego qualificado – com 100 engenheiros. São empresas internacionais que percebem que há aqui um potencial de formação com a escola de Engenharia da Universidade do Minho e querem instalar-se por aqui.
GA! – Como vê a velocidade de decisão da Câmara em relação às solicitações dos empresários?
RC – É bom que se diga que, do ponto de vista do licenciamento, passamos do 8 para o 80. Ou seja, este aumento de pedidos e respostas provocou um boom no serviço, daí que hajam alguns atrasos. Não podemos ignorar esta realidade e a Câmara vai fazer alguma coisa para redobrar as respostas que tem de dar, de forma mais ágil, satisfazendo a necessidade de os empresários e promotores terem uma resposta mais célere aos seus pedidos. Dada a minha proximidade com os empresários, é natural que sinta um feedback sobre esta situação. E ouça as suas queixas. Por exemplo, no que toca aos PEIM’s – Projectos de Investimento de Interesse Municipal – há uma resposta quase imediata, pois estão em causa cerca de 140 milhões de euros de investimento.
GA! – Qual é a articulação que faz com o vereador do Urbanismo?
RC – Sempre que entra um PEIM há uma apreciação conjunta entre os técnicos do Urbanismo e da Divisão de Desenvolvimento Económico sobre o enquadramento do projecto. É uma primeira seriação para ver a sua viabilidade. E quando há viabilidade segue para a reunião de Câmara para aprovação. Há uma articulação perfeita com o vereador do Urbanismo.
GA! – Guimarães não tem usado as Câmaras de Comércio e Indústria que marcam as relações com países estrangeiros e que são dinamizadoras de alguma cooperação e negócios. Porquê?
RC – Temos usado e certamente não temos divulgado. Já visitei a Câmara de Comércio LusoCanadiana, inglesa, francesa. Com o México, fizemo-la a nível da Embaixada tal como com a Colômbia.
GA! – E com que resultados?
RC – Não os podemos medir no imediato. Mas substantivamente há um ou outro investimento que vai chegando.
I9G à espera da atenção do governo
Concebido para ser um projecto de inovação e desenvolvimento empresarial, o I9G foi apresentado, em Fevereiro, pela Câmara com a presença do Ministro da Economia. Depois disso, não mais se ouviu falar do que seria o projecto que abriria as portas a uma Academia Industrial e que também tinha sido concebido para amortecer os efeitos de uma nova crise no Vale do Ave.
GA! – O I9G é um projecto para avançar, está parado?
RC – Os empresários que subscreveram o memorando de entendimento com o Ministro da Economia, valorizaram o I9G no momento e no acto mas eu acho que o Governo não percebeu ainda o quanto este projecto podia acrescentar e diferenciar à economia de Guimarães e do país. Porque é necessário ter projectos multiplicadores na área económica e com um objectivo claro na defesa das marcas e patentes, da propriedade intelectual, da diferenciação, da requalificação e reconversão de recursos humanos. No futuro, os problemas e desafios passarão pela requalificação dos recursos humanos das empresas e aproveitamento dos desempregados tornando-os de novo activos. O novo paradigma industrial da chamada indústria 4.0 pela via da transformação digital e da inteligência artificial vai colocar muitos desafios às empresas. E é preciso desde já fazer um diagnóstico das ameaças e oportunidades, de cada empresa, de modo a preparar o tecido económico para o impacto desta mudança de paradigma que já se faz sentir. Guimarães pode dar cartas neste domínio e nesta fase importante da economia portuguesa. E ajudar as empresas a enfrentar esta nova realidade. O diagnóstico tem de deixar claro quais os sectores onde devemos intervir, seja nos produtos e processos que terão de mudar para manter a competitividade da empresa, seja na formação e requalificação de recursos humanos activos ou no desemprego, de modo a operar a transformação digital da indústria. Mas é necessário ir mais longe, percebendo que tipo de pessoas temos no desemprego e se com formação se podem requalificar em níveis que permitam uma empregabilidade mais alta. A ideia deste I9G é criar uma academia para a indústria, um palco comum de articulação entre centros de ciência e conhecimento e sector produtivo, de modo a ter uma programa de formação e de requalificação de pessoas constante e que facilmente fossem recrutadas pelas empresas. Um exemplo: precisamos de engenheiros têxteis e temos engenheiros químicos desempregados. Ora, a coluna dorsal de conhecimento de um engenheiro é muito igual na Universidade e com uma formação requalificadora podemos reconverter este recurso humano para o tirar do desemprego, valorizar e pagar melhores salários. Este I9G para além de conceber e tratar de projectos de inovação, de criação de marcas e patentes, investigação e inteligência artificial – que sustentam a competitividade das nossas empresas – faz também formação e requalificação de recursos humanos. Tudo isto debaixo do chapéu do “Guimarães Marca” cujas empresas formariam o dínamo deste projecto com efeito multiplicador nas restantes empresas do concelho.
GA! – O que tem dado ou permitido a parceria e a relação com a Universidade do Minho, sobretudo no contexto económico?
RC – A parceria com a Universidade do Minho – e os seus centros de conhecimento associados – é fundamental para além de relevante, num contexto de afirmação de Guimarães como cidade tecnológica e de conhecimento, os desafios mais próximos que se nos colocam como cidade. E também o foi neste projecto I9G. Quer o Reitor quer o vice-Reitor envolveram-se neste projecto, o que é sinal da sua importância. A UM e o Município andam de mãos dadas já há bastante tempo e faz todo o sentido que assim continue. A investigação e a inovação que a UM pode trazer ao território permite revelar e relevar a região e ajudar as empresas a enfrentar os desafios do futuro, que são os de acrescentar valor e diferenciar na gestão, no produto, no marketing. Costumo citar algo que li que é “a falta de inovação constante é sinal de extinção eminente”. Faz sentido inovar constantemente porque a qualidade hoje é um factor obrigatório e não uma vantagem competitiva. Ou se tem ou está-se fora do mercado.
© 2019 Guimarães, agora!