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Domingo, Novembro 24, 2024
Mariana Silva
Mariana Silva
40 anos, reside em Guimarães, licenciou-se em Ensino de Português na Universidade do Minho e é responsável, no Conselho Nacional e na Comissão Executiva do Partido Ecologista Os Verdes, pela região Norte.

“Vai-te ganho, que me dás perda”

Na segunda-feira, dia 5 de junho, o mundo celebrou o dia do Ambiente e na quinta-feira, dia 8 de junho foi dia de celebrar os Oceanos.

No dia do Ambiente celebramos também os oceanos e no dia dos oceanos celebramos igualmente a biodiversidade, a qualidade do ar, a qualidade da água e todos os factores que permitem que os oceanos sejam saudáveis e isso é também da responsabilidade do Ambiente.

Muitas são as metas e as políticas que se impõe a nível Internacional e Nacional para que se possa garantir que a Natureza, os ecossistemas, terrestres ou marítimos, sejam protegidos e conservados.

Em Portugal o Governo anunciou que pretende, até 2030, reduzir as emissões de gases com efeito de estufa em 50% em comparação com 2005 e ser neutro em carbono até 2050.

Para atingir estas metas, nascem como cogumelos projetos denominados de “verdes”.

O Lobo-Ibérico, que é uma espécie protegida, continuará a ser ameaçado pela destruição da vegetação nativa.

O problema é que, em muitos casos, se aplica como uma luva o provérbio popular, “vai-te ganho, que me dás perda”. Veja-se a exploração de lítio em Boticas, em que a destruição da biodiversidade local será avassaladora, práticas sustentáveis e reconhecidas pela FAO na agricultura vão ser destruídas, o Lobo-Ibérico, que é uma espécie protegida, continuará a ser ameaçado pela destruição da vegetação nativa e a construção de grandes infraestruturas necessárias a esta indústria, a qualidade da água dos rios e ribeiras locais estará em causa tanto na sua quantidade como na sua qualidade.

Não nos calaremos enquanto, em nome da defesa do ambiente se praticarem atentados ambientais como este. Como sabemos Boticas, Montalegre, esses paraísos para onde fugimos quando procuramos paz e comunhão com a Natureza, ficam lá longe, onde se fecharam as escolas, os centros de saúde, onde os transportes públicos são escassos e a população é envelhecida, por isso, agitar a bandeira do desenvolvimento pedir a estes territórios que “aceitem” a exploração desenfreada dos seus recursos naturais é o frequente.

Precisamos de continuar a viver, precisamos de deixar um Planeta melhor para as futuras gerações, e isso justifica o pedido para que aquelas populações sejam compreensivas, com a promessa de que tudo será recuperado no futuro. Promessas que, habitualmente, caem em “saco roto”, como bem conhecem as populações de tantos outros coutos mineiros, mas estas populações nunca baixaram os braços pois sabem que o seu mel biológico e permeado nunca mais será o mesmo, que os solos férteis deixarão de o ser, que as suas águas cristalinas terão que ser tratadas em estruturas para que possam ser consumidas. O Ambiente que hoje é reconhecido nunca mais será o mesmo.

Por cá todos fazemos figas para que Guimarães fique bem classificada no concurso da Capital Verde Europeia, para que ganhe o título.

O problema, a contradição está em que, poucos dias depois de submetida a candidatura, vem o IGAMAOT, estrutura de defesa do ambiente e do ordenamento do território, colocar em questão a utilização de centenas de terrenos classificados como Reserva Agrícola Nacional para a construção de uma estrada que apenas promete poupar uns minutos na circulação do trânsito até ao Avepark.

No processo de alteração ao PDM ficamos a saber que a intenção é expandir a área de solo para construção, com a justificação de que se não temos habitação nem indústria é por limitação de zonas para construção e é preciso resolver este problema. Diz-nos, muito pesaroso, o senhor Presidente da Câmara que as regras em Guimarães são demasiado exigentes, por exemplo, quando nos confrontamos com o vizinho município de Fafe.

Espaço para construir não falta. Reocupem-se unidades industriais encerradas e em ruínas. Reabilitem-se edifícios habitacionais devolutos. Reconvertam-se construções existentes. Impeça-se a especulação. Assim teremos capacidade para responder aos anseios dos nossos concidadãos. Se, depois disso, for ainda preciso mais solo de construção, falaremos.

Em todos os discursos do senhor Presidente tudo em Guimarães é excecional, é único e isso é que marca a excelência do nosso concelho, mas agora que se diz que estamos a lutar para sermos reconhecidos como um território ecológico e sustentável, para ceder aos interesses do negócio imobiliários, já temos de ser como os outros.

Cá está uma política cansada, sem criatividade nem perspetiva de futuro, uma política que afinal quer ser igual a todos os outros, mas com as “medalhas” ao peito.

© 2023 Guimarães, agora!


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